A reunião da CPI da Merenda, com a finalidade de apurar e investigar o fornecimento de merenda escolar em todas as escolas estaduais e algumas municipais, realizada nesta quarta-feira, 31/8, teve os testemunhos de três funcionários da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf). Estavam previstas as oitivas de cinco depoentes, mas o promotor de Justiça de Brodowski, Leonardo Leonel Romanelli, deixou de comparecer alegando compromissos inadiáveis. Ele deverá ser ouvido em 14/9. Já o advogado Rogério Valverde, embora presente, pediu dispensa da oitiva por advogar em favor de uma das testemunhas. César Augusto Bertholino e Emerson Girardi disseram ter exercido a função de vendedores na cooperativa, representando a empresa junto a municípios e à Secretaria de Estado da Educação. Ambos negaram participação em esquema de desvios no fornecimento de alimentos, mas mencionaram transações em dinheiro envolvendo o ex-presidente da Coaf, Cássio Chebabi, e Marcel Ferreira Julio. Os depoentes divergiram quanto à presença ou não de Dione di Pietro, ex-responsável pelo setor de distribuição de merenda da secretaria, nas dependências da Coaf. Depoimentos Bertholino informou que exerceu a função de vendedor na cooperativa, com registro em carteira, de setembro de 2013 a janeiro de 2016, quando foi iniciada a operação Alba Branca, do Ministério Público estadual. Ele afirmou desconhecer o envolvimento de agentes políticos ou públicos nos negócios da Coaf, mas ouviu falar de possíveis ilegalidades envolvendo a cooperativa. Segundo ele, parte do dinheiro que entregava a Cássio Chebabi pode ter chegado a Jeter Rodrigues, então agente público. Emerson Girardi alegou que pode receber benefícios de delação premiada, mas acabou respondendo aos questionamentos dos deputados. Ele informou que prestou serviços à Coaf de outubro de 2012 até janeiro de 2016, sendo que desde outubro de 2015 deixou a função de vendedor para atuar como repositor no hortishopping da empresa. De acordo com o depoente, seu salário era de R$ 2,5 mil, mais ajuda de custo de R$ 500 e comissões. Sua saída do cargo de vendedor ocorreu logo após a não efetivação de um contrato de fornecimento de suco de laranja para a secretaria. Luis Carlos da Silva Santos informou que trabalhou apenas como motorista da Coaf e que em momento algum atuou como vendedor. Isso contradiz afirmação de César Augusto feita em reunião anterior de que Luis Carlos, conhecido como Português, trabalhou na cooperativa de julho de 2013 a fevereiro de 2016, recebendo salário de R$ 2,3 mil (sem comissões) em dinheiro. Os deputados perguntaram ao depoente se alguma vez transportou quantias em dinheiro, a pedido de César ou Cássio, e Luis Carlos respondeu que não. Segundo ele, sua função era apenas levar e protocolar documentos e transportar sucos às escolas, além de conduzir César e Cássio, ou quem fosse necessário. "Peixes pequenos" O deputado Enio Tatto (PT) insistiu que os trabalhos da CPI podem ficar prejudicados se os deputados continuarem a ouvir apenas o que ele chamou de "peixes pequenos". O presidente da CPI, Marcos Zerbini (PSDB), informou que, de acordo com o cronograma definido, serão ouvidas, primeiramente, todas as testemunhas ligadas à Coaf e, na sequência, os demais envolvidos. Questionamentos dos parlamentares também se referiram à atuação de delegados da Polícia Civil e promotores nos depoimentos de Bertholino e Girardi. Para Barros Munhoz (PSDB), os dois funcionários da Coaf estão faltando com a verdade. Requerimentos Além da oitiva de testemunhas, a CPI aprovou cinco requerimentos: 112/2016, de José Zico Prado, Alencar Santana Braga e Luiz Turco (todos do PT), requer o envio de ofício ao presidente do Tribunal de Justiça solicitando documentos relativos ao processo de investigação da operação Alba Branca; 118/2016, também de autoria dos petistas, solicita ao Núcleo do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de Sorocaba o encaminhamento de cópia do Procedimento Investigatório Criminal 8/2012, que cuida de suposto cartel, fraude e desvio de verbas públicas em escolas estaduais e municipais a partir do fornecimento de merenda; 130/2016, do deputado João Paulo Rillo (PT), requer da Junta Comercial do Estado de São Paulo envio de cópia do processo de registro de ata e alteração do estatuto da Coaf; e 146/2016 e 147/2016, ambos de Alencar Santana, solicitam o envio de ofício às empresas Global S/C Ltda " ME e Global Assessoria & Consultoria em Gestão de Negócios S/S Ltda " ME para fornecimento de cópia dos documentos referentes ao livro caixa onde conste toda a movimentação financeira e bancária da Coaf. Participaram da reunião, além dos citados, Adilson Rossi (PSB), Ana do Carmo (PT), Beth Sahão (PT), Chico Sardelli (PV), Estevam Galvão (DEM), Jorge Caruso (PMDB), Gilmaci Santos (PRB), Delegado Olim (PP), Roque Barbieri (PTB), Carlos Cezar (PSB), Caio França (PSB), Marcos Martins (PT) e Pedro Tobias (PSDB).