Opinião: Pílula do câncer: uma esperança!


08/03/2017 16:08 | Rafael Silva *

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Lutar pela vida é um direito inalienável, que não pode ser obstruído, impedido, por quem quer que seja. Por mais de 20 anos, a pílula do câncer, chamada de fosfoetanolamina sintética, foi distribuída gratuitamente a pacientes de todo o Brasil. Criada sob a coordenação do pesquisador Gilberto Chierice, na USP de São Carlos, a substância amenizou o sofrimento de milhares de pessoas, com diminuição dos efeitos devastadores causados pelo câncer. Muitas se disseram curadas.

O que vemos ainda hoje, depois de tanta polêmica, para mim desnecessária, é uma multidão esperançosa em ver a regulamentação da pílula, proibida pela Justiça e, ainda, em fase de testes clínicos. Gente que acorda e vai se deitar com dores terríveis, com medo de deixar o marido, a mulher, os filhos. Gente que dobra os joelhos todos os dias, clamando por ajuda.

Como deputado, travei inúmeras batalhas para liberação da fosfo. Notifiquei senadores, deputados federais, mandei ofícios à então presidente Dilma Rousseff, até entidades internacionais, como a ONU. Mobilizei a imprensa nacional, que despertou o interesse de jornais estrangeiros.

As notícias e os testemunhos estavam a nosso favor. Primeiro disseram que a pílula poderia fazer mal, mas testes rigorosos mostraram que a aplicação da fosfo é segura, sem efeitos colaterais. Tanto o Ministério da Ciência quanto o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo atestaram isso. O Icesp, aliás, está agora na segunda fase de análise, que deve ser encerrada no mês que vem. Mas podemos adiantar que a Universidade Federal do Ceará verificou a eficácia na redução de massa tumoral, usando camundongos com melanoma, um tipo de tumor agressivo. A dose maior de fosfoetanolamina foi capaz de reduzir em 64% a doença.

Chegou-se a divulgar a possibilidade de fabricação da cápsula, depois de autorizada pela então presidente Dilma. Só que anunciaram o preço de R$ 6 pela unidade. Indignado, o criador da fórmula não autorizou, porque o custo de cada pílula, como ele disse, é de apenas R$ 0,10. Queriam ganhar muito dinheiro em cima do povo.

Agora, na mais nova notícia, dois dos auxiliares de Chierice estão vendendo a fórmula para empresas estrangeiras, para a fosfo entrar no Brasil como suplemento alimentar. Espero que não haja distorção no real propósito da substância, com possíveis alterações na sua composição.

Nessa história toda, o laboratório de Química de São Carlos foi fechado há quase um ano. Em maio do ano passado, ministros do Supremo Tribunal Federal suspenderam os efeitos da lei aprovada pela ex-presidente e proibiram a fabricação e distribuição da pílula. E, nesse tempo, milhares de pessoas morreram sem ter a possibilidade de usar a fosfoetanolamina. Morreram junto com a própria esperança.

De maneira muito serena, segura, afirmo: a pílula não pode ser proibida, porque ela representa o direito de todos pela manutenção da vida. Viver está acima de qualquer decisão humana contrária. Está nas mãos de Deus. No trabalho de homens abnegados, que dedicaram anos a estudar caminhos para ajudar as pessoas. Porque o câncer não mata só o paciente. Ele destrói toda uma geração. Minha luta vai continuar. Onde estiver um paciente sonhando e buscando seus direitos, lá estarei também. Não há mais tempo para debates infrutíferos. É urgente! A vida pede passagem.

* Rafael Silva é deputado estadual pelo PDT

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