Audiência pública discute medicalização na educação


05/08/2016 18:25 | Da Redação - Foto: José A. Teixeira

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Medicalização na Educação em debate: Jason Gomes, Marilena Ribeiro, Ariadne Beneton, Carlos Giannazi e José Arruda<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2016/fg193044.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Audiência pública discute medicalização na Educação<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2016/fg193045.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O termo é novo, mas a medicalização é antiga, conforme lembrou o médico sanitarista José Ruben de Alcântara Bonfim, que foi o primeiro a falar no debate realizado na quarta-feira, 3/8, que reuniu especialistas em medicalização. Iniciativa do deputado Carlos Giannazi (PSOL), a audiência apresentou a visão desses especialistas sobre o exagero no uso de medicamentos (José Ruben preferiu chamar de fármacos, que em grego tem o duplo significado de remédio e veneno) e de como essas drogas estão substituindo, dia a dia, a alimentação tradicional por comprimidos de vitaminas, fitoterápicos, medicamentos alopáticos e homeopáticos, a ponto de a indústria farmacêutica ser atualmente a segunda em faturamento no mundo, perdendo apenas para a indústria bélica.

"Algumas drogas usadas por pacientes no Brasil, deixaram de ser receitadas em países do primeiro mundo há mais de 40 anos", lembrou José Ruben, pela ineficácia. "As usadas para fins comportamentais ou para emagrecimento, principalmente, têm gerado uma série de efeitos colaterais, como insônia, desânimo e até a crença de que os nossos problemas e transtornos estariam sendo resolvidos pelas pílulas", alerta a cartilha elaborada pelo Conselho Federal de Psicologia, a qual o deputado Giannazi sugeriu que seja enviada aos prefeitos e secretários municipais de Saúde. A cartilha alerta ainda que "sentimentos como tristeza, alegria e medo passaram a ter que obedecer um parâmetro, como se todas as pessoas tivessem esses sentimentos na mesma intensidade. Caso ultrapassem esse parâmetro, são considerados casos patológicos e, não raras vezes, essas pessoas são "tratadas" com anfetaminas, estimulantes e outras drogas "tarja preta", que causam sérios efeitos colaterais e dependência".

Educação

A psicóloga e professora da USP, Marilene Rebello de Souza, especialista em psicologia escolar, falou da medicalização na educação, tema central do encontro e que apresenta as mesmas características da medicalização na sociedade de uma maneira geral. Citando o sociólogo americano Peter Conrad, referência no estudo da medicalização, Marilene usou a definição de Peter para medicalização como sendo a transformação artificial (a psicóloga enfatizou o termo artificial) de questões não médicas em problemas médicos. Por exemplo, problemas no campo das políticas sociais, das relações afetivas, culturais estão sendo transformadas em doenças e distúrbios individuais.

"Esse processo de medicalização tem conduzido ao uso de psicofármacos", alertou Marilene. Ela disse que "grande parte das dificuldades vividas no campo da escolarização no Brasil estão sendo interpretadas como doenças individuais das crianças, sem que se interpele como está a escola, em que condições essa criança está sendo alfabetizada, quais são as necessidades dessa escola como um todo para responder às demandas do próprio processo de escolarização". E continuou dizendo que "não temos questionado os problemas sociais, políticos e culturais que constituem a própria escola, mas temos buscado as dificuldades do processo de aprendizagem e dos comportamentos das crianças. Em vez de entendermos o que leva essa criança a não se apropriar da leitura e escrita, dizemos que ela tem um problema orgânico - dislexia - e que precisa ser tratada e atendida por diversos especialistas para se aprofundar na leitura e na escrita".

A audiência teve como coordenadora da mesa a psicóloga Ariadne Benetom de Campos e contou também com a participação do fonoaudiólogo Jason Gomes Rodrigues dos Santos.

alesp