Dia da Imprensa Interiorana lembra papel do jornalismo para o desenvolvimento das cidades paulistas

Data, criada e aprovada na Alesp nos anos 1990, celebra a importância dos veículos de comunicação - e seus profissionais - para o fortalecimento da cidadania no estado
30/05/2025 16:00 | Comunicação | Fábio Gallacci - Fotos: Rodrigo Costa e Arquivo Pessoal

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Redações jornalísticas: vozes dos municípios<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg346106.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Marcel Cheida, professor: legado da imprensa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg346107.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Socorro Veloso, professora: força da visão local <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg346108.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ricardo Mello, jornalista: tudo ao mesmo tempo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg346109.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Uma imprensa livre, ativa e forte é um dos pilares da democracia. Seja nos grandes centros ou nos menores municípios, seu papel é apontar questões, provocar debates, apresentar perspectivas e discutir soluções que fortaleçam a transparência e a cidadania. Com o objetivo de valorizar jornalistas e veículos de comunicação regionais, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou a Lei 9.995/1998, de autoria do ex-deputado Kito Junqueira, que institui o "Dia da Imprensa Interiorana", sempre lembrado em 26 de maio.

A data remonta ao dia de fundação da Associação dos Jornais do Interior do Estado de São Paulo (Adjori-SP) e, apesar dos mais diversos desafios que se apresentam para que os jornalistas do Interior exerçam com liberdade e autonomia a sua função, a homenagem tenta dar apoio para que essa missão se mantenha relevante.

"Este é um reconhecimento da fundamental importância do papel que os jornais e seus respectivos jornalistas desempenham cotidianamente. Mantêm a tarefa de informar enfrentando condições de mercado, muitas vezes, desfavoráveis. Porém, mesmo assim, cumprem com a missão de levar à casa de seus leitores os principais temas que dizem respeito à vida ou o que está ao seu redor, sem deixar de inseri-los no conteúdo nacional e internacional", afirmou o ex-deputado Junqueira no texto de justificativa de seu então projeto de lei na década de 1990.

Em suas diversas formas e linguagens, sejam os tradicionais jornais impressos, estações de rádio, emissoras de TV ou os atuais portais, blogs, vlogs e mídias sociais, a imprensa local tem o papel de ser um canal direto de comunicação entre a sociedade e o poder público, por exemplo. Em um mundo totalmente globalizado, onde notícias de outro lado do planeta chegam em questão de segundos, segue sendo importante "conversar" com o público local, gerar identificação e, principalmente, criar um canal de transformação.

"A imprensa local no estado de São Paulo tem um legado extraordinário na formação política, econômica e cultural. Jornais protagonizaram episódios decisivos para o Brasil. Como na região de Campinas e Itu, onde, pela imprensa, o movimento republicano encontrou elementos e personagens de grande influência como Campos Salles, Francisco Glicério, entre outros. Temos jornais longevos que se confundem com a história local e regional. Os veículos locais pautam assuntos diversos e se tornam porta-vozes de demandas. Os deputados estaduais, representantes das regiões interioranas, são leitores dos jornais locais e regionais para ajudá-los em suas pautas", exemplifica Marcel Cheida, professor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas.

Relevância

Para Socorro Veloso, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutora em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo), manter o papel de relevância da imprensa do Interior paulista e brasileiro é algo urgente, especialmente pelas grandes distâncias que o país possui. Fortalecer a imprensa local é ampliar a luz sobre o cotidiano de cada comunidade.

"Veja, por exemplo, o caso da Região Amazônica. Nós já tivemos um jornalismo que cobriu de uma forma mais pujante, mais efetiva, o interior da Amazônia nos anos 1970 e 1980, que faziam amplas coberturas. Não temos mais isso, a não ser trabalhos pontuais", lamenta a professora.

Ainda de acordo com ela, os jornais locais enfrentam, como os de circulação regional e abrangência nacional, o desafio da ruptura de linguagem e das práticas comerciais e de consumo decorrentes da internet, que atraiu boa parcela das receitas da publicidade e propaganda da mídia tradicional.

"Mas a produção noticiosa permanece e se expande com a mídia digital também. Os jornais impressos, as emissoras de rádio e televisão locais ou regionais estão aprendendo a explorar os recursos digitais. Produtores autônomos, independentes, surgem nesse cenário com canais em redes sociais para a divulgação de informações diversas. Os autores desses canais vivem nos bairros, nas comunidades e conhecem a cultura hiperlocal, algo que nem sempre as redações dominam", aponta Socorro, mostrando que é possível a convivência da visão local com o aspecto macro do noticiário.

Digital

O jornalista Ricardo Mello, criador do canal Explicador-Geral da República, no Youtube - com quase 300 mil seguidores - e uma página no Instagram, que está na casa dos 150 mil, reforça que a imprensa local segue importante mesmo em um ambiente cada vez mais digital, vasto e diversificado.

"A gente vê muitos canais, muitas páginas de rede social e canais de internet focados na realidade local. Você ainda precisa discutir o que acontece na sua esquina, no seu bairro, no seu quarteirão. A questão é que, agora, você tem a facilidade de a notícia estar na sua mão. Por isso, a imprensa pode e deve participar da discussão local, nacional e até internacional ao mesmo tempo", analisa Mello.

"Então, você tem um aumento da oferta de opiniões e de análises porque aquele sujeito que fala do problema do bairro, do posto de saúde, da falta de escola, de saneamento básico, ao mesmo tempo, também pode falar sobre os assuntos nacionais que vão provocar impacto na vida de todos regionalmente", acrescenta o jornalista.

Desertos

Para completar, fica o alerta da jornalista Socorro Veloso, que cita um estudo realizado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), o Atlas da Notícia, que mapeia o jornalismo local e identifica os chamados "desertos de notícias". O levantamento mais recente mostra que cerca de 2,7 mil dos 5.570 municípios brasileiros - 49% - não têm nenhum tipo de iniciativa local de jornalismo. "Um número perturbador, não é?", questiona a professora.

alesp