Entrevista com o deputado Afonso Lobato


Afonso Lobato (PV) decidiu ser padre ainda na adolescência. A ideia amadureceu entre os 15 e 18 anos. Ordenou-se aos 28 anos, após formar-se em Filosofia e Teologia, e posteriormente se formou em Direito. É membro do clero da Diocese de Taubaté, onde assumiu inicialmente a paróquia Santíssima Trindade. A trajetória, anterior à vida parlamentar, não conflitou com a sua opção por disputar uma vaga na Assembleia Legislativa. Ao contrário. Relatou os trabalhos sociais na paróquia, que acabaram por direcioná-lo para a vida pública. O deputado padre Afonso Lobato cumpre atualmente o quarto mandato e é o único padre da Igreja Católica com mandato na Assembleia Legislativa.
Por uma sociedade melhor
"No meu entender aquilo que está no Evangelho, cujo significado é boa notícia, deve ser transferido para a prática", explicou, acrescentando que, quando assumiu sua paróquia, em Taubaté, fundara a entidade Bom Pastor, com mais de 30 trabalhos diferentes voltados à comunidade carente da cidade. Segundo o padre, havia grupos de Alcoólicos Anônimos, Neuróticos Anônimos, Al Anon para mulheres de alcoólatras, Aratin para filhos de pais neuróticos e tantos outros em que trabalhavam médicos, dentistas, psicólogos, advogados. Na entidade Bom Pastor, funcionavam também farmácia, horta e armazém comunitários e se fazia reciclagem de lixo.
Essas atividades sociais desenvolveram a intenção e a possibilidade de Afonso Lobato candidatar-se a uma vaga na Assembleia Legislativa. "Fui entendendo que a política é um instrumento importante na construção de uma cidadania e uma sociedade melhor", acentuou. Lobato elegeu-se pela primeira vez em 2002 e reelegeu-se por mais três mandatos, nos pleitos de 2006, 2010 e 2014.
O Parlamento
Na sua avaliação, é muito difícil a tarefa parlamentar. "O Parlamento está muito subserviente ao Executivo, muito pobre, as matérias de legislação são poucas. As emendas parlamentares representam uma oportunidade para o deputado solicitar recursos para auxiliar determinada entidade, mas o governo não as tem liberado", criticou. Disse que usa o mandato como ferramenta de fomento para ideias novas, elo para aglutinar forças e transformar realidades.
Citou como exemplo as duas audiências públicas ocorridas em março e maio deste ano, nas dependências da Assembleia Legislativa e em Catanduva, sobre dois Projetos de Lei de sua autoria, o 405 e 406, ambos de 2016. O primeiro proíbe a pulverização aérea de defensivos agrícolas e o segundo, o uso e a comercialização de produtos que tenham clotianidina, tiametoxam e imidaclopride em sua composição. As duas audiências tiveram a participação de representantes pró e contra estas propostas.
"As abelhas são responsáveis pela polinização de 70% dos alimentos. O homem não se atentou para isso. Precisamos conciliar os interesses e preservar o meio ambiente", alertou Afonso Lobato, justificando a escolha do partido que representa, o PV. Afinado com a questão ambiental, ele lembra que esta temática está, por sua vez, ligada ao seu próprio ministério sacerdotal. Comentou que, em 2015, o Papa Francisco escreveu a encíclica ´Laudato Si", ou "O Cuidado com a Casa Comum", em que critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável.
Causas que defende
Em seus trabalhos na Alesp, Afonso Lobato tem procurado abraçar causas que correspondam a projetos que já pautavam sua vida eclesiástica. "A defesa da sustentabilidade e meio ambiente, saúde, segurança pública, notadamente na região do Vale do Paraíba", disse.
É de sua iniciativa a Frente Parlamentar em Defesa do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira - e também da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul (Ceivap). Em relação a esta última, esclareceu que 90% dos municípios dessa bacia não contam com estação de tratamento de esgoto e 150 toneladas de efluentes industriais orgânicos, sem contar os agentes tóxicos, que são despejados diariamente nesse rio. "O foco está no desenvolvimento sustentável", destacou.
No que se refere à segurança pública do Vale do Paraíba, a preocupação do parlamentar tem sido constante, pela própria característica da região: "Bastante violenta com média de um homicídio por dia; déficit de efetivo policial, de aproximadamente 400 policiais civis; e o fato de se situar entre as maiores capitais do País, São Paulo e Rio de Janeiro, que facilitaria o tráfico de drogas e armas", disse.
As Santas Casas receberam atenção especial de Afonso Lobato. Ele foi o relator da Comissão Parlamentar que investigou a situação desses estabelecimentos filantrópicos, concluindo que há subfinanciamento da Saúde, falta qualificação aos gestores e há desvios de recursos destinados às Santas Casas. Além disso, é de sua iniciativa a Frente Parlamentar em Defesa das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos e o Projeto de lei que destina 5% do valor auferido nos pedágios para essas entidades assistenciais (1377/2015) . "São tentativas de salvar as Santas Casas. Esses hospitais não têm recursos e, por vezes, quando têm verba, o dinheiro não é bem gasto", justificou.
Uma compreensão diferente
Na avaliação de Afonso Lobato, desde que entrou para a política, as coisas só pioraram. A seu ver, a política teria se desgastado, a ideologia partidária não mais existiria. Decepcionado? "Tem coisas que decepcionam. Mas em tudo é assim. Na vida, você se avalia, reavalia, se recoloca, se reorienta", ensina. Na sua opinião, a reforma política é mais do que necessária, mas "os políticos não têm coragem de fazer porque pode ser que corte alguns privilégios. Mas sem essa reforma não vamos encontrar caminhos. É preciso uma revolução, uma compreensão diferente da política", observou.
Afonso Lobato diz que é "duplamente cobrado e de maneira muito incisiva", pelo fato de ser padre e político. Porém, acredita que o seu papel é o de levar essas pessoas a entenderem que a política é a única ferramenta para a construção de uma sociedade melhor.
"Há uma via inteira para continuar nessa jornada", disse. E afirma que vai continuar enquanto se julgar útil e sentir que o seu trabalho está dando certo. "O que nos move não é o dinheiro, não é o poder, mas é esse conceito de que a política pode ajudar as pessoas", concluiu.
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