Praticamente desconhecido há 30 anos, o diabetes tipo 1 acomete crianças e jovens e pode levar à cegueira e morte precoce. Isso porque o único tratamento para esse tipo de diabetes é a insulina, que deve ser aplicada de modo constante e rotineiro, diferentemente do tipo 2, que tem como alternativa a medicação oral. Essa insulina teria, portanto, de ser da melhor qualidade, entretanto a realidade não é essa. Esse foi o quadro apresentado por médicos endocrinologistas, presidentes de associações de diabetes juvenil e mães de crianças portadoras dessa doença. Eles participaram da audiência ocorrida nesta quarta-feira, 20/5, por iniciativa do deputado Gil Lancaster (DEM), autor do PL 415/2015, que institui a Semana Estadual do Diabetes 1. Pacientes do SUS são os mais prejudicados O endocrinologista Fladlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Assistência de Diabético (Anad) explicou que pelo menos 5% do total de 13 milhões de portadores de diabetes no Brasil, ou seja, de 800 mil a 1 milhão de pessoas, têm o tipo 1. Segundo ele, a insulina regular humana, concedida gratuitamente aos pacientes do SUS, junto com os insumos - seringas, canetas, ampolas, tiras - por força da Lei 11.347/2006, deve ser substituída por uma melhor, a insulina rápida. "Dedico-me a essa causa", confessou Fraige Filho. O deputado Gil Lancaster lembrou que assumiu, como compromisso deste seu primeiro mandato, a apresentação de propostas que chamem a atenção das autoridades para esse tema. Disse que o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking dos países com maior número de portadores de diabetes em geral. Isso representaria 13 milhões de brasileiros, "entretanto, não se sabe qual o número real de pessoas com diabetes 1", disse. Obscurantismo total Carlos José da Costa lembrou que há 35 anos, quando surgiu a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), a qual preside, era uma época de "obscurantismo total" sobre o diabetes tipo 1. Portanto, pais de crianças e jovens com diabetes sentiram a necessidade de ter mais informações e mais consciência sobre a educação em diabetes. "Esse tipo de doença, quando controlado, permite que o paciente tenha uma vida normal", afirmou. O médico endocrinologista Luis Eduardo Calliari, coordenador do Departamento de Diabetes no Jovem na Sociedade Brasileira de Diabetes, alertou para a necessidade de se ministrar ao paciente a dose exata de insulina, sob risco de se abaixar ou aumentar demais a taxa glicêmica. "Quando o paciente acorda e a cada refeição deve ser feito o "teste da ponta de dedo" (teste de sangue para ver a taxa glicêmica) para definir a dose de insulina. Isso é uma rotina exaustiva a que são submetidos os pais desses pacientes", falou. Ele explicou que, se esses cuidados não forem tomados, aos 20 anos, o paciente terá complicações nos olhos, rins e nervos, com perda de sensibilidade, além de pé diabético e risco de amputação. Para que esse riscos sejam minimizados, Karla Melo, endocrinologista pela Faculdade de Medicina da USP, preconizou o atendimento por equipes multidisciplinares, com prioridade para os doentes crônicos. O deputado Márcio Camargo (PSC), portador de diabetes 1 há 27 anos, contou que durante a campanha eleitoral "ficou descompensado". Entretanto, passadas as eleições, controlou sua taxa glicêmica. "Eu consigo comprar uma insulina de qualidade, mas precisamos trabalhar para que os 80% dos pacientes atendidos pelo SUS também tenham acesso a ela". No encerramento da audiência, o deputado Gil Lancaster assinou mais quatro PLs que beneficiam portadores de diabetes tipo 1. Um deles é sobre atendimento diferenciado para esses pacientes na rede estadual de saúde.