O Brasil perde Cauby Peixoto


16/05/2016 19:08 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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Velório de Cauby Peixoto foi realizado no Hall Monumental da Assembleia <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189391.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Agnaldo Rayol<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189392.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Velório de Cauby Peixoto<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189393.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Jerry Adriani<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189394.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fã se emociona no velório de Cauby Peixoto<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189395.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O jovem Cauby aos 23 anos, em 1954, pela primeira vez é capa da Revista do Rádio. Ele foi o cantor mais retratado na capa da publicação<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189396.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cauby Peixoto com Carmen Miranda em 1955, na casa da cantora em Beverly Hills<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189397.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Partitura original da música Conceição, de 1956<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2016/fg189398.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Cauby Peixoto, seu verdadeiro nome, nasceu no bairro de Santa Rosa, em Niterói então capital do Estado do Rio de Janeiro, em 10/2/1931. Filho de Elizário Peixoto e Alice Carvalho Peixoto, era o caçula de seis irmãos, de uma família que legou à música popular brasileira vários músicos e cantores. Seu pai era violonista conhecido como Cadete, e sua mãe tocava bandolim. Foi sobrinho do famoso Nonô (Romualdo Peixoto), grande pianista, que popularizou o samba naquele instrumento, e primo de Ciro Monteiro, grande cantor brasileiro que se imortalizou com o apelido de "Formigão", cantando sambas sincopados com o acompanhamento de caixinhas-de-fósforos. Seus irmãos também se destacaram na área artística: Moacyr Peixoto como pianista, Araken Peixoto como trompetista e Andyara como cantora.

Cauby estudou em um colégio de padres salesianos em Niterói, onde chegou a cantar no coral da igreja. Após o falecimento do pai, ainda jovem começou a trabalhar no comércio para ajudar no sustento de casa, até que, no início de 1949, resolveu participar do programa de calouros Hora dos Comerciários, da Rádio Tupi do Rio, patrocinado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), e dirigido pela pianista Babi de Oliveira, conseguindo chamar a atenção da Revista do Rádio, que publicou uma reportagem com fotos. Logo depois, passou a cantar durante os intervalos das apresentações do grupo A Brasiliana, no qual atuava o ator Sérgio Britto, no Teatro Rival, localizado na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, já se fazendo notar pela sua potente voz.

Em fins de 1951, gravou seu primeiro disco, pela Som, com um samba do seu cunhado, o compositor Geraldo Medeiros, intitulado Saia Branca, para o carnaval seguinte. Após cantar no conjunto musical de seu irmão Moacyr na boate carioca Casablanca, foi convidado por este a se apresentar na requintada boate Oásis em São Paulo, onde seu irmão já tocava. Foi então contratado pela Rádio Excelsior, destacando-se sempre com repertório de músicas estrangeiras.

Sua vida mudou totalmente quando foi ouvido pelo empresário Di Veras, que, pretendendo renovar o elenco da poderosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro - na qual os grandes ídolos como Emilinha Borba, Marlene, Orlando Silva, eram contratados -, convidou Cauby para atuar naquela emissora. Seu lançamento na rádio foi preparado nos moldes norte-americanos, com grande publicidade e muita promoção, e, em pouco tempo, ele também se tornaria um ídolo adorado e perseguido pelas fãs. Sua imagem foi forjada para agradar: vestindo-se de maneira extravagante para a época, e colocando trinados e versos inexistentes em suas canções, criou um tipo diferente, obtendo sucesso imediato. Ainda em 1954, gravou com êxito o fox-blue Blue Gardênia (Bob Russell e Lester Lee, com letra em português dos compositores Antônio Almeida e João de Barro) e, nos cinco anos seguintes, foi considerado o cantor mais popular do Brasil. Nesse ano, apareceu pela primeira vez na capa da popular Revista do Rádio pela primeira vez, o que se repetiria dezenas de vezes, sendo o a figura masculina que mais apareceu na capa dessa revista.

No ano seguinte, 1955, esteve pela primeira vez nos Estados Unidos, atuando em rádios norte-americanas e shows, esteve em visita à grande estrela brasileira Carmen Miranda em sua residência em Beverly Hills, a quem havia conhecido em sua última estada ao Brasil, meses antes.

No ano de 1956 gravou em disco de 78 rotações, pela Columbia, a musica Conceição (Jair Amorim e Dunga), que se transformou no maior sucesso de sua longa carreira. Da Rádio Nacional, passou para a Rádio Tupi e gravou Nono Mandamento (René Bittencourt e Raul Sampaio), em 1957; Prece de Amor (René Bittencourt), em 1958; Ninguém é de Ninguém (Humberto Silva, Toso Gomes e Luís Mergulhão) e É tão Sublime o Amor (P. Francis Webster e Sammy Fain, versão de Antônio Carlos).

Participou de vários filmes musicais brasileiros, nos quais aparecia cantando seus inúmeros sucessos musicais. Gravou muitos discos 78 rotações na RCA Victor, Odeon, Columbia, Fermata, Philips e Som Livre, entre outras.

Depois de aparecer na revista norte-americana Time como o maior ídolo da canção popular brasileira, foi convidado para uma nova excursão aos Estados Unidos, onde gravou, com o nome de Ron Coby, um LP com a orquestra de Paul Weston, cantando em inglês. De volta ao Brasil, comprou em sociedade com os irmãos a boate Drink, passando a se dedicar mais à administração da casa e interrompendo assim, momentaneamente, suas apresentações. Em 1959, retornou aos Estados Unidos, para uma temporada de 14 meses, durante os quais realizou espetáculos, apresentou-se na televisão e gravou, em inglês, a musica Maracangalha (Dorival Caymmi), que recebeu o titulo de I Go. Nessa viagem à América do Norte, algum tempo depois, participou do filme Jamboree, da Warner Bros.

No Brasil, durante a década de 1960, limitou-se a apresentações em boates e clubes. Em 1970, reapareceu como vencedor do famoso Festival de San Remo, na Itália, classificando em primeiro lugar a música que defendeu, Zíngara (R. Alberteli, versão de Nazareno de Brito). No ano seguinte, participou do 6º Festival Internacional da Canção (FIC) da TV Globo, no Rio de Janeiro, cantando Verão Vermelho (Sergio Ferreira da Cruz). A partir da década de 1970, passou a se apresentar em programas de televisão no Rio e a realizar pequenas temporadas em casas de diversão noturnas cariocas e paulistanas. Em 1979, apresentou-se também em Vitória (ES) e Recife (PE) no Projeto Pixinguinha da Funarte, ao lado de Zezé Gonzaga. Em 1980, em comemoração aos 25 anos de carreira, lançou pela gravadora Som Livre o disco Caubi, Caubi, com musicas feitas especialmente para ele por Caetano Veloso (Caubi, Caubi), Chico Buarque (Bastidores), Tom Jobim (Oficina), Roberto e Erasmo Carlos (Brigas de amor) e outros. No mesmo ano, apresentou-se nos shows Bastidores, da Funarte, no Rio de Janeiro, e Caubi, Caubi, os Bons Tempos Voltaram, na boate Flag, em São Paulo. Em 1982 apresentou-se, no 150 Night Club, também em São Paulo, ao lado dos irmãos Moacyr (piano) e Araken (piston) e lançou o LP Ângela e Caubi, o primeiro encontro dos dois cantores em disco, com sucessos como Começaria Tudo Outra Vez (Gonzaguinha), Recuerdos de Ipacaraí (Z. de Mirkun e Demetrio Ortiz) e a valsa Boa Noite Amor (Jose Maria de Abreu e Francisco Matoso). No ano de 1989, os 35 anos de carreira foram comemorados no bar e restaurante A Baiuca, em São Paulo, ao lado dos irmãos Moacir e Araken e Iracema e Andyara (vozes). No mesmo ano, a RGE relançou o LP Quando os Peixotos se Encontram, de 1957. Em 1993 foi o grande homenageado ao lado de Ângela Maria no Premio Sharp de Musica. No ano de 1996, foi lançada pela Columbia caixa com dois CDs abrangendo suas gravações de 1953 a 1959, com sucessos como Conceição.

Sofrendo de diabetes, cantava sentado, e por mais de dez anos lotou às segundas o salão do Bar Brahma, na esquina das avenidas Ipiranga e São João, com grande sucesso. No ano 2000, sofreu uma intervenção cirúrgica para a colocação de seis pontes de safena no coração.

Em setembro do ano passado, o cantor chegou a cancelar uma apresentação por conta de uma gripe. Em março de 2015, ele chegou a ser internado em estado grave no hospital Santa Isabel, em São Paulo, mas o motivo da internação foi mantido em sigilo pela família.

Atualmente participava da turnê pelo Brasil do show 120 anos de Música, em companhia de sua grande amiga de várias décadas Ângela Maria. O repertório do show era baseado no disco Reencontro, mas também contemplava faixas de outras parcerias dos dois.

Na última segunda feira, dia 9, foi internado no hospital Sancta Maggiore, no bairro do Itaim Bibi, e às 23h50 do domingo, dia 15/5, veio a falecer vitimado por complicações decorrentes de uma pneumonia.

Seu corpo após ser velado no Hall Monumental da Assembleia Legislativa do Estado do Estado de São Paulo, foi transportado em uma viatura do Corpo dos Bombeiros. sendo enterrado no Cemitério de Congonhas, na capital paulista, na tarde desta segunda feira, dia 16 de maio.

Cauby Peixoto sempre foi considerado um dos mais populares cantores do Brasil e um dos mais bem-sucedidos remanescentes da Era de Ouro do Rádio brasileiro.

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É funcionário da Assembleia Legislativa do Estado do Estado de São Paulo.

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