Opinião - Trote universitário: cultura de silêncio e violência
"Eu não quero vingança, não tenho raiva. Eu só quero uma universidade melhor". A frase demonstra um anseio coletivo por justiça e paz. Ela é parte de um depoimento dado a CPI que investiga trotes em universidades paulistas, que só existe porque contou com a coragem de jovens denunciantes dignos de admiração. Esta CPI foi aberta após a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo receber denúncias de estupros durante trotes na FMUSP. Nos depoimentos a CPI, foram levantados inúmeros casos de racismo, homofobia, humilhações, desvios e agressões vergonhosas. A comissão já entregou um relatório conclusivo parcial em 26/2. Aproveito para destacar o excelente trabalho do deputado Adriano Diogo como presidente da CPI.
A riqueza do conteúdo da CPI tem o mérito de refutar dois fortes argumentos a favor dos trotes. O primeiro é o controverso rito de passagem. Usado em sociedades tradicionais para integrar o indivíduo ao grupo, o rito deixa marcas e requer silêncio do ingressante como se confiassem a ele um segredo que o torna um igual, ao passo que o trote universitário estabelece, além de marcas e silêncio, a desigualdade entre bixo e veterano. Afinal, de acordo com muitos relatos, o trote não termina no início das aulas, mas perdura, com espasmos de continuidade, até a vida profissional do estudante. O segundo argumento é a tradição, premissa menos que primária, pois, não faz jus a capacidade intelectual de jovens inseridos em um ambiente que pressupõe reflexão. Para aqueles que não se dobram ocorre o suicídio social, que serve para discriminar o rebelde nas relações interpessoais no ambiente acadêmico e, muitas vezes, fora dele. O calouro pode não ser autorizado a participar de atividades promovidas por veteranos e, por vezes, recebe ameaças de deméritos profissionais futuros.
Para a indignação geral dos ouvintes, a prática do deboche foi assimilada por muitas instituições de ensino superior, o que explica a impunidade e as relações absurdas de poder denunciadas por estudantes, professores e diretores. A percepção é de que há liberdade para que se cometam crimes tipificados nos códigos Penal e Civil porque, simplesmente, instituições e alunos não compreendem que estão cometendo crimes. Assim, naturaliza-se a violência como se fosse uma brincadeira inocente entre jovens. No futuro, estes estudantes serão nossos profissionais da medicina, do direito, da agronomia, engenharia, arquitetura, veterinária, entre outras áreas, com possíveis reflexos negativos para a sociedade.
No entanto, a dimensão cultural do trote é a mais importante. Quem ouviu os depoimentos tem clara noção de que o problema não será resolvido a canetadas. Não podemos negar o efeito educativo da punição, mas proibir não é consenso nem entre os estudantes, que não podem ser responsabilizados pelas atitudes de grupos violentos. É importante atentarmos para iniciativas já existentes de recepções solidárias. Há anos o trote cidadão é incentivado por entidades estudantis como a UNE e a UBES. Mas, ao longo do tempo, devemos almejar a extinção da cultura do trote, assim como toda a terminologia a ele relacionada. Para isso, será preciso um esforço constante de fiscalização e cumprimento da Lei, além do diálogo franco entre todos os grupos ligados a educação e aos direitos humanos. Se estes níveis de violência se mantiverem, a criminalização do trote será inevitável. Aos pais e alunos resta a atenção redobrada, pois, os traumas alteram profundamente a vida das vítimas.
*Sarah Munhoz é enfermeira, deputada estadual (PCdoB) e vice-presidente da CPI das Universidades.
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