FuncionAL - Com vocês, Andrey.


10/07/2017 20:10 | Mateus Lima - Foto: Roberto Navarro

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Andrey Lemes da Cruz <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2017/fg205183.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Andrey Lemes da Cruz <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2017/fg205181.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Andrey Lemes da Cruz <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2017/fg205182.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Andrey Lemes da Cruz <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2017/fg205180.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Há sete anos trabalhando como tradutor e intérprete na Assembleia Legislativa de São Paulo, Andrey Lemes da Cruz tem a trajetória guiada pela garantia da acessibilidade e do direito à cidadania das pessoas com deficiência auditiva. Ele ingressou na área depois que percebeu as dificuldades que as pessoas com algum grau de surdez tinham para se comunicar.

Lemes pensou na atividade como profissão depois que um amigo pediu sua ajuda na tradução das aulas obrigatórias para retirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Com este auxílio, o amigo obteve a licença para dirigir. "Fiquei super realizado porque consegui fazer a diferença na vida de alguém", conta.

Após a experiência, o tradutor buscou se especializar. Atualmente é diretor-executivo da empresa EducaLIBRAS, instituição especializada na língua de sinais.

Segundo Lemes, em 2002 a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) passou a ser reconhecida como de estrutura própria depois que a Lei Federal 10.436/2002 foi sancionada. Trata-se de um conjunto de códigos gestuais usados para comunicação de pessoas surdas e foi oficializada por aquela lei.

Em 2006, foi aprovada a Norma Complementar 01, que exige recursos de acessibilidade na programação veiculada de sons e imagens e de retransmissão de televisão. A partir daí, abriu-se uma oportunidade de trabalhar no setor audiovisual.

Tradução no Parlamento

Em 2010, Lemes participou da implementação do projeto de acessibilidade na Assembleia. "O pessoal da TV Alesp disponibilizou uma sala e uma câmera. Trouxemos nossa equipe e começamos a fazer a tradução simultânea".

O serviço permite que os cidadãos com deficiência auditiva de todo o Estado saibam o que os deputados estão debatendo e quais são os projetos que estão aprovando.

A tradução simultânea é oferecida durante as sessões ordinárias e extraordinárias do Legislativo. O trabalho é realizado em duplas até que a sessão acabe. Os profissionais ficam em uma sala separada do Plenário onde recebem o áudio da reunião e realizam a tradução em tempo real. O prolongamento das discussões é algo recorrente no Legislativo (certos debates duram até 1h da manhã), mas isso não é empecilho para o trabalho dos tradutores: "o importante é estarmos aqui, disponíveis para prestar o serviço", declara.

Lemes lembra que a linguagem do meio político é diferente da utilizada em uma mesa de conversa com amigos. "São coisas que não falamos no nosso dia-a-dia, como PL (Projeto de Lei), decretos, obstrução, abstenção. Para o trabalho é necessário um entendimento de termos técnicos poucos utilizados."

Direito e acessibilidade

Uma das ferramentas para acompanhar o trabalho do Legislativo paulista é por meio da TV Assembleia. Nela, qualquer pessoa pode acompanhar em tempo real os debates da Casa, inclusive as pessoas com deficiência auditiva. "Dessa forma eles verão pela tevê se realmente a proposta que foi apresentada por aquele deputado é coerente", diz.

O intérprete se orgulha do trabalho desenvolvido. "Este serviço faz diferença na sociedade. Sem o nosso trabalho esse direito não poderia ser garantido." Ele também lembra os comentários recebidos de pessoas desconhecidas: "entram na internet para ver a transmissão da Assembleia e comentam agradecendo pela programação do plenário estar acessível". Para ele, falta apenas a instalação do recurso de áudio-descrição, um instrumento que explica o que está acontecendo no plenário.

No Estado de São Paulo, as pessoas com deficiência auditiva podem votar em seções especiais. Ao todo, 28 municípios do Estado contam com assistentes. Essa iniciativa integra o Projeto Libras, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), implantado pela primeira vez nas eleições de 2014. "Se as pessoas com surdez votaram em alguém, elas têm o direito de saber se esse alguém foi eleito e o que ele está fazendo na Assembleia. Eles têm o direito de saber, já que são obrigados a votar."

No Brasil o voto é obrigatório para todos os cidadãos com mais de 18 anos e menos de 70 anos de idade.

Formação

Andrey Lemes diz que "se expor" é o principal fator para se ter fluência em libras. "É preciso participar das associações de surdos, nas igrejas, escolas de surdos".

O intérprete de Libras tem a função de ser o canal comunicativo entre a pessoa surda e o interlocutor. Essa atividade exige estratégias mentais na arte de transferir o conteúdo e informações. "Hoje não existe um curso específico que vá ajudar alguém a adquirir fluência e domínio na Libras. Os cursos que existem como graduação, pós-graduações, cursos de extensão são para pessoas que já são fluentes em Libras."

A pessoa que pretende ingressar na área de tradução de libras deve ter principalmente bom conhecimento das duas línguas, portuguesa e Libras. O próximo passo é buscar formação para desenvolver técnicas de tradução e interpretação. "Como falamos de uma língua, um idioma, é necessário que a pessoa tenha primeiramente fluência."

Lemes já teve a oportunidade de conversar com um cidadão que estava passando pela Assembleia e não conhecia do serviço de tradução. "Ele era de outra cidade do interior. Veio conhecer. E não sabia que tinha Libras aqui, aí foi explicado para ele que pode acompanhar da casa dele, nos canais disponíveis. Ele ficou super feliz", conta.

Reconhecimento

De acordo com o IBGE mais de 9,7 milhões de pessoas no Brasil possuem algum tipo de deficiência auditiva, o que caracteriza 5,1% da população brasileira.

"Tenho certeza de que ajudo muita gente. Os deputados reconhecem o trabalho, até porque estamos o tempo todo ao vivo com eles". Ele cita a ação da deputada Leci Brandão (PCdoB), que no ano passado promoveu um evento em reconhecimento das mulheres negras. "Ela homenageou duas intérpretes da Casa, que são a Alessandra e a Silvia."

Lemes descreve o seu trabalho no parlamento como apartidário e observativo. Ele ressalta que outros parlamentares também reconhecem o trabalho da equipe de intérpretes. "Já aconteceu de a Assembleia ficar um dia sem intérprete. Isso gerou um burburinho danado na Casa. Os deputados reclamaram bastante, porque não estava sendo exibido o intérprete. Para os parlamentares isso praticamente já virou um hábito comum,"

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