Especialistas e integrantes das polícias civil e militar estiveram reunidos para o debate "Segurança pública para quem?", ocorrido no Auditório Teotônio Vilela, na última quinta-feira (26/4). "Vivemos uma situação complicada, com números muito preocupantes. O Brasil é o campeão de homicídios, matamos mais pessoas do que guerras", disse a deputada Beth Sahão (PT), responsável pelo encontro. Ela destacou que há uma falha na forma como as polícias estão organizadas, como atuam no enfrentamento ao crime e como estão preparadas. "A justiça é morosa, há falta de investimentos e de pessoal. Há casos que levam até 10 anos para serem investigados e solucionados, e tudo isso reforça a impunidade. É uma justiça seletiva, cerca de 67% dos presos são negros e a maioria pobres", disse. Para Raquel Kobashi, delegada de polícia e presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, as políticas de segurança pública implementadas não apontam um caminho seguro e eficaz para uma solução. "Esse modelo atrapalhado, equivocado, adotado em São Paulo priorizou somente o patrulhamento militarizado e o empoderamento de outras instituições alheias à segurança. Como esperado, esse modelo falhou. Desde os ataques de 2006, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) dita as regras da criminalidade e a cada ano se fortalece e se expande para países vizinhos", declarou. Além disso, relatou a falta de efetivo policial. "Há um déficit de 12.274 policiais, e em 256 municípios do Estado, 40% das cidades paulistas, não há delegados." Para Alencar Santana, a segurança pública precisa de investimentos. "Está falida, já que temos a polícia que mais mata e a que mais morre. Há um equívoco grave em achar que a esquerda não gosta da polícia. Queremos uma polícia forte, porém não violenta e que não cometa ilegalidades e abusos", disse. O pesquisador David Marques, do Fórum de Segurança Pública, declarou que o Brasil gasta em torno de R$ 81 bilhões por ano com segurança pública, muito mais em proporção ao PIB do que os países da União Europeia. "É necessário construir uma governança em torno da segurança pública. Significa articular todos os atores responsáveis e deixar muito claro quais são, para que a sociedade possa cobrar desses atores os resultados devidos frente ao investimento feito", definiu Marques, que defende rever o modelo atual de segurança pública. Segundo a deputada Beth Sahão, a população deve cobrar um sistema policial ágil, com capacidade, tecnologias novas e um serviço de inteligência bem montado. "Precisamos de uma polícia bem remunerada e de tratamento equilibrado para pobres e ricos. Apresentaremos propostas importantes que poderão ser transformadas em projetos de lei, encaminhamentos e novas audiências e visitas às autoridades competentes. A sociedade também deve fazer parte desse debate", finalizou. A mesa foi composta pelo presidente da Associação Nacional dos Praças (Anaspra) Elisandro Lotin de Souza e pelo delegado Gustavo Mesquita Bueno, além dos citados na reportagem.