Frente Parlamentar busca padrão de tratamento para diabetes no Estado de São Paulo

Estimativas apontam 12 milhões de brasileiros como portadores do diabetes tipo II
02/07/2015 16:50 | Da Redação: Keiko Bailone Fotos: Vera Massaro

Compartilhar:

Silvio Valente, Carlos José, Fadlo Fraige Filho, Sergio Müller, Fernando Cury, Fernando Padula, Marilza Rudge, Karla Melo e Roberto Andrade <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2015/fg172660.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fernando Cury, coordenador da frente <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2015/fg172662.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presentes vereadores, prefeitos, representantes de órgãos públicos, do Judiciário e de organizações da sociedade civil <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2015/fg172663.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fernando Cury , ao microfone, declara que pretende realizar reuniões regionais, locais e deliberativas com os parlamentares<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2015/fg172664.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao reunir parlamentares, advogados, promotores de Justiça, representantes das secretarias estaduais de Saúde e Educação, prefeitos e vereadores, além de especialistas de associações organizadas, a Frente Parlamentar de Combate ao Diabetes, lançada nesta segunda-feira, 29/6, segue em busca de uma norma que norteie o tratamento dessa doença no Estado.

O idealizador e coordenador da Frente, deputado Fernando Cury (PPS), adiantou que a ideia, num primeiro momento, é "esmiuçar informações, promover um debate imparcial e responsável entre os todos que apoiam essa Frente". Portanto, estão previstas reuniões setoriais com as associações, reuniões locais com os gestores municipais e reuniões deliberativas com os 39 parlamentares que apoiam essa causa.

Cury justificou o porquê de levantar a bandeira de combate ao diabetes, apresentando sua irmã, Jamila Cury, mãe de Beatriz, hoje com sete anos, diagnosticada com diabetes tipo II aos quatro. Jamila deu seu testemunho de como é lidar com essa doença no dia a dia: "entender o diabetes, aprender a controlar o carboidrato, saber que produto natural também pode ter índice glicêmico alto, picar a criança sete ou oito vezes ao dia com insulina; não é fácil", resumiu.

Doença custosa

No ato de lançamento da Frente, a diversidade de temas abordados pelos palestrantes deu uma mostra da complexidade que envolve a doença, ainda sem cura. Praticamente desconhecido há 65 anos, sabe-se hoje que existem dois tipos de diabetes: o primeiro é o tipo I, que acomete principalmente crianças e adolescentes " estima-se que 5% dessa faixa etária desenvolva essa doença. Autoimune, ou seja, o próprio organismo responde pela fabricação de anticorpos, o maior perigo reside no fato de essa doença ser silenciosa.

"Vai de 7 a 10 anos sem perceber; quando aparece, já apresenta 50% das complicações do diagnóstico inicial; o único tratamento, neste caso, é a insulina", explicou o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad).

O tipo II correspondente a 90% dos casos no País, e é responsável por 40% de todas as doenças cardiovasculares, 50% das hemodiálises do país, além de representar 15% de todo o orçamento do Sistema Único de Saúde.

"É uma doença complicada e com gastos", resumiu o endocrinologista, ao alertar para o fato de que o diabetes causa complicações graves. Apontou a cegueira, insuficiência renal, neuropatias e amputações. Segundo Fraige Filho, quase 80% dos portadores de diabetes tipo II dependem do SUS e, por isso mesmo, há muito pelo que lutar ainda: "substituição das insulinas atualmente fornecidas, regularidade na distribuição de insumos, isenção no Imposto de Renda", exemplificou.

Mortalidade perinatal

Ao abordar o tema diabetes gestacional, Marilza Cunha Rudge, vice-reitora da Unesp, explicou que o pâncreas de uma gestante fica exposto a muito estresse e produz grande volume de insulina. Nessa fase, é necessário um controle glicêmico rigoroso, sob risco de o bebê crescer com muito açúcar e, assim, engrossar a estatística da mortalidade perinatal.

O custo desse controle é barato, avaliou Marilza Rudge, ao esclarecer que basta o uso da insulina, "o mais simples possível", já oferecida pelo SUS. "O que falta é apoio nutricional", disse a professora titular de Obstetrícia. Ela observou que o diabetes gestacional é uma "janela de oportunidades" para a mulher grávida, porque ela pode se cuidar para evitar o tipo II.

Controle glicêmico e judicialização

Durante a cerimônia, falaram também Karla Melo, do Departamento de Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Diabetes; Carlos José, presidente da Associação de Diabetes Juvenil; Sílvio Eduardo Valente, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP; Roberto de Campos Andrade, coordenador do Centro Operacional de Direitos do Ministério Público de São Paulo; Fernando Padula e Sérgio Müller, respectivamente chefe de gabinete da secretaria estadual de Educação e coordenador de Ciência e Tecnologia da secretaria estadual da Saúde.

Dentro do tema "Situação Atual do Diabetes e Suas Políticas Públicas no Brasil", Karla Melo explicou sobre como é feito atualmente o tratamento do diabetes tipo I e II, e observou que, no Brasil, o percentual de controle glicêmico está acima do recomendado no mundo. Nos Estados Unidos, esse índice é menor que 7%. No Brasil, situa-se em 8%. Este problema, garantiu Melo, atinge principalmente a classe social mais necessitada, que depende do SUS. Os mais ricos têm um controle glicêmico mais eficaz. Da mesma forma, no que se refere à insulina de qualidade diferenciada, os mais ricos têm acesso a uma insulina melhor. O resultado desse controle inadequado, alertou Karla Melo, pode ser a amputação e mesmo o abreviamento da vida útil de um portador de diabetes.

Silvio Eduardo Valente falou sobre as ações impetradas pelos pacientes junto à Justiça. Informou que 87% das ações com pedidos de tutela são providas pelos juízes "e nem poderia ser diferente, pois há carência nesse setor". Estimou que as ações judiciais já oneram os cofres públicos em um bilhão de reais, pois em 2014, representavam R$ 547 milhões. "É necessário tirar essa responsabilidade do Judiciário, com a elaboração de leis que protejam o direito fundamental à saúde de qualquer cidadão", apelou.

Ao se referir às ações judiciais, Roberto de Campos Andrade, que discorreu sobre o papel do Ministério Público na Defesa do Interesse Coletivo, afirmou que a proteção do direito à vida dá à judicialização um número expressivo, "mas este deve ser o último recurso". Reiterou que o Ministério Público analisa essas ações com critério, sem fazer Justiça a qualquer preço, pois poderia adotar um sistema mais prejudicial do que benéfico à população.

Carlos José, presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), enalteceu a importância da informação e formação de pais e professores, além da capacitação de equipe multiprofissional para lidar com o portador de diabetes.

Fernando Padula informou que os alunos portadores de diabetes da rede pública de ensino terão cardápio especial.

Sérgio Müller assinalou que não há como fechar a conta de quanto custa um portador de diabetes para o Estado, pois essa doença aparece associada à hipertensão e outras patologias, como osteoporose e transplante de pâncreas. Disse que a tarefa de combate ao diabetes depende não só dos órgãos públicos, mas da sociedade civil como um todo, pois a prevenção fica mais barato que o tratamento.

Estiveram presentes ao ato de lançamento desta Frente Parlamentar os deputados Márcio Camargo (PSC) e Delegado Olim (PP).

alesp