Opinião: Homenagem ao mestre Divo Marino


08/01/2016 16:09 | Welson Gasparini*

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Com a morte de Divo Marino, ocorrida no último dia 18 de dezembro, Ribeirão Preto perdeu uma de suas mais importantes referências culturais; eu perdi o meu eterno professor e um grande amigo. Aprendi muito com o Divo, desde quando fui seu aluno no curso normal do "Otoniel Mota" e, confesso, ainda tinha muito para aprender. Divo era um vocacionado para o magistério e para tudo o mais a que se dedicava, porquanto dotado de talentos múltiplos: escritor, caricaturista, pintor, desenhista, advogado, jornalista etc. Também, como vocacionado para a vida pública, ajudou-me muito, como meu secretário municipal da Cultura, idealizando duas das principais obras culturais da minha terceira administração como prefeito de Ribeirão Preto: o Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto) e o Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Nada mais oportuno, acredito, do que homenageá-lo " como pretendo fazer quando do término do atual recesso parlamentar da Alesp " dando a uma escola estadual em Ribeirão Preto a denominação de "Professor Divo Marino", pois, essencialmente " apesar de seus méritos como advogado, escritor, jornalista, pintor e caricaturista " sempre foi um educador.

Nascido em 31 de agosto de 1925, em São Carlos (SP), Divo graduou-se como professor em 1944, na sua cidade natal, e trabalhou em diversas cidades do interior e litoral paulista. Chegou a Ribeirão em 1949, aos 23 anos, para assumir a cadeira de desenho pedagógico no curso normal da escola Otoniel Mota. Lá, ficou por 32 anos, como professor e diretor. E, em Ribeirão Preto, viveu 67 dos seus 90 anos tão bem vividos! Diplomou-se em direito em 1959 e atuou como advogado da área trabalhista em Ribeirão Preto e região. Como jornalista, escreveu para inúmeros jornais (A Cidade, O Diário e o Enfim, entre outros); nos últimos anos, apenas no A Cidade, onde produzia substanciosos artigos para as edições dominicais daquele matutino. Em 1964, foi preso pelo movimento militar e o jornal que havia fundado, A Palavra, fechado.

Dedicado aos livros, à pintura e à família (verdadeiro ídolo da esposa Anice, das filhas Carla e Alena, dos netos e dos genros José Elias e Wallace), Divo viveu grandes alegrias em 2015, inclusive sendo o escritor local homenageado pela Feira do Livro de Ribeirão Preto. Tive oportunidade, aliás, de participar do relançamento da sua obra mais famosa, premiada pela Academia Brasileira de Letras: O Populismo Radiofônico em Ribeirão Preto. Trata-se de um importante relato e uma análise do papel do rádio na história da comunicação de Ribeirão Preto.

Lançado em 1975, o livro foi relançado 40 anos depois, num dos eventos mais importantes do primeiro dia da Feira do Livro de Ribeirão Preto. A solenidade de relançamento foi marcada por um debate com a sua participação, a minha e a dos jornalistas André Luiz Rezende e Antonio Carlos Morandini. Realizado nas dependências do Centro Cultural Palace o evento foi oportunidade para a reflexão sobre o papel fundamental do rádio AM no desenvolvimento da própria comunidade local e regional, bem como sua força na criação de lideranças políticas que se sustentaram pela qualidade das suas propostas.

Ao ensejo, destaquei a importância da obra de Divo Marino como educador, articulista em jornais de Ribeirão Preto e da região, pintor, caricaturista e autor de 12 livros que puderam ser vistos no Marp até o final do último mês de julho, na mostra A Palavra e o Traço.

A morte de Divo representa uma grande perda não apenas para Ribeirão Preto, seus amigos, seus familiares e seus admiradores, mas para a própria cultura brasileira, da qual se tornou, por méritos próprios, um expoente.

*Welson Gasparini é deputado estadual, advogado, ex-prefeito de Ribeirão Preto e ex-aluno de Divo Marino.

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