Entrevista com a deputada Ana do Carmo


03/05/2017 20:22 | Keiko Bailone - Foto: José Antonio Teixeira

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Ana do Carmo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2017/fg201888.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Militante de causas populares, participante ativa da Pastoral Operária, vereadora de São Bernardo do Campo e deputada por quatro mandatos consecutivos. Foram anos de batalhas de Ana do Carmo para manter o foco no objetivo primeiro: ajudar a população mais pobre. "Este é o meu maior legado, poder ajudar quem mais necessita, apresentar projetos de interesse dessa camada da população", afirmou ela.

Chegou à política pelas mãos do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva, um dos líderes das greves na região. Ana do Carmo ajudava arrecadando alimentos para os grevistas. Depois, juntou-se a sindicalistas, intelectuais e categorias profissionais para fundar o Partido dos Trabalhadores.

Foi eleita vereadora pela primeira vez em 1988, mesmo ano em que Lula se candidatou a presidente do Brasil pela primeira vez. Foi a mais votada do PT em São Bernardo do Campo. "Ele (Lula) sempre esteve presente em minha vida política, tenho orgulho em ser amiga dele e ser do PT, não me arrependo".

Questionada, Ana do Carmo não se esquivou de responder a perguntas sobre a situação atual do partido que, nas últimas eleições, perdeu assentos não só no Parlamento paulista, mas em legislativos municipais e prefeituras. Em sua opinião, houve uma forte campanha, especialmente de parte da imprensa, em especial a Rede Globo, por 24 horas difamando Lula, o PT e a ex-presidente Dilma Rousseff.

"Mas Lula é tão forte que, mesmo a imprensa falando mal 24 horas sem parar, ele ainda segue na frente das pesquisas. O PT ainda tem 20% das intenções de voto. Querem acabar com o PT, mas não vão conseguir", afirmou. Reconhece que houve baixas, pessoas do partido erraram e têm de pagar, mas nada justificaria fazer o que fazem. "Só com o PT. Quando há uma denúncia, falam em pessoas, mas não em partido. Mas quando é PT, falam PT do Lula", protesta.

Reformas trabalhista e previdenciária

Ao expor seus pontos de vista sobre as reformas trabalhista e previdenciária, Ana do Carmo tachou de absurdas as mudanças previstas. Disse que tem participado das manifestações contrárias às reformas e também de reuniões para explicar sobre esses temas. Protestou principalmente contra o artigo que extingue a Lei Orgânica de Assistência Social. A LOAS garante, aos idosos com mais de 65 anos e pessoas deficientes, o recebimento de um salário mínimo por mês, desde que a renda familiar, em ambos os casos, seja menor do que 25% desse valor mensal.

"Vão acabar com a assistência social justamente para a população mais carente, que já não tem nada. O governo teria que mexer com as grandes fortunas e não com os trabalhadores", pontuou.

Sobre a reforma trabalhista, Ana do Carmo criticou a terceirização "que pega na veia do trabalhador; ele perde todos os direitos". Para ela, a livre negociação dos trabalhadores, sem a intermediação das centrais sindicais, torna-se uma emboscada. Acabaria com a organização dos trabalhadores. "Um trabalhador sozinho não tem condições de negociar com o patrão. Já unidos, em grupo, ganha força".

Atuação como parlamentar

Ana do Carmo diz que a principal mudança da época de vereadora para a de deputada reside no fato deste último ser mais amplo e atingir mais pessoas. Lembrou que, logo na primeira eleição, teve a oportunidade de conhecer várias lideranças do interior e recebeu deles um apoio muito forte.

Quanto ao seu trabalho nos últimos mandatos, comentou com entusiasmo ações ligadas à agroecologia. "Eu e o deputado Aldo Demarchi (DEM) fazemos parte da Frente Parlamentar em Defesa da Produção Orgânica e Desenvolvimento da Agroecologia, relançada em junho de 2013. Integrada por especialistas da área, acadêmicos, produtores e órgãos ligados ao poder público, o trabalho dessa Frente tem sido reconhecido principalmente no interior. "Eles querem saber como é, pedem apoio, palestras, a presença de especialistas da área, como Ondalva Serrano (agrônoma e professora da USP) ou Márcio Staziani (presidente da Associação de Agricultura Orgânica)."

Na capital e Grande ABC também houve avanços, lembrou a deputada, informando que as prefeituras paulistana e de municípios dessa região iniciaram a compra de produtos orgânicos para a merenda escolar. Segundo a deputada, os trabalhos de São Paulo influenciaram a criação de uma Frente Parlamentar Nacional, com os mesmos objetivos da Frente estadual.

Resultou também do trabalho da Frente de Agroecologia o lançamento que ocorrerá, em ato solene no dia 17/5, do Projeto de lei que institui uma Política Estadual de Agricultura Orgânica (236/2017). "Eu e o Aldo somos autores, mas este PL foi debatido com mais de 30 entidades ao longo de dois anos", relatou.

Kits de aquecedor solar

Projetos de cunho social, voltados à população mais carente estiveram e continuam na pauta do mandato da parlamentar. É o caso do aquecedor solar popular. Graças a uma emenda da petista, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado liberou emenda para que a Ong Sociedade do Sol pudesse desenvolver equipamentos dessa natureza, que chegaram a ser instalados no Jardim Thelma, na Estrada do Alvarenga.

O aquecedor era montado em parceria com as famílias que receberiam o aparelho e era capaz de gerar até 50% de economia na conta de energia elétrica residencial. "Mas faltou recursos. Agora estamos lutando para que o governo banque esse projeto nas escolas, incentive as prefeituras do interior a adotar estes kits", frisou.

Escolas com psicólogo e assistente social

Não só no caso das emendas, mas mesmo para um PL ser sancionado pelo governo, é necessário travar "uma guerra", segundo Ana do Carmo. Exemplificou com PL de sua autoria, que permite a presença de um psicólogo e de um assistente social em cada escola do Estado, aprovado pela Assembleia. Depois, o PL foi vetado pelo governador. Mas ela não desistiu. Ana do Carmo confessou que gostaria muito de ver esse PL aprovado e, por isso, chegou até a conversar com o então chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo, sobre a possibilidade de abrir mão da autoria. Sugeriu que poderia ser uma proposta do Executivo. "Tentamos de todo jeito, mas não deu certo. Agora estamos trabalhando para derrubar o veto. Este é um sonho que não realizei; tornou-se uma frustração. Mas ajudar os mais necessitados, isto me dá muito orgulho, muita satisfação".

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