Resgate da memória de João Cândido, herói brasileiro
06/12/2012 23:02 | Da Redação: Beth Avelar Fotos: Vera Massaro
Nesta quarta-feira, 5/12, promovido pelo deputado Adriano Diogo (PT) e pelo SOS Racismo, foi realizado no auditório Paulo Kobayashi o debate João Cândido, a Revolta da Chibata " Política, Discriminação Racial e Luta, e o lançamento do livro em forma de quadrinhos do cartunista Maurício Pestana. Participaram do evento o advogado e escritor Idibal Piveta, a advogada e membro do Instituto do Negro Padre Batista, Maria Sílvia Aparecida de Oliveira, a psicopedagoga Marilândia Frazão e o cartunista Maurício Pestana.
Inicialmente foi apresentado um vídeo sobre a revolta e sobre João Cândido, com registros fotográficos da época, tendo como trilha sonora a canção O mestre-sala dos mares (de João Bosco e Aldir Blanc), em homenagem ao "Almirante Negro", como Cândido ficou conhecido após o incidente, ocorrido em novembro de 1910. Adriano Diogo declarou que a intenção do debate era analisar as condições da revolta, o que foi escrito, pesquisado e, principalmente, revelar o acontecimento, praticamente desconhecido da grande maioria da população. "Este é um capítulo não contado da história do Brasil", disse.
Segundo Idibal Piveta, abordar um fato no país ainda é um desafio, pois os heróis da chamada "plebe" são sempre desmoralizados, transformados em anti-heróis. "Quando ocorreu a Revolta da Chibata, o açoite já havia sido legalmente extinto, mas ainda era praticado pela Marinha brasileira. Esconder este fato ainda é conduta da Marinha do país, tanto que todos os que tentaram mudar essa história são perseguidos", disse.
Direito à história
Maria Sílvia de Oliveira fez um breve retrospecto dos avanços obtidos pelo movimento negro ao longo do século XX e neste século. "A abolição não veio acompanhada de medidas sociais de integração dos negros na sociedade, de modo que por muito tempo ficaram alijados de todos os benefícios e melhorias instituídos à população. Mais de 100 anos após a Revolta da Chibata nada foi feito para mudar este quadro. Um dos primeiros fatos a reverter este quadro foi a Lei Afonso Arinos, de 1951, que transforma em contravenção penal a agressão aos afrodescendentes. Em 1978, foi fundado o Movimento Negro Unificado e outras vertentes do movimento negro, criando um programa de ação que priorizava a inclusão da história negra nas escolas".
Maria Sílvia citou fatos mais recentes, como a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, a aprovação da lei que inclui no currículo do ensino fundamental e médio da história da África e da cultura afro-brasileira no Brasil e a recente declaração pelo STF da constitucionalidade das cotas raciais nas escolas de ensino médio federais e universidades federais.
"Após pesquisar para fazer o livro sobre a Revolta da Chibata percebi que, mais importante que a revolta em si, foi a própria vida de João Cândido. A vida dele foi um exemplo de generosidade, cidadania e dignidade. No Brasil, existe um processo de matar o cara ainda vivo e foi o que fizeram a ela, tratando de ignorá-lo, de não reconhecê-lo como o herói que foi", disse Maurício Pestana.
Marilândia Frazão declarou ser necessária a recuperação da história. "A escola é fundamental para o conhecimento e é lá que são trabalhadas as diferenças. As revoltas negras não constam da nossa história; apenas alguns pesquisadores têm trabalhado este tema. Precisamos resgatar para dentro da história o João Cândido, mas a educação se guia por um sistema etnocêntrico, branco. Negar a história é burlar o direito ao conhecimento e temos todos de lutar para nosso direito à história", afirmou.
O Almirante Negro
João Cândido Felisberto nasceu no município de Encruzilhada, no Rio Grande do Sul. Filho de ex-escravos, apresentou-se, ainda aos 13 anos, na Escola de Aprendizes de Marinheiros do Rio Grande do Sul. Era admirado pelos companheiros marinheiros e elogiado pelos oficiais por seu bom comportamento e pelas suas habilidades, principalmente como timoneiro.
Em novembro de 1910, serviu como marinheiro no encouraçado Minas Gerais, que parte com destino ao Rio de Janeiro. Durante a viagem, um de seus companheiros recebeu o castigo de 25 chibatadas por desacatar ordens superiores. Embora já tivesse sido abolido como castigo na Marinha brasileira, a chibata continuava a ser aplicada, a critério dos oficiais das Marinha de Guerra do Brasil, num contingente de 90% de negros. Em 10 de novembro, por indicação dos demais líderes, João Cândido assumiu o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra revoltada. Cândido então lê o Manifesto dos Marinheiros Rebelados: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira..."
Na chamada Revolta da Chibata havia 2.379 homens, três encouraçados, um cruzador, alvos móveis e fortemente armados. A rebelião terminou com o compromisso do governo federal de acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, o governo promulgou um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco para a Marinha, quebrando a palavra empenhada. João Cândido e outros foram mandados para o quartel da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Com o estado de sítio, centenas de marinheiros foram dados como mortos ou desaparecidos e dois mil foram expulsos da Marinha. Em 1912, João Cândido foi julgado e libertado, porém não pôde mais exercer sua profissão e viveu até seus últimos dias vendendo peixes. Morreu em 1969, aos 89 anos.
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