Opinião - Quem se lembra da Carrocinha?


19/04/2018 15:13 | Feliciano Filho

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Felizmente, com a Lei Feliciano, que está completando 10 anos de existência, o que sobrou da antiga Carrocinha são apenas tristes lembranças. Quem se lembra da caçada de cães e gatos pelas ruas de São Paulo? De 1973 a 2008, o terror que percorria as ruas laçando brutalmente cães e gatos tinha o apelido de Carrocinha. Era um veículo do tipo utilitário, com uma caçamba adaptada para receber os animais capturados por agentes da prefeitura.

Em desespero, latindo e chorando, eles seguiam até o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para um cruel fim, que podia ser em câmara de gás ou de descompressão (que suga o ar e mata por asfixia), por injeção letal, choque ou a pauladas. Só escapavam da morte os animais que fossem resgatados pelos donos no curto prazo de três dias, pagando uma multa.

Em 17 de abril de 2008, quando foi sancionada a Lei Feliciano (12.916), do deputado Feliciano Filho, que passou a proibir a matança indiscriminada de animais de rua pelos canis municipais, a popu­lação paulista pode respirar aliviada. Afinal, tinham sido mais de 30 anos de crueldade contra os animais, fossem eles de rua, com donos, doentes ou saudáveis, filhotes ou até mesmo fêmeas gestantes.

A matança de animais de rua ou que simplesmente estavam na rua foi uma medida da prefeitura de São Paulo para prevenir a raiva. Mas, mesmo com a doença erradicada no estado, o CCZ continuou capturando centenas de animais por dia e matando milhares todos os anos, alegando controle populacional.

A minha lei propiciou uma mudança de paradigma, por isso já está sendo implantada na maior parte dos estados brasileiros. O controle populacional de cães e gatos sem matança e por meio da castração é, aliás, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Seguem relatos de quem testemunhou as tristes décadas da Carrocinha.

"Eu chorava quando os via pegando os bichinhos, nem dormia. Em Itaquera a Carrocinha passava direto e a gente xingava, tacava pedra e pedia para Deus proteger os bichinhos. Graças a Deus agora tem lei proibindo aquilo" " Regina Célia da Silva.

"Às vezes, na saída da escola, presen­ciava a Carrocinha pegando os cachorros. Eles gritavam! O cara tirava o cambão e arremessava o bichinho. Meu pai falava que eles faziam sabão deles. Que lembrança horrível, meu Deus!" " Luciana Lanzillo.

"Em 1990, estava grávida e vi a Carrocinha na avenida Angélica capturando uma cachorra recém-parida com dois filhotes. Gritei, bati no veículo e um rapaz veio me ajudar. Salvamos os três. Ufa! Quase perdi meu bebê que estava para nascer, mas valeu a pena!" " Luciana Brozzolin.

"Tinha um vira-lata chamado Duque na rua, que foi levado pela Carrocinha umas três vezes. Eu e meu pai íamos buscá-lo. Depois ele ficou tão esperto que quando a Carrocinha passava ele corria com a cabeça baixa para o laço não entrar nele e vinha se esconder em casa" " Fátima Antunes.

"Uma vez a Carrocinha pegou uma cachorrinha na frente da nossa casa. Do outro lado da rua tinha uma escola. Minha mãe gritava tanto que os alunos saíram para a rua e foram ajudar. Com o escân­dalo, soltaram a cachorrinha, que morreu velhinha" " Fátima Aguetoni.

"Quando a Carrocinha apontava na rua, todos nós começávamos a colocar os ca­chorros pra dentro. Certa vez, laçaram o Neguinho, cachorro de casa. Entramos em pânico e a vizinhança em peso foi ajudar! Por fim, o rapaz soltou o cachorro, que acabou morrendo de velhice. Não gosto nem de pensar! Ainda bem que não tem mais!" " Miriam Almeida.

Feliciano Filho é deputado pelo PRP

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