Entrevista com Carlos Giannazi


10/05/2017 19:42 | Da Redação - Foto: Roberto Navarro

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Carlos Giannazi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2017/fg202164.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Um mandato oxigenado pelos movimentos sociais. Assim o deputado Carlos Giannazi (PSOL) define sua atuação na Assembleia Legislativa. "Minha formação vem dos movimentos sociais de periferia, da Teologia da Libertação e da mobilização popular. A sustentação política do meu mandato vem das lutas sociais, principalmente daquelas relacionadas à educação pública, instrumento essencial do desenvolvimento humano, social e ambiental."

Aos 17 anos, ele iniciou seu ativismo político sob a influência da Teologia da Libertação, movimento da igreja católica engajado na organização das lutas populares na América Latina. Os fundamentos filosóficos e práticos desse movimento o fizeram entender a política e a participar dela. "A Teologia da Libertação me influenciou bastante no sentido de entender melhor a realidade social e econômica do Brasil", diz ele.

A universidade riscou outro caminho definidor de sua politização. Formado em pedagogia e história, Giannazi foi professor nas redes estadual e municipal de ensino e também diretor de escola. Sua militância na área da educação e em defesa do ensino público de qualidade o levou a ocupar, por duas vezes, a cadeira de vereador da cidade de São Paulo. Chegou à Assembleia em 2006, onde exerce, atualmente, seu terceiro mandato.

Educação pública de qualidade

Autor de diversas propostas para a melhoria da educação pública e para a valorização dos profissionais da educação, o parlamentar conseguiu aprovar projeto de lei que acaba com a superlotação das salas de aula de educação especial e inclusiva. Outros dois projetos garantem a todos os profissionais da educação, professores e servidores, o acesso à meia-entrada em teatros, cinemas e espetáculos culturais. "Infelizmente, temos muitos outros projetos que não foram ainda aprovados, como o que acaba definitivamente com a superlotação na rede estadual, ao instituir o limite máximo de 25 alunos por sala de aula."

Diferentemente do que já ocorreu em legislaturas passadas, a Assembleia Legislativa não conta com muitos representantes do setor educacional. Se no passado já houve bancadas de professores, hoje, a representação dos educadores é quase solitária. "Nosso mandato é considerado a voz dos professores e da educação. Mas isso é pouco. Precisaríamos ter uma grande bancada de professores que ocupasse os espaços legislativos."

O parlamentar destaca que a categoria é uma das que mais tem se mobilizado contra as reformas trabalhista e previdenciária, propostas pelo atual governo federal. Nas redes municipal e estadual, como no país inteiro, os professores atuaram fortemente na greve geral do dia 28 de abril.

Giannazi diz que esse assunto quase não existe na Assembleia Legislativa, em razão de o governo Alckmin defender as reformas e de ter uma grande maioria no Parlamento. Somente uma parte da oposição tem feito os debates sobre a pauta nacional. "Promovemos audiências públicas sobre o tema e lançamos a Frente Parlamentar contra as Reformas Trabalhista e da Previdência. Mas, infelizmente, não há debate na Alesp. Ele está sendo neutralizado pela base governista, que se comporta como se nada estivesse acontecendo no Brasil. A Assembleia está divorciada da realidade. E, pior, apoia as reformas."

Crítico da reforma do Ensino Médio, ele compara as mudanças recentes com aquelas implantadas pelo regime militar. Em sua avaliação, retirar disciplinas que compõem o núcleo crítico dos currículos, como sociologia e filosofia, transforma a educação em instrumento de formação de mão de obra barata para o sistema capitalista. "Não querem que o estudante tenha capacidade de pensar e desenvolver o senso crítico e o pleno exercício da cidadania. Transformaram o ensino médio numa educação tecnicista e impuseram as mudanças por meio de um processo autoritário, o dispositivo da medida provisória. A reforma vai ampliar o desemprego dos professores, rebaixar a formação dos profissionais de educação e não vai trazer nenhum benefício."

Outra dimensão fundamental do mandato é a fiscalização do poder Executivo. Esse papel vem sendo exercido por meio de denúncias que apontam casos de corrupção, de pagamento de propinas em várias áreas e superfaturamento de obras. "Pedimos a instalação de CPIs e solicitamos a convocação de secretários e de presidentes de estatais nas comissões permanentes para que expliquem as irregularidades."

Defesa das minorias

Giannazi diz que até a conclusão do atual mandato, em março de 2019, tem a missão de dar continuidade às lutas pela educação pública e pela cidadania, de fiscalizar e denunciar as irregularidades e defender as causas dos servidores, dos trabalhadores e da sociedade civil organizada. Continuará sua atuação organicamente ligada às lutas das minorias, na defesa da comunidade LGBT, da diversidade sexual, da identidade de gênero, do combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres.

"Somos um posto avançado dos movimentos sociais aqui dentro da Assembleia Legislativa. Faremos o contraponto a uma Casa que é conservadora, de direita, homofóbica, machista, racista e que incorpora tudo o que há de mais atrasado. Diria que a Assembleia Legislativa é a vanguarda do atraso no Estado de São Paulo. Legisla de costas para a população. Estamos aqui para desafinar o coro dos contentes", afirma.

O esvaziamento da política e a crise de representatividade preocupam Giannazi. Isso, diz ele, abre caminho para oportunistas e salvadores da pátria. "Como não existe espaço vazio na política, alguém ocupará esse espaço. Nossa preocupação é contribuir com a formação crítica da sociedade, com a visão de classe, o senso crítico e a participação social. A população tem de se entender como agente das mudanças, principalmente neste momento, em que não podemos esperar nada dos partidos políticos, do Parlamento, do Executivo e do Judiciário. Nosso mandato cumpre uma missão educadora."

O que é possível fazer como minoria no Parlamento? A esse pergunta, Giannazi responde: "Do ponto de vista matemático, não há muito a fazer para superar o rolo compressor do governo, que distribui benesses para os deputados que o apoiam. O parlamento é servo do governo Alckmin e do poder econômico. Nossa função é fazer o contraponto, as denúncias e a obstrução dos projetos que prejudicam a população."

alesp