Opinião - O Brasil gasta mais com preso ou com aluno?


17/01/2017 17:35 | Rafael Silva*

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A educação é o berço do mundo, a mãe de todas as civilizações. Ou pelo menos deveria ser. Justamente porque a ausência dela também mata, como matam os massacres nos presídios do Brasil. Mas, apesar de todos sabermos disso, em nosso país gasta-se, com cada preso, dez vezes mais do que se investe em cada aluno do ensino básico. Os números são oficiais. As contas, em dados claros, são essas: cada preso, no Brasil, custa para você, para mim, para toda a população, R$ 2.400,00 todos os meses, segundo dados do Ministério da Justiça. Já para um aluno do ensino fundamental, que deveria ter o maior investimento do país, são destinados, por mês, apenas R$ 239,58, de acordo com informações do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), do Ministério da Educação.

O valor previsto para investimento por aluno, para o ano de 2017, é de R$ 2.875,03, conforme publicado no Diário Oficial da União, de 27 de dezembro de 2016. Se compararmos com o gasto anual de um preso de segurança máxima, a situação é ainda mais grave. Com esse tipo de detento, o governo tem um custo anual de R$ 45.600,00 (ou R$ 3.800,00 por mês). No Amazonas, em presídios privados, pagos pelo estado, ou seja, pelo povo, o preso custa " acreditem " R$ 4.112,00 mensais. E lá, como foi notícia em todo o mundo, vimos o que aconteceu, com barbáries e mortes. Lembro que, em 1982, Darcy Ribeiro, antropólogo e político, um dos maiores pensadores da história, fez um pronunciamento dizendo que, se os governadores não construíssem escolas, em vinte anos faltaria dinheiro para construir presídios. Hoje os presídios estão superlotados, e faltam cadeias, como faltam escolas.

Outro desafio dos governantes brasileiros é melhorar o salário dos professores. Por mês, aqui, os educadores ganham R$ 2.700,00 em média, enquanto na Alemanha o salário mensal é de R$ 13.300,00, na Austrália R$ 9.925,00, nos Estados Unidos R$ 9.680,00. Mesmo entre países da América Latina estamos mal: no Chile, um professor recebe R$ 4.738,00; no México, R$ 4.150,00. Os dados são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que integra 40 nações.

Outros dados preocupantes chamam a atenção. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2015, elaborado também pela OCDE, o Brasil foi classificado, entre 70 países, nas posições 59ª em leitura, 65ª em matemática e 63ª em ciências. Isso significa que 56,6% dos nossos alunos não dominam o básico de Ciências; 50,99% não alcançam o nível mínimo de leitura, e 70,25% não sabem as funções mais comuns da matemática.

Todo esse panorama da Educação também significa um massacre. Milhares, milhões de crianças e jovens são condenados à morte por esse abandono, pela falta de apoio dos governos. Muitos, sem caminho, entram no mundo do crime e viram outro tipo de estatística. Da morte por arma branca ou revólver.

Não temos mais tempo. Todo tempo em que não investimos em Educação é tempo perdido. O Brasil já perdeu demais. Todos nós perdemos. É hora de fazer dos nossos professores as maiores referências do país. E tratar nossas crianças e jovens como verdadeiros filhos de uma pátria-mãe que, tristemente, se esqueceu de ser gentil.

*Rafael Silva é deputado estadual, formado em Filosofia e pós-graduado em Sociologia

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