Audiência pública debate reelaboração do Plano Estadual de Direitos Humanos

Ameaça de retrocessos sociais é preocupação dos participantes
20/04/2016 20:00 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Bruna Sampaio

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Márcia Guerra, Rogerio Sotilli, Márcia Lia e Rildo Marques<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188513.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Participantes da audiência pública<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188514.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Márcia Guerra e Rogerio Sotilli<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188515.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputada Márcia Lia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188516.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Raul Marcelo, Rogerio Sotilli, Carlos Bezerra Jr. e Márcia Lia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188517.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Raul Marcelo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188518.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Rogerio Sotilli e Márcia Lia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2016/fg188519.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais (CDH) realizou na quarta-feira, 20/4, audiência pública para discutir a construção de um Sistema e de um Plano Estadual de Direitos Humanos.

O presidente da CDH, Carlos Bezerra Jr. (PSDB), na abertura dos trabalhos disse que a discussão dos direitos humanos neste momento "se reveste de um simbolismo cem vezes maior perante as ameaças atuais a esses direitos". Disse ainda que essa questão está acima de qualquer disputa político-partidária.

"Hoje vivemos um momento delicado para os direitos humanos, de intolerância e ódio", lamentou a deputada Márcia Lia (PT), proponente da audiência pública. Portanto, é um bom momento para revisar o Plano Estadual de Direitos Humanos, de 1997, que está defasado, segundo ela. A ideia da audiência é começar um grupo de trabalho para isso.

Márcia Lia citou também que a Ouvidoria da Alesp tem recebido um número crescente de denúncias, principalmente em relação aos presídios, como o caso do Centro de Custódia de Limeira, onde "nem um rato merecia viver". A Ouvidoria também tem recebido denúncias de trabalho análogo à escravidão, tráfico de pessoas, desrespeito às mulheres e racismo, disse.

Embora a discussão dos direitos humanos englobe diversas vertentes, há dois grandes desafios no Estado de São Paulo, afirmou Raul Marcelo (PSOL). Um deles é a questão da segurança pública, cujo conceito de "guerra" dá licença para matar, o que acontece principalmente em relação aos jovens negros e pobres da periferia. Outro desafio é a acessibilidade para os deficientes físicos.

Para Marcelo, é preciso estabelecer uma cultura de respeito aos direitos para os agentes públicos para melhor atenderem a população. Ainda saudaram a realização da audiência os deputados José Zico Prado e Marcos Martins, ambos do PT.

Ameaça de retrocesso

Secretário Nacional de Direitos Humanos, do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Rogério Sottili preocupou-se com o momento político atual, onde a democracia e os direitos humanos estão ameaçados pelo retrocesso autoritário. Para ele, isso é um paradoxo, pois o Brasil é referência mundial na área dos direitos humanos, como no combate ao trabalho escravo.

Para Sottili, a melhor resposta a esse momento é a discussão dos direitos humanos com grande participação social, como aconteceu no estabelecimento da terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), lançado em 2010, e que foi precedida de discussões em todo Brasil, o que lhe deu validade e legitimidade. Deste plano, surgiram diversas propostas legislativas de impacto, como a PEC do trabalho escravo e a Comissão Nacional da Verdade.

O secretário falou dos desafios a serem enfrentados, como o desmonte da cultura de violência que permeia historicamente a sociedade brasileira. Por fim, sugeriu algumas medidas, como a garantia do cumprimento das diretrizes com a criação de um órgão específico. Outra sugestão foi envolver as câmaras municipais e a população na elaboração do plano.

Impossibilidade de diálogo

Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Rildo Marques de Oliveira disse que o PNDH-3 gerou resistência de quatro grupos sociais: os militares, por conta das comissões da verdade, a grande mídia e grupos religiosos - notadamente os neopentecostais - e os latifundiários. Desde então, continuou Oliveira, esses grupos se articularam, gerando "o discurso de ódio e raiva, que desaguou agora na sociedade, fazendo com que se perdesse a possibilidade de diálogo".

As violações aos direitos humanos estão no cotidiano social, pois as populações mais carentes são abandonadas no respeito a seus direitos, inclusive pelos órgãos públicos, falou Rildo Oliveira. É preciso, por isso, facilitar o recebimento das denúncias, que hoje passam por muitas instâncias, desestimulando as vítimas.

Do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Márcia Guerra destacou a ameaça da política neoliberal, que pretende uma "esculhambação social dos direitos humanos conquistados historicamente". Estão em risco, inclusive, incisos sociais da Constituição de 1988, e há risco de criminalização dos movimentos sociais, alertou.

A seguir a palavra foi dada a pessoas de movimentos sociais presentes, como representantes dos segmentos LGBTT, de moradia, quilombolas e movimento negro. Eles fizeram denúncias de desrespeito aos direitos humanos e apresentaram sugestões para os trabalhos de reestruturação do Plano Estadual de Direitos Humanos.

alesp