Santas casas operam com baixa taxa de ocupação dos leitos, diz pesquisador

Para Paulo Carrara, hospitais devem se adequar a novo perfil epidemiológico
29/09/2015 22:20 | Fernando Caldas - Foto: José Antônio Teixeira

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Presidente Ed Thomas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2015/fg176407.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Paulo Carrara<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2015/fg176424.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputados e público na reunião da CPI<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2015/fg176445.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Santas Casas, presidida pelo deputado Ed Thomas (PSB), ouviu nesta terça-feira, 28/9, o professor Paulo Carrara, presidente do Centro de Estudos Leopoldo Ayrosa Galvão (Cealag), ligado ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Carrara foi convidado pela CPI para falar sobre o Programa de Apoio às Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, desenvolvido pelo Cealag desde 2003, com o propósito de melhorar a gestão administrativa e o atendimento dessas entidades em diversas cidades do Estado de São Paulo.

O trabalho conjunto de gestores e consultores envolvidos no programa visa modernizar os critérios administrativos e financeiros, assistenciais, de procedimentos do corpo clínico e de enfermagem e de atuação multiprofissional. Periodicamente, os estabelecimentos participantes do programa são auditados pelo CQH " Compromisso com a Qualidade Hospitalar e podem receber certificações. Segundo Paulo Carrara, além da capacitação e transferência de tecnologia de gestão, o programa fomenta a troca de experiências por meio da criação de redes de gestores e profissionais mobilizados.



Taxa ocupação baixa

Do trabalho da Cealag resultaram alguns diagnósticos importantes para entender os problemas vividos por essas instituições. O primeiro deles é a constatação de que a taxa de ocupação dos leitos das santas casas de pequeno e médio porte (até 100 leitos) é muito baixa. No país, a taxa de ocupação dessas entidades é de 49% dos leitos. No Estado de São Paulo, a mesma taxa é de 62%, sendo que os hospitais filantrópicos de pequeno e médio porte apresentam índices ainda menores, inferiores a 50% dos leitos disponíveis.

Os motivos dessa baixa taxa de ocupação estão ligados, segundo Paulo Carrara, a mudanças ocorridas no quadro demográfico e epidemiológico do país nas últimas décadas. A população está envelhecendo, a taxa de natalidade reduzindo e o quadro epidemiológico se transformando por conta dessas mudanças. Hoje, um grande número de doenças crônicas exigem, mais do que propriamente tratamentos pontuais, cuidados contínuos. "Nossos hospitais não atendem a esse novo perfil epidemiológico, pois continuam estruturados em um modelo de atendimento que não funciona mais."

A mudança desse modelo implica, na avaliação do professor, decisões delicadas, mas importantes, como o fechamento de determinados tipos de atendimento existentes nas unidades, como, por exemplo, maternidades e enfermarias de pediatria. Em algumas cidades, a manutenção desses serviços é custosa e a assistência é desqualificada em razão da sua subutilização. "A gestão precisa ser de sistema", adverte Carrara, que entende ser necessário promover uma reorganização da estrutura do atendimento médico-hospitalar a partir do foco da regionalização.

Inspirados em experiências europeias, em particular de Portugal, o Cealag e a Secretaria estadual da Saúde desenvolvem uma experiência piloto nas cidades de Pedregulho e Ipuã, na região de Franca. Trata-se de programa integral de cuidados continuados, que consiste em uma nova modalidade de atendimento voltado a pacientes com perda de capacidade funcional e que necessitem de cuidados de recuperação em regime de internação por um período mais prolongado. As unidades de Pedregulho e Ipuã dispõem de equipe multidisciplinar de profissionais. Psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, médicos, terapeutas ocupacionais e enfermeiros trabalham com os pacientes de forma intensiva e praticam uma medicina diferente do padrão.

Os bons resultados da experiência têm despertado o interesse do Ministério da Saúde, que criou a rede Cuidados Prolongados, e da própria Secretaria estadual da Saúde, que solicitou ao Cealag a elaboração de estudos para apontar outras categorias de serviços médico-hospitalares a serem implantados na rede de atendimento do Estado e o número de leitos necessários para essa finalidade. O estudo está em andamento ainda, mas Carrara adiantou que para implantar uma rede com todas as linhas de cuidados são necessários cerca de 20 mil leitos.

"A ideia de que todos os hospitais tenham o mesmo perfil tem de acabar. É preciso existir serviços regionalizados e hospitais qualificados em diferentes áreas. A situação atual não tem saída. Precisamos de mudanças de regras, investimentos e formas de financiamento", avalia o presidente da Cealag.



Modelo de governança regional

O deputado Carlos Neder (PT) questionou por que os dirigentes da Santa Casa de São Paulo, que passa por grave crise financeira, não solicitou em momento algum o apoio da Cealad. Já o deputado Padre Afonso Lobato (PV) disse que a Secretaria da Saúde não pode mais tratar os pontos isolados, sem ter uma perspectiva da totalidade. Isto é, pensar cada região em seu conjunto e mudar a mentalidade dos gestores dos serviços de saúde nos municípios.

Gil Lancaster (DEM) disse que, se existe desperdício de leitos e profissionais ociosos, há má gestão nas santas casas. "Como fazer uma gestão competente e profissional?", questionou o parlamentar.

Carrara respondeu às questões feitas pelos parlamentares. Disse que a Santa Casa de São Paulo nunca procurou o centro de estudos para buscar apoio. Sobre a regionalização, disse que as unidades hoje existentes não precisam continuar a ser hospitais no mesmo modelo tradicional, mas podem oferecer diferentes tipos de serviços para a comunidade. "Podemos melhorar os modelos de governança regional, juntando os serviços públicos de saúde e as filantrópicas."

Quanto à gestão, o professor disse que os problemas não são apenas de natureza administrativa, ou seja, de reorganização dos processos, das compras e contratos com fornecedores etc. Há que se atentar, sobretudo, para a gestão clínica e aspectos como a padronização das técnicas cirúrgicas. "É preciso trabalhar a assistência de forma regionalizada. A reorganização do conjunto envolve o conceito de regionalização, fundamental para o SUS."

alesp