Cantora, letrista, poetisa, teatróloga, escritora e ativista, Maria Evangelina Leonel Gandolfo - falecida em 2014 - atuou em várias frentes em sua luta pelas mulheres no rock e a visibilidade LGBTQIAP+ no Brasil. Mais conhecida pelo seu nome artístico Vange Leonel, ela continua a ser referência para as novas gerações. Para reverenciar sua memória e provar que seu legado continua cada vez mais vivo, foi realizado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo um ato solene em sua homenagem na quinta-feira (4). A data escolhida não foi ao acaso; Vange faria 60 anos e foi lembrada com muito carinho por todos. Para o deputado Carlos Giannazi (PSOL), que respondeu pela organização do evento, o que se viu foi mais um marco de que o Legislativo paulista é um espaço plural e em sintonia com a sociedade. "Estamos celebrando a vida e a obra de Vange Leonel. Ela foi uma visionária, uma pessoa multimídia com várias atividades artísticas e um envolvimento político importante em relação aos movimentos feministas e LGBTQIAP+. Vange era uma protagonista num momento em que esses temas não eram tão abordados", afirmou o parlamentar. Noite Preta Vange ficou conhecida nacionalmente com a música "Noite Preta", tema da novela Vamp, da Rede Globo. Mas se engana quem pensa que sua trajetória começou aí. Ela integrou a banda Nau nos anos 1980, como vocalista e letrista, abrindo caminhos para as mulheres no rock nacional. Como escritora, publicou em 1999 a obra Lésbicas; Grrrls: garotas iradas, em 2001, além de As sereias da Rive gauche, em 2002, e Balada para as meninas perdidas. Uma das presentes à homenagem foi a atriz Marisa Orth, que enalteceu o pioneirismo da amiga de infância. "Nos conhecemos na escola. Pra mim, parecia que ela estava sempre 20 anos à frente de todos nós. Acho linda e fundamental essa homenagem. Vange foi uma pessoa politicamente ativa e é absolutamente importante que a gente esteja no maior lugar de representatividade política do Estado para falar dela e homenageá-la. A história se faz com heróis", disse Marisa. No teatro, Vange foi autora de As Sereias da Rive Gauche (2002), peça dirigida por Regina Galdino, e Joana Evangelista (2006). Companheira Homossexual assumida, Vange foi casada por 28 anos com Cilmara Bedaque, que também era sua parceira nas letras musicais. Vivendo muitos momentos de emoção, ela participou da homenagem recheada de depoimentos que transbordavam carinho. "Éramos companheiras em todos os sentidos. Vange sempre teve a sua veia política aflorada. A primeira coluna voltada ao público gay na grande imprensa brasileira foi a dela, na Folha de S. Paulo", lembrou Cilmara. "Pelo fato de estarmos na Assembleia, achei que seria uma coisa mais formal. Nós não éramos muito afeitas a formalidades. Mas, vendo tanto carinho nesse espaço, é uma alegria estar aqui com todos esses amigos. A obra de Vange continua viva", agradeceu.