Entrevista com o deputado Estevam Galvão

Mandato em pauta
05/05/2017 20:15 | Keiko Bailone - Foto: José Antonio Teixeira

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Com mais de 44 anos de vida pública, tendo em seu currículo passagens pela Câmara Municipal e Prefeitura de Suzano, Câmara dos Deputados e, agora, no quarto mandato como deputado na Assembleia Legislativa, Estevam Galvão (DEM) diz que não vai parar. Gosta muito de ser deputado, e pretende concorrer novamente a uma vaga no Legislativo paulista nas eleições do ano que vem. "Minha vida é boa e gratificante. Por dez anos consecutivos fui líder do Democratas e, nesta legislatura, faço parte da Mesa Diretora. A segunda secretaria da Casa é trabalhosa, mas não tem problema. Tenho o hábito de levantar cedo e ficar até tarde. Tenho de honrar os votos recebidos", afirma, ao explicar sua devoção à vida parlamentar. Galvão confessa que gosta de estar com o povo, de andar pelos bairros, periferias. Lembrou que à época em que o hoje senador José Serra ocupava a Prefeitura de São Paulo (2005), foi designado para a subprefeitura de Guaianazes. "Um bairro com problemas de área de risco, falta de canalização de esgoto... mas, para mim, foi um período bem gratificante", reconheceu.



Sobre as reformas

A reeleição ou não em pleitos municipais ou estaduais depende do trabalho que se faz, considera Galvão, ao citar seus quatro mandatos consecutivos na prefeitura de Suzano. "Acho que é reconhecimento. Numa cidade com 300 mil habitantes, você tem que trabalhar". Entretanto, Galvão concorda que a política mudou muito, aliás, totalmente, em quatro décadas de atuação parlamentar. E para pior, avalia, complementando que isso vale para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados.

Estevam é a favor da reforma política. Para ele, é difícil para o Executivo trabalhar com 30 partidos diferentes. Aqui na Assembleia Legislativa é a mesma coisa: "são mais de 20 lideranças para você equacionar, acertar caminhos... ".

Da mesma forma que defende a reforma política, Galvão compõe o bloco de parlamentares que encara como benéficas as mudanças previstas nas leis trabalhista e previdenciária.

"As oposições cantam em prosa e verso que estão tirando o direito do trabalhador. Muito pelo contrário. Esta reforma traz garantia para que se possa trabalhar. O trabalhador precisa de emprego. Estamos com 14 milhões de desempregados", argumentou. Sobre a reforma da previdência, sua defesa se baseia no déficit, apregoada pelo governo federal como insuficiente para bancar, já num futuro próximo, pensionistas e aposentados.

Sobre o atual cenário político, Estevam Galvão conta que, mais do que antes, a população passou a cobrar ações de representantes do Executivo ou Legislativo. "A classe política está desacreditada e a culpa é dela própria; você só vê desmandos e roubalheira", destacou, acrescentando que a população é quem poderia mudar isso. "O povo tem a arma na mão: o título de eleitor". Este, por sua vez, na avaliação de Galvão, deveria, antes de votar, analisar a história do político, sua conduta e comportamento, sem se deixar influenciar por campanhas publicitárias. "Votando corretamente, muda-se esse estado de coisas, vira-se a página deste momento que vivemos", frisou.



Atuação parlamentar

Mais do que simplesmente fiscalizar os atos, Galvão acredita que o papel do parlamentar é o de assessorar o Executivo, colaborando para a aprovação de projetos que beneficiem o Estado. Nesse sentido, exemplificou com a Lei Específica Alto Tietê Cabeceiras, aprovada pela Assembleia em setembro de 2015 e regulamentada em junho do ano passado.

Esta Lei 15.913 refere-se à área de proteção e recuperação dos mananciais do Alto Tietê Cabeceiras. Junto com esta norma, foram aprovadas emendas apresentadas pelo deputado. Uma delas garante a criação do Corredor Industrial na Rodovia Índio Tibiriçá (SP 31), em Suzano.

Abra-se aqui um parênteses. A cidade onde Estevam Galvão iniciou carreira política sempre mereceu sua atenção " apesar de que considere como base eleitoral a região do Alto Tietê e Vale do Paraíba. "Sou de Garça, mas construí minha vida em Suzano. Fui operário, servente, passei a auxiliar de escritório, tenho minha carteira profissional até hoje. Candidatei-me a vereador em 1972 e fui o mais votado, para minha surpresa. Isso alavancou minha candidatura a prefeito", relembrou ao se referir ao primeiro mandato, de 1977 a 1982.

Para Suzano, dentre a infinidade de pleitos, o parlamentar destacou o Poupatempo, que atende hoje 2.500 pessoas; o Hospital das Clínicas, com previsão de entrega ainda no final do primeiro semestre deste ano; a alça de acesso do Rodoanel para a cidade, na Estrada de Fernandes; e a segunda passarela para pedestres na estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Quanto a leis de sua autoria, Galvão citou o Programa da Boa Visão e a Black Fraude. A primeira destina-se à prevenção e recuperação da saúde ocular de alunos do ensino fundamental da rede pública. A Black Fraude determina que todos os produtos e serviços promocionais, comercializados em lojas físicas ou pela internet, devam conter, obrigatoriamente, o histórico de preços dos últimos seis meses, levando em consideração a média de preços praticada em cada mês.

Este PL (986/15) foi aprovado pela Assembleia, mas vetado pelo governador. Entretanto, segundo ele, a divulgação e o debate com órgãos setoriais como a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio/SP), fizeram com que, voluntariamente, as empresas passassem a divulgar o histórico de preços praticados um ano antes.



CPI da Merenda

Assim como considera relevante ter sido o relator do Orçamento em seu primeiro mandato como deputado (1995/96), em que atuava como líder da bancada do então governador Covas, Estevam Galvão destacou seu desempenho como relator na CPI da Merenda.

Esta CPI teve a duração de 150 dias, a partir de 2 de junho de 2016. Foram apresentados 214 requerimentos e realizadas 38 oitivas, computando mais de 72 horas de depoimentos. No decorrer dos trabalhos, foi apurada a atividade de uma organização criminosa que atuava na venda de produtos de gêneros alimentícios em todo o Estado. Pequenos produtores familiares, assim como o erário estadual e entes municipais saíram prejudicados. Entre os crimes apurados, o relator citou a prática de cartel, formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, corrupção ativa e fraude em processo licitatório.

Ao final desta entrevista, indagado sobre como se imagina daqui a dois anos, Estevam Galvão respondeu: "dois anos mais velho e com a mesma saúde. Sou são-paulino e igual ao Rogério Ceni. Enquanto tiver saúde, vou trabalhar".

alesp