Segundo tipo de câncer mais comum entre homens e mulheres e primeiro em incidência e mortalidade, o câncer de pulmão e os desafios para contê-lo foram tema de evento no auditório Paulo Kobayashi da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na quinta-feira (1º/8). O encontro contou com o apoio do deputado Rafa Zimbaldi (PSB). "A Assembleia Legislativa é a Casa do povo e, a partir daqui, nós temos condições de divulgar muito mais. Não só no Estado de São Paulo, tenho certeza de que as outras assembleias legislativas e câmaras municipais que têm como chegar à população (com seus veículos de comunicação) podem ajudar nessa divulgação, assim, a nossa intenção é a conscientização", analisou. No dia 27/7, foi divulgado no Rio de Janeiro, durante o lançamento do Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a Epidemia Mundial do Tabaco, que o Brasil se juntou à Turquia como as duas únicas nações do mundo a implementar ações governamentais de sucesso sobre o tema, o que significa ter conseguido instituir as melhores práticas no cumprimento das estratégias preconizadas pela OMS. "Queremos ser primeiro mundo em saúde pública e na luta antitabagista. Queremos ser o primeiro país do mundo livre de tabaco. E isso depende de nós. Esse trabalho é muito focalizado no Ministério da Saúde, mas é feito pelos três poderes", declarou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante o lançamento do relatório. Mesmo estando no topo da tabela da OMS sobre a doença, tanto São Paulo quanto o Brasil, ainda necessitam de melhorias na prevenção e tratamento do câncer de pulmão. Estes desafios foram os temas centrais do encontro. O Radar do Câncer do Pulmão, do Instituto Oncoguia, lançado no evento, tem o objetivo, justamente, de retratar todo o cenário que os pacientes têm enfrentado sobre a doença no Estado e no país. Em 2016, último registro oficial de casos de câncer do pulmão no Brasil feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa era de 28.220 novos casos, porém os registros foram de apenas 6.915. A diferença entre os números foi o propulsor para que a ONG fizesse uma fotografia da doença por aqui. "Queremos chamar a atenção das autoridades, dos principais tomadores de decisão e de quem pode criar uma política mais efetiva de combate e controle do Câncer de Pulmão. Temos sucessos importantes no controle do tabagismo, mas queremos mais. Precisamos falar de estratégia de diagnóstico precoce, de acesso a especialistas e de como estamos tratando efetivamente esse paciente que depende muitas vezes do SUS. O Radar traz números alarmantes sobre a questão", declarou Luciana Holtz, presidente e fundadora do Instituto Oncoguia. Lei dos 60 dias A Lei 12 732/2012 diz que o paciente com câncer tem direito a se submeter ao primeiro tratamento no SUS no prazo de até 60 dias contados a partir do dia que for assinado o diagnóstico em laudo patológico. Porém, dados do levantamento do Instituto Oncoguia demonstram que no Estado 36% destes casos não tiveram início de tratamento no prazo estabelecido. Fiscalizar essa situação também é preocupação da entidade e por isso veio até a Assembleia Legislativa discutir o tema. "Olhando os nossos casos registrado no mapa do radar, especificamente São Paulo, temos 1.775 casos registrados e destes, 36% estão descumprindo a lei. Sem contar outro dado alarmante: 83% das descobertas da doença estão em estágio avançado", acrescentou Luciana Holtz. Tabagismo: o vilão Segundo dados do Inca, a doença foi responsável no Brasil, em 2015, por mais de 26 mil mortes. Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Para a doutora Clarissa Mathias, oncologista clínica e membro do Conselho do International Association for Study of Lung Cancer (IASLC). "Um dos casos de maior crescimento no mundo é o câncer de pulmão em não fumantes e o grande vilão deste fator é o fumo passivo com usuários fumando dentro de casa ou em ambientes fechados e colocando a população à exposição de toxinas relacionadas ao cigarro", contou. O principal objetivo da análise de dados do Radar do Câncer do Pulmão é a prevenção. "Existem vários estudos que mostram a importância do rastreamento para a detecção precoce e cura do câncer de pulmão, com uma média de redução de mortalidade em torno de 20%," concluiu a doutora. No Brasil é oferecido tratamento para o tabagismo em mais de quatro mil unidades de saúde, a maioria (91%) na Atenção Primária, a porta de entrada do SUS. No Estado de São Paulo há um programa de tabagismo no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod). "O tabagismo é uma doença crônica, a primeira causa de morte evitável no mundo e a terceira se for falar em tabagismo passivo. Muito importante trazer essas questões para cá. Fala-se muito em drogas e o tabagismo é oriundo de uma substância psicoativa que é a nicotina e deve ser encarada como tal", ressaltou Sandra Silva Marques, coordenadora do Cratod. Irma de Godoy, presidente eleita na Sociedade Brasileira de Pneumologia ressalta o trabalho feito na comissão de tabagismo da entidade. "Nossa comissão é extremamente ativa. Em agosto no congresso médico será liberada uma nova recomendação para o tratamento do tabagismo. Fomos os primeiros a conseguir habilitar pneumologistas em tratar tabagismo que, por incrível que pareça, em sua maioria não sabe proceder corretamente", contou. Dentre as medidas implementadas no país, podemos destacar o compromisso assumido pelo Ministério da Saúde, em 2018, durante a 42ª Reunião Ordinária de Ministros de Saúde do Mercosul, de ajudar a eliminar o comércio ilícito de produtos de tabaco.