A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo concedeu, nesta segunda-feira (1º), o Colar de Honra ao Mérito Legislativo a Harley Nascimento, fundador do Fundo Positivo, por seu trabalho no combate ao preconceito e à desinformação sobre o HIV/Aids.

A homenagem ocorreu simbolicamente no dia mundial de luta contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro. A solenidade, promovida pela deputada Thainara Faria (PT), também reuniu ativistas, movimentos sociais e pesquisadores para reafirmar a importância de políticas públicas, da defesa do SUS e do enfrentamento ao estigma que ainda marca a vida de pessoas com HIV.

"São Paulo tem um papel central no combate à Aids e precisa assumir sua responsabilidade diante do mundo ao pautar questões que afetam diretamente a população", afirmou Thainara Faria. Para a deputada, o debate sobre HIV/Aids exige reflexão sobre quem é colocado no poder, para promover políticas públicas efetivas, e também da importância de dar visibilidade à prevenção e tratamento.

O deputado Guilherme Cortez (Psol) destacou que as pessoas que vivem com a doença seguem enfrentando tentativas de silenciamento, seja pela violência direta, estigmas, ódio ou pela negação do acesso à saúde. "Que essa data sirva como momento de reflexão sobre desafios, conquistas e, sobretudo, de inspiração e empoderamento para as lutas futuras", disse.

Luta histórica e alertas

Com mais de 40 anos de atuação, o ativista histórico do movimento de Aids, Alberto Carlos Andreone lembrou as perdas de amigos e afirmou que o Dia Mundial de Luta contra a AIDS deve ser um dia de reflexão e luta. "Faltam campanhas de visibilidade, só a internet não basta. Nossos ativistas estão indo embora", disse.

Andreone chamou atenção para o envelhecimento das pessoas que convivem com HIV, que são mais suscetíveis a comorbidades como doenças cardíacas, diabetes, câncer e declínio cognitivo. O ativista alertou ainda para a banalização do HIV, reforçando que a infecção segue sem cura e que muitas pessoas continuam morrendo por falta de informação ou de acesso a tratamento, especialmente nos lugares mais afastados e vulneráveis. Para ele, "sair do armário do estigma é mais difícil do que sair do armário da sexualidade".

A antropóloga e pesquisadora clínica, Pisci, destacou que o mundo vive atualmente um momento crítico da epidemia e que o Brasil se tornou referência internacional graças ao protagonismo das "articulações comunitárias, movimento social, lutas de rua, das travestis, que construíram respostas pioneiras dentro do SUS e ensinaram a sociedade a trabalhar e a entender como é o cuidado com HIV/Aids, especialmente com a população mais marginalizada".

Pisci alertou ainda para o corte crescente de financiamentos em escala global e reforçou que HIV/AIDS não é um problema individual, mas uma questão de saúde coletiva. "É fundamental debater e articular soluções de forma comunitária", disse.

Nesse sentido, a codeputada da Bancada Feminista, Carol Iara, ressaltou que não é preciso viver com HIV para lutar ao lado de pessoas soropositivas e que fortalecer alianças é fundamental. Ela apontou que a epidemia segue invisibilizada em muitos espaços.

Homenageado

Harley Henriques do Nascimento, fundador do Fundo Positivo e há 37 anos luta contra o HIV/Aids, recebeu o Colar de Honra ao Mérito Legislativo ? a maior honraria concedida pelo Parlamento Paulista.

Mesmo sem viver com HIV, ele dedicou a vida ao ativismo desde os 19 anos e relembrou sua chegada a São Paulo como jovem militante, trabalhando para incorporar as primeiras medicações ao sistema público e combatendo narrativas que associavam AIDS à morte.

"No meio da dor e do caos, vamos sim celebrar a vida. A alegria é, para nós, um ato de desobediência civil. A Aids deve ser associada à vida e à valorização da existência coletiva", afirmou Harley. Ele contou que fez do ativismo seu projeto de vida. "O movimento de AIDS tem muito a ensinar à humanidade. A luta por equidade de direitos é coletiva", disse.

No evento, também foram entregues oito placas de agradecimento aos convidados da mesa e outros representantes pelo trabalho na luta contra a aids, entre eles: Alexandre Putti; médico Fred Nicácio; Alberto Carlos Andreone e seu marido; Carol Iara; Pisci; Matheus Emílio representante da Parada LGBT de São Paulo, e Élida Miranda, representante do Fundo Positivo. A trilha sonora do evento ficou por conta da cantora Assucena.

Assista à solenidade, na íntegra, na transmissão feita pela Rede Alesp:

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