Assembleia comemora os 32 anos do Conselho da Comunidade Negra

Evento comemorou também o centenário do governador Franco Montoro, criador do CPDCN, em 1984
17/11/2016 15:10 | Da Redação Keiko Bailone - Fotos: José Antonio Teixeira

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32 anos do Conselho da Comunidade Negra é comemorado na Assembleia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2016/fg196296.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presentes na sonelidade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2016/fg196297.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Clique para ver a imagem " alt=" Ivan Renato de Lima (ao microfone): "Estamos vivenciando um momento de perda de direitos conquistados há décadas" Clique para ver a imagem ">

"Até hoje não entendo o racismo, porque antes de tudo, eu tenho a dor dos meus ancestrais; gostaria de entender qual a diferença da minha cor para o branco, o amarelo e as outras cores, porque a dor que sinto, dói igualmente em todos; antes de ser negra, sou humana, antes de ser negra preciso ser respeitada...", afirmou a deputada Clélia Gomes (PHS). Ela foi a única parlamentar a participar do ato solene em comemoração aos 32 anos do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CPDCN), realizado por iniciativa do deputado Carlos Bezerra Jr. (PSDB). Antes disso, Clélia Gomes comentara que ouvia de sua mãe, desde a infância, que por ser negra, pobre e de periferia, teria que fazer a diferença. E que, carregando o filho, branco, ouvia nos postos de saúde: "há quanto tempo a senhora cuida dele?"

Observou que há na Casa apenas duas parlamentares representantes da comunidade negra: ela e a deputada Leci Brandão (PCdoB), e conclamou outros líderes a disputarem futuras eleições.

O engenheiro Ivan Renato de Lima, presidente do Conselho da Comunidade Negra, endossou as palavras de Clélia Gomes, ao acrescentar que os negros têm de enfrentar o racismo e a falta de oportunidades, que se somam às dificuldades enfrentadas por eles. "Estamos vivenciando um momento de perda de direitos conquistados há décadas, porque o discurso do movimento negro não encontra ressonância na população negra", enfatizou. Criticou a posição assumida por alguns líderes de movimentos de discriminar representantes da comunidade negra que se candidataram por diferentes legendas: "não podemos excluir este ou aquele por ser deste ou daquele partido; sou contra isso; nossa causa comum é a formulação de políticas públicas para os negros e por isso temos de unir forças", acentuou, reforçando o objetivo de criar conselhos da comunidade negra nas 16 regiões administrativas e cinco regiões metropolitanas do Estado de São Paulo.

"Há regiões metropolitanas que englobam 180 municípios, quase 30% do Produto Interno Bruto do Brasil", informou, afirmando que os conselhos municipais seriam por reconhecimento e justiça à comunidade negra, "que quer participar do desenvolvimento econômico do Estado".

O diretor-executivo do Instituto do Legislativo Paulista (ILP), um dos apoiadores do evento, Leonardo Quintiliano também abordou a questão do racismo. Relatou ter vivenciado situações em que esse tipo de preconceito se revela ora de forma tênue, ora mais intensamente, porém sempre de maneira subliminar. E isso ocorreria em situações de homofobia ou de gênero, explicou, citando contratações ou promoções descartadas para afrodescendentes.

"O ILP tem a função de contribuir no combate a todas as formas de intolerância e também na formulação de políticas públicas às pessoas em situação de vulnerabilidade social", esclareceu. Ele explicou que o Índice Paulista de Desenvolvimento Social (IPRS), elaborado pelo ILP, tem auxiliado a melhorar a qualidade de vida da população, a partir da constatação das necessidades dos municípios paulistas. Entretanto, segundo Quintiliano, não há ferramentas que façam a mensuração da violência por raça ou números que mostrem o percentual de afrodescendentes em cargos públicos ou universidades oficiais. "Há problemas", adiantou, ao exemplificar com o quadro de parlamentares da própria Assembleia Legislativa, em que, dentre 94 deputados, tem apenas duas afrodescendentes.

"Em outros ambientes mais elitistas, em que as promoções ocorrem com base na meritocracia, os números são mais claros: de 460 colegas na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, só um era negro; na Justiça Federal, onde trabalhei, havia um único negro, um oficial de Justiça", pontuou Quintiliano. Vale lembrar, vivem na cidade de São Paulo, a maior da América Latina, mais de 4 milhões de pessoas pretas, pardas ou afrodescendentes, segundo o IBGE.

Mês da consciência negra

Este ato solene fez parte das comemorações do mês da Consciência Negra. A data de 20 de novembro faz alusão aos 321 anos da morte de Zumbi, líder negro reconhecido como herói por sua luta contra a escravidão.

O CPDCN incluiu, ainda, nesta solenidade, uma homenagem ao centenário de Franco Montoro, em cujo governo se deu a criação do conselho. Portanto, além de condecorações entregues a ex-presidentes e conselheiros " são 200 em todo o Estado ", um dos familiares do ex-governador recebeu placa e diploma alusivos a este feito.

alesp