Pulmão de São Paulo, Parque Ibirapuera abriga serviços de preservação e educação ambiental

Completando 71 anos de história, Parque sedia órgãos que manejam fauna silvestre e promovem cursos gratuitos para população paulistana
21/08/2025 18:49 | Biodiversidade | Gustavo Oreb e João Pedro Barreto - Fotos: na legenda

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Parque Ibirapuera completa 61 anos - Rodrigo Costa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351279.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Pica-pau-de-cabeça-amarela - Rodrigo Romeo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351280.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Viveiro Manequinho Lopes - Divulgação: Pref. SP<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351281.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Biguatinga - Acervo DFS/ Leticia Zimback<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351269.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Azulinho registrado em monitoramento - Acervo DFS<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351270.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Gambá-de-orelha-preta atendido - Acervo DFS<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351282.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Escola Municipal de Jardinagem - Arquivo pessoal<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351283.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Passarinhada em SP - Acervo DFS/ Pietra Venegas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351284.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Giovanni Pupin - Julya Lopes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351271.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Curso de Orquídeas EMJ - 2014 - Arquivo pessoal<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351288.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Curso Fitoterapia e Plantas Medicinais - Arquivo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351289.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Aula de Jardinagem EMJ - 2000 - Arquivo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351290.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Aniversário 50 anos EMJ - Arquivo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351291.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Antes mesmo da concepção de sua ideia, o espaço que hoje abriga o Parque Ibirapuera já dava indícios do quão importante se tornaria para o ecossistema da cidade de São Paulo. Chamado de "Yby-ra-puêra" ou "árvore apodrecida" pelos povos indígenas, no início do século passado, o local consistia em uma área pantanosa e alagada, imprópria para a circulação de pessoas. Até que, no ano de 1927, um personagem mudaria por inteiro o propósito daquela região: Manoel Lopes de Oliveira Filho, o "Manequinho Lopes", diretor da Divisão de Matas, Parques e Jardins da prefeitura na época.

"Naquele tempo não existia parque. Eram 10 milhões de metros quadrados de terras públicas. Manequinho Lopes foi quem trouxe a ideia de que um parque público seria um serviço público essencial para a população. A cidade precisava ter um local de convivência e contato com a natureza", explica a bióloga da Escola Municipal de Jardinagem (EMJ), Ana Maria Brischi. As primeiras incursões de Manequinho naquela área dariam início ao viveiro que hoje leva seu nome.

"Manequinho começou a valorizar as espécies nativas e a produzir mudas para transformar o lugar. É um espaço que mantém a cidade um pouquinho mais verde desde então", conta ela, cuja trajetória no parque começou em 1992, trabalhando no Viveiro Manequinho Lopes, exatamente o pedaço onde tudo começou a se transformar na região. As mudas de diversas espécies vegetais produzidas ali no viveiro eram - e ainda são - usadas para ajardinar as áreas verdes da Capital.

Depois de passar pela Divisão de Fauna Silvestre (DFS), Ana Maria entrou para a Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (Umapaz), que é a Coordenação de Educação Ambiental da Capital. O viveiro e os dois órgãos da prefeitura ficam sediados em anexo ao Parque Ibirapuera. "Crianças, adultos e idosos conseguem interagir com uma grande diversidade de flores e animais. O viveiro, criado há quase 100 anos, é só um pedaço do parque, mas, foi pensado com tanto cuidado e com uma diversidade de plantas que, quase sempre, é possível observar bichos diferentes por aqui", destaca a bióloga.

Mesmo atravessando gerações, o espaço permanece repleto de significado e preocupação com o meio ambiente da maior metrópole da América Latina. Diante disso, no aniversário de 71 anos da inauguração do parque, celebrado nesta quinta-feira (21), nada mais justo do que reconhecer e relembrar a história dos órgãos que, silenciosamente, mantêm a alma do parque - e de toda a Capital paulista - viva, seja na forma de sua rica fauna ou de sua flora exuberante.

Trampolim ecológico

"O Parque Ibirapuera é um exemplo de sucesso na criação de um ecossistema, porque ele foi praticamente todo criado. A maioria das árvores foram plantadas aqui, num lugar antes comum, mas que se estabeleceu como uma imensa área verde que atrai e serve de moradia para diversos animais", aponta o biólogo da Divisão de Fauna Silvestre, Giovanni Pupin.

Assim como outras áreas verdes de São Paulo, Pupin explica que o Ibirapuera serve também como um tipo de trampolim ecológico. Ou seja, se uma ave está numa região e precisa migrar para outra, ela utiliza esses espaços para descansar e se alimentar para, enfim, chegar ao seu destino.

"Um exemplo que registramos desse movimento foi a araponga, uma ave tipicamente associada com mata conservada, muito avistada na Serra do Mar. Então, provavelmente, ela estava se deslocando de uma área para outra e parou no Ibirapuera para conseguir dar sequência no seu percurso", relembra Pupin.

Esse ecossistema extremamente funcional não seria possível sem uma vegetação variada, bem planejada e cuidada, no entanto. O planejamento paisagístico final do parque, de Otávio Augusto Teixeira Mendes, visava uma vegetação atraente e que representasse a diversidade regional. Só que, sem o trabalho prévio de Manequinho Lopes, a história seria diferente, segundo Ana Maria Brischi.

"Ele foi responsável pela iniciativa de plantar centenas de eucaliptos, drenando o excesso de água e umidade, recuperando o solo. Afinal, trata-se de um brejo com lençol freático superficial. Por isso há tantos eucaliptos no Ibirapuera, eles têm uma importância histórica e simbólica muito grande", ressalta ela. Apesar de exóticos, os eucaliptos interagem com a fauna do parque, servindo de abrigo para aves.

Localizada no centro do parque, a Praça da Paz - 'Rita Lee' é outro exemplo vívido dessa imensa variedade de espécies - cuidadosamente escolhidas - da flora da região. O espaço abriga espécies de árvores distintas dos cinco continentes, como exemplares de dendezeiros africanos, álamos da Europa, flores de abril, da Índia, e melaleucas, da Austrália, além de espécies brasileiras, como o pau-brasil, nativo da Mata Atlântica. Por isso, recebeu o seu nome, como forma de simbolizar e inspirar a cultura de paz entre as nações.

Monitoramento e cuidado

Para cuidar dos animais do Ibirapuera e de toda a cidade de São Paulo, a Divisão de Fauna Silvestre (DFS) realiza monitoramentos periódicos das espécies que vivem nas áreas verdes da Capital. Desde 1993, a DFS produz um inventário com todas as espécies avistadas no município, o número chegou a 1.453 animais diferentes no final de 2024.

"O monitoramento envolve várias metodologias científicas, mas, resumidamente, a gente sai para fazer uma trilha e, durante o percurso, vamos vendo e escutando os bichos e registrando quantidade de indivíduos, comportamento, reprodução e tudo que for interessante", explica Pupin.

Outra forma de registrar os animais é usando uma rede, que os captura, principalmente em situações de baixa visibilidade, como na neblina ou no início da manhã. Esse monitoramento é feito no Ibirapuera e em outros dois espaços da Capital: um em Perus, na Zona Norte, e outro em Parelheiros, Zona Sul.

Depois de pegá-los, os técnicos podem avaliar as condições físicas, identificar e registrar os animais. Essa identificação, no caso dos pássaros, é feita com anilhas, presas na pata do animal. "Se um filhote cai do ninho e precisa de cuidado médico veterinário, ele vem para cá e fica sob observação até retornar. Após a reabilitação, ele é encaminhado para soltura com uma anilha com a numeração da prefeitura. Com isso, a gente sabe que aquele animal passou por aqui, recebeu tratamento e temos todo o histórico dele", comenta o biólogo.

Esses dados subsidiam as decisões tomadas pela DFS e ajudam a entender se o trabalho realizado pelo órgão está sendo bem desenvolvido. "Pegamos na rede uma maitaca-verde que tinha sido solta por nós e vimos que ela aumentou o peso depois da soltura. Isso significa que o animal está comendo bem, ele estava com um comportamento normal para uma ave em vida livre", conta Pupin. "Então, a gente começa a moldar o nosso trabalho para poder atender e cuidar dos bichos da melhor forma na cidade", complementa ele.

Além do acompanhamento das espécies, a Divisão ainda realiza atendimento veterinário para animais silvestres nativos encontrados no município com algum tipo de ferimento. Segundo Giovanni Pupin, o gambá-de-orelha-preta, conhecido como saruê, é o paciente mais comum.

Em suma, qualquer cidadão que encontrar um animal silvestre na Capital pode entrar em contato com a DFS pelo whatsapp (11) 95220-0219 para informar a ocorrência. Por lá, os técnicos vão analisar se o animal está bem e pode ser solto diretamente na natureza ou se precisa de atendimento veterinário e deve ser encaminhado para a Divisão para receber cuidados.

Nos últimos anos, a DFS já recebeu e cuidou dos mais diversos animais. Entre eles está, por exemplo, o caso da bugio Binha, resgatada em 2001. Ela se destacou pela inteligência e comportamento amoroso e foi solta em uma área verde da Capital, onde cuidou dos filhos, netos e bisnetos. Apesar de ter morrido durante a crise de febre amarela anos atrás, ela é considerada exemplo de sucesso no trabalho desenvolvido pela equipe da divisão.

Outro caso emblemático foi quando o órgão recebeu uma pinto-de-água-carijó, ave da família Rallidae. Ela foi resgatada em um quintal na Zona Leste de São Paulo porque não conseguia voar. O fato curioso é que essa espécie é extremamente rara e só foi registrada três vezes no Brasil em toda a história. Uma delas, inclusive, por Charles Darwin, que descreveu a ave quando passou pelo Brasil durante sua expedição no navio Beagle, viagem que deu subsídio para o seu famoso livro "A Origem das Espécies".

Cidade amiga da fauna

Dentre as atividades da Divisão, promover políticas públicas que tornem a cidade de São Paulo menos agressiva para a fauna é um dos papeis essenciais da instituição, segundo Pupin. "O nosso esforço é voltado para criar diretrizes que tornem a cidade melhor para os animais e, dessa forma, promover a coexistência humana com a fauna dentro da cidade de São Paulo." Refletindo justamente essa visão do biólogo, foi lançado, em 2024, o Manual Cidade Amiga da Fauna.

"Temos capítulos dedicados a explicar quais são os principais conflitos entre humanos e fauna e como evitá-los. Já outros, explicando como deixar o seu jardim mais atrativo para os bichos, sugerindo alternativas de paisagismo, mudas que podem ser plantadas e demais cuidados para que o ambiente seja sustentável", detalha o biólogo. "Qualquer pessoa que pegar esse manual consegue ler, entender e aplicar, seja na sua casa, na cidade, na empresa, em qualquer lugar", diz ele.

Logo que chegou à Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (Umapaz), Ana Maria Brischi e sua colega bióloga Linda Lacerda seguiram uma ideia semelhante e resolveram colocar em prática o curso Jardins Amigos da Fauna, no ano de 2017.

"A partir do momento que você planta uma muda, vêm os bichos, os insetos e os passarinhos. O jardim é um espaço de interações ecológicas. Existem técnicas específicas para cada tipo de interação. Algumas plantas vão atrair polinizadores, como por exemplo beija-flores e borboletas, que vão pegar o néctar das flores. Existem também os exemplares que rendem frutos e, consequentemente, atraem insetos e pássaros frugívoros, e isso cria todo um ecossistema funcional que, de fato, qualquer um pode criar de um jeito simples", afirma Ana Maria.

Educação ambiental

Além de todos os serviços prestados, a Divisão de Fauna e a Umapaz possuem uma função fundamental na cidade: a promoção de educação ambiental aos munícipes. Criada em 2006, a universidade promove cursos totalmente gratuitos sobre os mais diversos temas, que envolvem o meio ambiente e a cultura de paz, além de gerenciar os planetários municipais.

As atividades e cursos buscam incentivar a participação social na melhoria do meio ambiente, conscientizando a população sobre os cuidados com os recursos naturais e o equilíbrio para uma convivência harmônica entre ser humano e natureza.

Entre as equipes que compõem a Umapaz, está a Escola Municipal de Jardinagem (EMJ), que completou 50 anos nesta terça-feira (19). A EMJ é muito mais antiga que a própria Umapaz. Fundada oficialmente em 19 de agosto de 1975, ela surgiu de um antigo curso de jardineiros oferecido para trabalhadores responsáveis pelo setor na prefeitura e para cidadãos comuns.

"A escola existe antes até de se falar em educação ambiental. Ela já fazia isso porque uma das justificativas do curso era, além de formar jardineiros, conscientizar as pessoas da importância das áreas verdes e da preservação ambiental. Então a gente considera até um pioneirismo da EMJ nessa questão", afirma Ana Maria.

Para ela, a presença da Escola e da Universidade dentro do Parque Ibirapuera é fundamental. Estar dentro de um espaço como esse dialoga diretamente com o conteúdo oferecido pela instituição de ensino. "Aí entra o papel do educador ambiental. Dá para aprender muita coisa nessa cidade. As pessoas acham que aqui só tem pomba, pardal e rato, mas São Paulo tem uma biodiversidade incrível e os parques são o abrigo dela. A gente usa muito o Ibirapuera, ele é o nosso laboratório", defende a bióloga.

Ela cita algumas atividades desenvolvidas pela Umapaz, como as trilhas pelo parque e a "aventura ambiental", que recebe crianças em visitas monitoradas. "Para elas, é um dia de campo, elas sentam no gramado, tomam sol, é onde elas podem enxergar uma borboleta", comenta Ana Maria.

Na Divisão de Fauna, é promovida o Vem Passarinhar SP, atividade que reúne especialistas e qualquer munícipe que se interessar, para observar aves nas várias áreas verdes da Capital. "Temos como princípio promover a conscientização ambiental e a divulgação científica. Isso é o que chamamos de ciência cidadã. Toda criança, adulto ou idoso pode promover ciência", explica o especialista, Giovanni Pupin.

50 anos da escola

A Escola Municipal de Jardinagem vem ampliando sua grade de cursos, buscando suprir as demandas ambientais da sociedade. Ela já atendeu mais de 25 mil alunos em sua história e promoveu 1,2 mil atividades nos últimos dez anos. O diretor da EMJ, José Francisco Armelin, coloca como objetivo ampliar as atividades e garantir que todos os paulistanos interessados em jardinagem e temas ambientais tenham acesso às atividades que promovem. "O maior desafio é fazer ela ser mais conhecida. O nosso intuito é que o Centro de Educação Ambiental não fique só no Parque Ibirapuera."

Ana Maria diz ouvir, frequentemente, relatos de que a EMJ teve papel essencial na vida de muitos alunos, na mudança de carreira e na superação de momentos difíceis. "Muita gente fala que veio para cá porque estava em depressão. Muita gente vem buscando ajuda, chega aqui em um momento que está meio perdido, em um momento de transição na vida, vem fazer uma coisa que gosta e, de repente, as pessoas se encontram. O contato com a natureza melhora a saúde, ela é remédio", conta a bióloga.

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