Irradiação preserva memória e patrimônio cultural
12/11/2015 17:04 | Da Redação*
Parceria celebrada entre a Assembleia e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen-USP) permitiu que, desde agosto deste ano, documentos, sob a guarda do Acervo Histórico, fossem recuperados sem nenhum ônus para a Casa. Livros danificados foram tratados e recuperados pelo Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Instituto, através da tecnologia Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, que extermina organismos responsáveis pela deterioração de documentos.
O professor-doutor Pablo Vasquez, pesquisador e orientador de pós-graduação do Instituto, é o responsável pela linha de pesquisa e aplicação da radiação ionizante para preservação de bens culturais. Vasquez é graduado em engenharia química pela EPUSP, com doutorado em ciências (USP/Washington University-EUA), com pós-doutorado pelo Ipen.
Irradiação a serviço da preservação
O desenvolvimento do sistema de irradiação e do próprio Irradiador Multipropósito de cobalto-60 tipo compacto, projeto nacional inédito, foi realizado com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), com os mesmos critérios do mais conceituado fabricante de irradiadores do mundo, a MDS Nordion Ion Technologies, do Canadá.
A melhor aplicação do processo está na possibilidade de se alcançar um controle da contaminação microbiológica. Isto é, podemos obter a esterilização de um produto, que é a ausência de microorganismos, ou sua desinfestação, que é a redução do número de microorganismos até um nível compatível com sua utilização final.
Dentre as principais aplicações podemos citar a esterilização de produtos médicos e farmacêuticos e de tecidos biológicos para implantes cirúrgicos, aumento do prazo de validade de alguns alimentos, beneficiamento de pedras preciosas, tratamento de efluentes industriais, esgotos domésticos e lodos e controle de disseminação de fungos e insetos eliminando ovos, larvas ou insetos adultos em frutas, sementes, flores e folhas.
A conservação de acervos
A radiação ionizante vem sendo utilizada há cerca de 40 anos em diversos países para desinfetar e conservar bens do patrimônio histórico, artístico e cultural e documentos diversos. Um dos casos de maior repercussão foi a múmia do faraó egípcio Ramsés II, encontrada no final do século 19 e irradiada em Paris, em 1975.
Os métodos tradicionais de controle consistem na fumigação dos acervos e, apesar da eficiência, a aplicação desses gases tem sido cada vez mais restringida e controlada pela elevada toxicidade, inflamabilidade, efeitos cancerígenos, efeito residual, poluição ambiental e prejuízos em algumas propriedades dos materiais tratados.
A esterilização dos materiais com raio gama, além de prolongar a vida dos produtos, dispensa o uso de aditivos, preservativos químicos e fumigações, tornando-se isentos de microorganismos indesejáveis.
No Brasil, o uso da tecnologia de irradiação na área de bens culturais teve início em 2001. O primeiro trabalho de repercussão foi a irradiação, em 2005, de parte do acervo que pertenceu ao Banco Santos que, danificado por uma inundação, começou a se degradar, devido à ação de fungos.
Entenda o procedimento
O cobalto-60 é um metal, e fica imerso em uma piscina com água a 7 metros de profundidade. A água funciona como isolante, fazendo com que o ambiente dentro da máquina não fique exposto às doses inadequadas de radiação, além de ser transparente, o que possibilita refletir o que está no fundo. Somente após a máquina ser ligada, é que as placas de cobalto-60 sobem até a superfície e a irradiação atinge o nível desejado.
O processamento de materiais se dá em sua embalagem final, que pode ser em plástico ou papel, sem necessidade de exposição ao meio ambiente.
O material é colocado dentro de recipientes de alumínio e estes colocados numa esteira, cujo trajeto faz com que eles sejam submetidos à ação de uma fonte radioativa de cobalto-60 durante o tempo fixado para atingir a dose necessária. A radiação atua penetrando o material e atacando o DNA dos insetos ou fungos, causando sua morte celular.
"A eliminação dos microorganismos indesejados não danifica o material tratado", garante Vasquez. O coordenador do Irradiador esclarece ainda que o uso prévio da radiação ionizante protege a saúde dos profissionais que trabalham na restauração de bens culturais, pois impede que fiquem expostos a fungos e microorganismos danosos.
Dentre outras vantagens do tratamento desses acervos pela radiação gama, podemos citar a escala industrial, a alta velocidade, a maior resistência dos materiais irradiados e custos mais baratos.
Utilizações recentes
Um exemplo recente do trabalho realizado pelo CTR com a radiação ionizante no tratamento, recuperação e conservação de documentos, livros antigos, quadros e outros objetos de valor histórico e cultural, consistiu na recuperação de grande parte dos documentos arquivados nos prédios públicos de São Luis do Paraitinga, no interior de São Paulo. Foram recuperados diversos materiais danificados pela enchente que atingiu a cidade histórica em 2010, entre eles prontuários de identificação, contratos e processos de aposentadoria.
Através de uma parceria entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Arquivo Público de São Paulo, os documentos degradados de São Luiz Paraitinga foram encaminhados ao Centro de Tecnologia das Radiações do Ipen, para serem tratados e recuperados no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60.
A radiação ionizante também tratou de livros da Biblioteca da Escola de Comunicação e Artes, do Instituto de Química e do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo O processo também foi aplicado em parte do arquivo da Biblioteca Mario de Andrade, do Centro Cultural São Paulo, assim com em obras de arte do Museu Afro Brasil e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
*Texto baseado em artigo de Mônica Cristina Araújo Lima Horta, gestora da Divisão do Acervo Histórico da Assembleia.
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