'O ser humano não é máquina': Alesp reforça prevenção às lesões por esforço repetitivo
28/02/2025 14:26 | Cuidados | Gabriel Eid e Gabriel Sanches - Fotos: Larissa Navarro e Freepik



O Dia Internacional de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/Dort) é celebrado em 28 de fevereiro graças às leis estaduais produzidas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. A data chama a atenção para um problema de saúde pública que afeta milhares de trabalhadores no Brasil. Caracterizadas pelo desgaste dos tecidos que sustentam o corpo, essas lesões atingem, principalmente, pescoço, braços, antebraços e costas, impactando a qualidade de vida e a produtividade.
A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 apontou que 2,5% das pessoas com 18 anos ou mais no Brasil relataram ter LER/Dort. Isso significa que, entre 165 milhões de brasileiros, aproximadamente 412 mil afirmaram ter a condição. De acordo com a mesma pesquisa, na área urbana a proporção aumenta para 2,7% da população, enquanto na área rural, o percentual era de 1,2%. Mulheres apresentaram mais relatos (3,2%) em relação aos homens (1,7%).
Os setores mais impactados são os digitadores, caixas de supermercado, costureiras, cozinheiros, escriturários, telemarketing, e trabalhadores de indústrias. Engenheiro especialista em saúde do trabalhador e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Rodolfo Vilela aponta que é importante refletir sobre a organização do trabalho ao analisar esses dados. "Tem muita confusão nessa área. Tem gente que coloca a culpa apenas no indivíduo. O ser humano não é máquina, ele tem limites. É necessário levar em consideração diversos fatores, como equipamentos, ambiente, contrato, ferramentas, divisão de trabalho, processo de produção", afirma.
Atuação da Alesp na proteção dos trabalhadores
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo tem um papel fundamental na proteção dos trabalhadores, debatendo medidas para fiscalização das condições de trabalho e elaboração de políticas públicas voltadas à saúde ocupacional. O especialista Rodolfo Vilela aponta que a construção destas políticas exige a identificação dos locais e ofícios com a maior incidência de casos para que o Poder Público possa interceder corretamente. "É um desafio que requer toda uma articulação de setores sociais, do trabalho, previdência e saúde", afirma.
As Leis Estaduais 10.738/2001 e 12.103/2005, propostas e aprovadas pela Casa, incluíram no Calendário Oficial do Estado os dias de conscientização sobre as LER/Dort.
Em 2017, por exemplo, o INSS registrou que 22.029 trabalhadores foram afastados por mais de 15 dias devido a doenças relacionadas às LER/Dort, representando 11,19% de todos os benefícios concedidos no ano. Rodolfo destaca que o investimento na prevenção através de condições de trabalho adequadas traz benefícios para a qualidade de vida da população e para os cofres públicos. "É um dinheiro público - da previdência - gasto com algo que é evitável."
Sinais e causas da doença
A pesquisadora da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Maria Maeno, explica que as LER/Dort englobam uma série de diagnósticos, como tendinite, síndrome do túnel do carpo e síndrome miofascial, todas relacionadas à sobrecarga no sistema neuromusculoesquelético. Os primeiros sinais costumam ser dores que aparecem durante o expediente e aliviam nos momentos de folga, mas, com o tempo, a dor se torna constante, podendo vir acompanhada de formigamento e dormência. Rodolfo Vilela complementa e alerta que essas características podem fazer com que o diagnóstico seja muito tardio, seja confundido com outras patologias ou não seja tratado da melhor forma, o que leva a estágios avançados da doença.
Segundo Maeno, o problema não está apenas na execução repetitiva de tarefas, mas na forma como o trabalho é estruturado. "Se uma pessoa digita um parágrafo curto em uma cadeira comum, em geral, não acontece nada. Se uma pessoa desossa um frango em uma mesa qualquer tampouco ela vai ter lesões. O grande problema é que os processos de trabalho são concebidos para produzirem o mais rápido possível, com o menor custo e com o máximo de produtividade", alerta.
Prevenção e responsabilidade dos empregadores
A prevenção das LER/Dort exige a implementação de medidas ergonômicas, pausas regulares e programas de conscientização sobre práticas laborais saudáveis. No entanto, para Maeno, essas medidas precisam ser acompanhadas por uma mudança estrutural na forma como o trabalho é organizado. "Criar um mundo em que a vida vá além do trabalho" é, segundo ela, um dos desafios centrais para garantir a saúde dos trabalhadores. Isso significa repensar jornadas exaustivas, eliminar a pressão por metas inatingíveis e permitir que as pessoas tenham tempo para descanso e recuperação. Sem essa transformação, a pesquisadora alerta que as doenças ocupacionais continuarão a crescer, impactando não apenas os indivíduos, mas também a economia e o sistema de saúde.
O tratamento das LER/Dort depende das estruturas afetadas, mas costuma envolver um acompanhamento multidisciplinar, com intervenções para alívio dos sintomas físicos e suporte psicológico, especialmente nos casos crônicos.
Perigo nos frigoríficos
Os trabalhadores de frigoríficos estão entre os mais vulneráveis às LER/Dort devido à alta exigência física de suas atividades. Em ambientes frios, com ritmo acelerado e tarefas repetitivas, como o manuseio de facas para desossa e cortes precisos, esses profissionais enfrentam uma sobrecarga intensa nos músculos e articulações. A falta de pausas adequadas e a pressão por produtividade agravam o problema, tornando as lesões uma realidade comum no setor.
Estudos apontam que trabalhadores frigoríficos têm índices elevados de afastamentos por doenças osteomusculares, demonstrando a urgência de medidas preventivas, como revezamento de funções, pausas regulares e adaptação ergonômica dos postos de trabalho. O setor foi destaque na última convenção da Fundacentro, realizada neste mês para discutir os desafios na prevenção às LER/Dort.
"Como os funcionários trabalham muito próximos uns aos outros e com facas, o risco de um cortar o outro, há desconforto térmico, com temperatura baixa, utilização de roupas pesadas, somente os olhos ficam descoberto. Há exigência de movimentos repetitivos, cobrança de produtividade, risco de doenças infecciosas", explica a pesquisadora Maria Maeno.
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