Palestra sobre estresse tóxico em crianças encerra 5º Seminário Esporte, Atividade Física e Saúde


16/04/2015 18:18 | Da Redação

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José Martins Filho, ex-reitor e professor titular emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Academia Brasileira de Pediatria<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2015/fg169347.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 5º Seminário Esporte, Atividade Física e Saúde<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2015/fg169349.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Martins Filho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2015/fg169350.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"O homem que sou é por causa da criança que fui". Com esta frase do escritor português José Saramago, José Martins Filho sintetizou sua fala no encerramento do 5º Seminário Esporte, Atividade Física e Saúde, realizado de 13 a 16 de abril na Assembleia Legislativa, por iniciativa do deputado Enio Tatto (PT).

Ex-reitor e professor titular emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Academia Brasileira de Pediatria, José Martins Filho pesquisa o estresse tóxico infantil e demonstra que toda vez que uma criança é submetida a sofrimento emocional ou físico por tempo excessivo, produz substâncias neurotóxicas que podem ter graves consequências por toda a vida.

A atividade constante de resposta ao estresse na criança, quando não acolhida por um adulto, leva à produção de lesões semelhantes às causadas por traumas físicos. O estresse, explica o professor, é a condição na qual o indivíduo vivencia desafios ao bem-estar físico ou emocional que superam sua capacidade de enfrentamento. Na situação de estresse, a suprarrenal produz substâncias para a defesa, principalmente a adrenalina. Quando a situação estressante é rapidamente resolvida, o teor de adrenalina volta ao normal; quando não, a adrenalina continua sendo produzida, junto com outras substâncias, como o cortisol. E isso pode causar lesões cerebrais.

A criança submetida a intenso sofrimento físico e emocional produz a proteína S100B, que pode ser detectada por meio de exame de sangue. Estudos mostram que crianças com traumas emocionais têm alta dosagem desta proteína, tanto quanto aquelas que sofreram traumas físicos.

O estresse crônico pode ter consequências gravíssimas, chegando à redução do volume cerebral. Depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, psicoses, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares, também podem decorrer do estresse prolongado durante a infância.

Segundo José Martins Filho, até pouco tempo atrás tínhamos conceitos educacionais arcaicos, como "deixar a criança chorar". "Isso é um crime", avalia o professor. A violência psicossocial, frisa, acontece em todas as classes sociais e diz respeito à falta de atenção, à dificuldade de demonstrar afeto e de acolher a criança. O maior problema da sociedade atual, afirma, é a "terceirização" da infância: logo nos primeiros meses, crianças são colocadas em creches ou cuidadas por babás que, embora possam exercer com eficiência os cuidados básicos, como alimentação e higiene, não proporcionam à criança o vínculo afetivo necessário ao seu desenvolvimento emocional saudável.

Os mil primeiros dias de vida marcam uma pessoa por toda a existência, diz o pediatra. Por isso, defende o prolongamento da licença maternidade por, no mínimo um ano, e enfatiza a importância da gravidez responsável. O professor posiciona-se contrário à redução da maioridade penal: "isso não resolve nada. Esses adolescentes são vítimas de uma sociedade que negligencia suas crianças", enfatiza. A solução é melhorar as relações psicossociais com as crianças, responsabilizando-se mais por elas.

Os esportes competitivos de alta performance, explica o professor, podem levar ao aumento da produção da S100B. E os profissionais que trabalham com o esporte precisam estar atentos a isso. O professor de educação física tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, na medida em que é o profissional que está mais próximo e em contato com a criança, podendo ser um instrumento importante na redução do estresse.

Após a palestra, houve o encerramento do seminário com a entrega de certificados aos participantes.

alesp