Na Assembleia Legislativa e na Praça: 100 anos de Manoel de Nóbrega

Humorista, formado em economia e engenharia, foi radialista, ator, escritor e deputado estadual
26/02/2013 19:24 | Antônio Sérgio Ribeiro *
No estúdio da rádio Mayrink Veiga, 1932, o jovem Manoel de Nóbrega, aos 19 anos ( 2º em pé da esq para dir) Carmen e Aurora Miranda (sentadas) segurando a flauta Pixinguinha

Deputado Manoel de Nóbrega em 1947

Propaganda da Tv Tupi Rio, 1961

Manoel de Nóbrega e Borges de Barros na Praça da Alegria da Tv Record

Manoel de Nóbrega e seu neto Carlos, 1964


Pouco gente sabe ou se lembra, que o criador da Praça da Alegria, foi deputado estadual e Constituinte em 1947. Manoel de Nóbrega nasceu na cidade de Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, em 18 de fevereiro de 1913, filho de Francisco de Nóbrega e de Maria Leonetti da Silva Nóbrega.

Iniciou seus estudos em sua cidade, ainda jovem foi aluno da Escola Naval no Rio de Janeiro, mas resolveu não seguir a carreira militar. Ingressou na Faculdade de Economia na então Capital Federal, e, posteriormente cursou engenharia. Ainda estudante, resolveu pleitear um emprego na Rádio Mayrink Veiga, era o ano de 1931. Nesse seu primeiro trabalho recebia a base de cachê, no programa Waldo Abreu. Nos estúdios da Mayrink, então PRA-K, conheceu os grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Carmen e Aurora Miranda, Lamartine Babo, Pixinguinha, Gastão Formenti, Elisinha Coelho de Andrade, entre outros. Nóbrega foi ainda cantor da orquestra do pianista e compositor Custódio Mesquita, com o pseudônimo de Sérgio da Paz. Em 1934, esteve na recém inaugurada Rádio Jornal do Brasil, e, em 1937, estava contratado pela Rádio Ipanema, a PRH-8, que apesar do nome, funcionava no famoso bairro de Copacabana, no mesmo prédio do Cassino Atlântico, no Posto 6.

O cronista radiofônico do jornal carioca Gazeta de Notícias em sua edição de 9 de fevereiro de 1941, assim escreveu:

"Não temos a pretensão de ensinar o padre nosso ao vigário, mesmo porque, sabemos que o senhor Xavier Filho possui bastante prática para não perder tempo procurando fora aquilo que tem dentro de casa. Não obstante tomamos a liberdade de chamar a atenção do mui digno presidente da Rádio Ipanema sobre o seu corpo de locutores onde se destaca pela sua cultura, pelo seu talento impar, e, sobretudo porque possui um belo timbre de voz. O homem a quem nos referimos é Manoel de Nóbrega.

Excessivamente modesto avesso à propaganda espalhafatosa em torno do seu nome, Manoel de Nóbrega é, sem favor nenhum, um dos nossos melhores locutores.

Esplêndido rádio-ator, fino cronista, inspirado poeta, e notável escritor rádio teatral, Manoel de Nóbrega de há muito se firmou como uma legitima expressão da intelectualidade moça do Brasil.

A sua bagagem dispensa maiores elogios a sua pessoa. A sua longa atuação seu espirito realizador, tudo enfim constitui uma afirmação do seu valor inconteste. Não precisamos dizer mais sobre este moço, porque temos a quase certeza de que o senhor Xavier filho saberá fazer justiça elevando Manoel de Nóbrega ao posto que ele merece na poderosa PRH-8, Rádio Ipanema.

The right man in the right place (O homem certo, no lugar certo)".



Redator e produtor escreveu na ocasião não só para o rádio, mas também para o teatro, como por exemplo a peça cômica Cupido se Diverte, levado a cena no teatro Carlos Gomes, em 1941, pela Companhia do ator Mesquitinha. Foi ainda compositor com músicas gravadas por grandes nomes da música popular brasileira como Silvio Caldas, Orlando Silva, Carlos Galhardo e Vicente Celestino.

Na Ipanema foi locutor-chefe, e diretor artístico. Diariamente lia uma crônica ao microfone de sua emissora, escrita pelo jornalista e compositor Gomes Filho. Nóbrega também era o responsável pela apresentação do programa A Vida dos Grandes Músicos, uma série radiofônica narrando a biografia de famosos compositores e escrita por Campos Ribeiro. Às vezes também atuava na Ipanema como rádio-ator, encenando peças adaptadas para o rádio. Em fins de 1941, um escrito de Manoel de Nóbrega, denominado Corações Velhinhos, foi levado ao ar na Rádio Mayrink Veiga, por Cesar Ladeira e Cordélia Ferreira, dentro do programa Cortina Sonora, da PRA-9. Em 1942, desgostoso, resolveu abandonar o meio radiofônico.



Vai graxa, doutor?



No ano de 1943, retornou a suas atividades artísticas e foi para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro, a PRG-3, dos Diários e Emissoras Associadas, do jornalista Assis Chateaubriand, exercendo as funções de locutor, ator, redator de programas, e também animador. Passou a apresentar na Tupi o programa Fato em Foco, levado ao ar na hora do almoço. Posteriormente foi o responsável pelo programa Festa das Estrelas, no qual recebia um famoso artista de rádio. Em dezembro daquele ano passou a comandar aos domingos o programa Adrianino, patrocinado pelo sabonete do mesmo nome. Ainda naquele mês passou a escrever para o programa Variedades Anhangá, iniciando seu vínculo com o humorismo. Outro programa que participou foi Mil e Uma Gargalhadas, um humorístico que contava com a participação de Manezinho Araújo, Silvino Neto e Grande Othelo. Ainda em 1944 transferiu-se para São Paulo, atuando na Rádio Tupi paulista, a PRG-2, com Aloisio Silva Araújo, estreou o célebre programa Cadeira de Barbeiro, irradiado na hora do almoço. A estrutura era baseada no diálogo entre um barbeiro e seu cliente, cujo assunto principal retratava uma situação político-social da época. Participava também sempre um engraxate que interrompia de vez em quando a conversa e perguntava: "Vai graxa, Doutor?". Trabalhou ainda na Rádio Record, a PRB-9, apresentando o programa Alô, Brasil!, juntamente com o locutor Carlos Frias.

Quando estava no Rio, participou do filme da Cinédia, Pif-Paf, dirigido e produzido por Ademar Gonzaga, exibido no início de 1945. Em março daquele ano assinou um vantajoso contrato com a Rádio Cultura de São Paulo, a PRE-4, batendo um recorde pelo valor recebido no meio radiofônico paulista. Naquela emissora apresentou os programas Boa Noite Para Você, e Divertimento E-4. Nos últimos meses de 1945 esteve em viagem aos Estados Unidos, a convite de Nelson Rockefeller, Coordenador de Assuntos Interamericanos do governo dos Estados Unidos, tendo atuado na NBC e na CBS em Nova York, tendo regressado ao Brasil, no primeiro dia de 1946.

Voltando ao microfone da Rádio Cultura, passou a apresentar o Programa da Hora do Almoço, que ia ao ar diariamente, recebendo sempre convidados especiais. Em fins de 1946, passou a atuar no Cirquinho do Simplício, que era irradiado pela sua emissora todos os dias às 17h30. O programa contava também com a participação do próprio cômico Simplício, Fernando Baleroni, Raquel Martins, Renato Macedo e de Walter Cianci.

Ainda no ano de 1946, passou por um dos maiores sustos de sua vida, quando de regresso de uma viagem aos Estados Unidos com sua esposa Dalila e seu filho Carlos Alberto, então com dez anos de idade, o avião em que se encontravam com mais 21 pessoas caiu em plena mata em Goiás, onde permaneceram perdidos por três dias.



O deputado mais votado no Brasil



Aceitou convite de Adhemar de Barros para se filiar em sua agremiação politica, o Partido Social Progressista - PSP, e candidatar-se a uma das 75 cadeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo, em disputa à Constituinte paulista. As eleições ocorreram em 19 de janeiro de 1947, tendo Adhemar de Barros sido eleito governador do Estado de São Paulo, e Manoel de Nóbrega deputado.

Nóbrega conquistou a primeira colocação, não só em São Paulo, mas em todo o Brasil, dentre todos os candidatos à Assembleia Legislativa, com 37.778 votos. Para comparar com os demais mais votados no pleito: Milton Caires de Brito, PCB, 17.692 votos; Maria da Conceição da Costa Neves, PTB, 12.119 votos; Mautílio Muraro, PCB, 10.041 votos. Todos os demais foram eleitos com 3 mil a 8 mil votos.

Quando da cerimônia de diplomação dos eleitos, realizada nas dependências do Tribunal do Júri de São Paulo em 10 de março de 1947, Manoel de Nóbrega se emocionou até as lágrimas, quando seu pai fez questão de cumprimentá-lo, causando comoção em todos os presentes.

Assumiu seu mandato parlamentar em 14 de março de 1947, na Assembleia Legislativa, então situada no prédio do Palácio das Indústrias, no parque D. Pedro II. Como constituinte estadual, Nóbrega participou das discussões da elaboração da nova Constituição de São Paulo, e foi um dos signatários na sua promulgação realizada solenemente em 9 de julho de 1947. Passando o Parlamento paulista a funcionar como casa legislativa, Nóbrega fez parte das comissões permanentes, como membro efetivo da Comissão de Redação, nos aos de 1947 e 1948; como membro suplente em 1947 da Comissão de Educação e Cultura; e em 1948, na Comissão de Indústria e Comércio.

Entre 12 de março de 1949 a 12 de março de 1950, o deputado Manoel de Nóbrega foi eleito por seus pares para o cargo de 4º Secretário da Mesa da Assembleia paulista. Em 1950, quando se discutia o retorno do Senado Estadual, no sistema bicameral existente no período da república velha (1891-1930), e inspirado no sistema legislativo norte americano, o nome de Manoel de Nóbrega estava cotado para uma das vagas, mas a ideia não prosperou. Ainda deputado reingressou no início de 1948, na Rádio Record, PRB-9, apresentando e produzindo alguns programas, permanecendo na emissora até 1951. Em 29 de outubro de 1949, foi um dos signatários de um Manifesto a Nação, de apoio da presidente da República Eurico Gaspar Dutra, em nome da União Nacional Republicana.

Em 1950 não se candidatou a reeleição, e resolveu retornar ao seu trabalho radiofônico. Ao término seu mandato parlamentar na Assembleia, no início de 1951, foi contrato pela Rádio Cruzeiro do Sul, depois denominada Emissora de Piratininga, a PRB-6, participando do programa Torre de Babel, que estreou em 1º de março de 1951. Nele, Nóbrega entrevistava personalidades do teatro brasileiro, obtendo um enorme sucesso. Nesse programa havia também um quadro chamado de Grupo Escolar, no qual atores, no papel de alunos, davam suas opiniões mais desbaratadas. No mês de agosto de 1951, voltou com seu programa Boa Noite Para Você, que havia apresentado na Rádio Cultura. Outro grande sucesso foi Prontidão 111, com o músico Nestor Teixeira Franco, chamado de Baiano, que Nóbrega transformou em um grande ator de rádio, mas, para a tristeza de todos, Baiano, no auge da fama, veio a falecer em um desastre. O emotivo e sensível Manoel chorou a morte do amigo ao microfone de sua emissora.

Foi contratado em março de 1951 também pela Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, e todas as segundas-feiras Nóbrega ia para a então Capital Federal apresentar seu programa na emissora carioca, que foi considerado pela critica radiofônica um dos melhores já produzidos no Brasil. Em São Paulo, apresentava um programa de auditório diretamente de Campinas, pela Rádio Educadora, e simultaneamente Salomão Ésper apresentava a atração da sede da emissora de Piratininga na Praça do Patriarca.



Campeão dos auditórios



Em fevereiro de 1952 assumiu a direção artística da Piratininga. Em março de 1952, foi contratado pela Rádio Nacional de São Paulo, a PRG-9, pertencente à Organização Victor Costa, mas permaneceu ainda por algum tempo na PRB-6, cumprindo o restante de seu contrato. Na Nacional paulista estreou em 2 de junho de 1952 em um programa, levado diariamente ao ar, de segunda a sábado, que levou seu nome, de retumbante sucesso popular. Manoel de Nóbrega era chamado de O Campeão dos Auditórios de São Paulo. Nesse ano escreveu uma peça intitulada O Homem das mil Vidas, com único personagem, cabendo ao ator Procópio Ferreira a sua interpretação. Teve também uma peça interpretada por Dercy Gonçalves. Atuou na novela radiofônica Perdido nas Trevas, de autoria de Walter Foster, irradiada pela Nacional.

Em enquete popular da Revista do Rádio, denominada Qual o mais querido de São Paulo, Nóbrega ficou em 11º lugar, na frente de nomes como Leny Ervesong, J. Silvestre, Inezita Barroso, Mazzaropi, e Randal Juliano. Saiu vencedor do certame o cantor João Dias, e em segundo lugar o ator de radionovelas Waldemar Ciglione. Em abril de 1953, foi substituído por Jaime Moreira Filho na apresentação do programa Hora do Pato, na PRG-9.

Em uma nova eleição promovida pela Revista do Rádio, e concluída em novembro de 1954, para a escolha através de voto popular da A Mais Bela Voz de São Paulo, Manoel de Nóbrega, acabou se classificando em 5º lugar, com 8.640 votos, atrás de Isaurinha Garcia, Hebe Camargo, João Dias e Alfredo Moreti. Naquele ano, Teófilo de Barros Filho, diretor da Rádio Tupi, quis contratar Nóbrega, mas, apesar da interessante oferta salarial, Nóbrega recusou a proposta. Gravou na Odeon um disco para o carnaval de 1955, duas músicas humorísticas. Ele lançaria também posteriormente vários canções carnavalescas em discos para outros festejos de momo.

Em 1955 teve dois novos programas de auditório na Nacional, intitulados Big Show Peixe - apresentado às quartas feiras, às 21h30 - e, com seu velho parceiro Aloisio Silva Araújo, Banquete dos Astros -. Naquele mesmo ano, depois da decisão da Federação Paulista de Futebol que proibiu a transmissão ao vivo dos jogos de futebol, Manoel de Nóbrega criou o programa de auditório Domingo Sem Bola, que foi ao ar até outubro de 1956. Outro programa radiofônico que apresentou foi Brincadeiras, produzido por Murilo B. Ferreira, que ia ao ar no período noturno, além de um programa humorístico de nome Vale a Pena ser Pesado, que estreou no Canal 5. Aos sábados à noite eram apresentados programas de humor, escritos e apresentados por Nóbrega, como A Família do Pereira; As Aventuras de Chicholato; Travessa de Harmonia, e a História é Outra.



A amizade com Silvio Santos e a Praça da Alegria



Um jovem locutor carioca, descendente de gregos da região da Salônica, de nome Senor Abravanel, que havia trabalhado como camelô, veio tentar a sorte em São Paulo, fazendo um teste na Rádio Nacional e foi aprovado, passando a trabalhar na emissora com o nome artístico de Silvio Santos. Travando amizade com Nóbrega, este o convidou, e ele aceitou, e passou a trabalhar na sua pequena firma, o Baú da Felicidade, que vendia brinquedos e artigos domésticos pelo crediário. Apesar da situação, Silvio dedicou-se com entusiasmo ao desafio e, em 1961, Nóbrega vendeu sua parte, deixando o sócio sozinho. Silvio Santos fez uma fortuna a partir daí, mas sempre manteve sua amizade com Nóbrega, a quem convidaria para ser diretor da sua primeira concessão de televisão, a TVS do Rio de Janeiro.

No ano seguinte, Nóbrega recebeu o importante prêmio Roquete Pinto como programador de humorístico pela Rádio Nacional paulista. Logo após viajou para o Uruguai, Argentina e Chile com sua família para descansar. Ainda em 1957, além de comandar seu programa na Rádio Nacional, que ia ao ar todos os dias das 12h às 14h, passou a dividir com Hebe Camargo um programa que ia ao ar nas noites de segunda-feira, na TV Paulista, canal 5, da Organização Victor Costa. Um novo programa, de nome Climax para Milhões, foi levado ao ar às sextas feiras às 21h30. Em uma das apresentações, Manoel de Nóbrega, em uma atuação hilariante, travestido de prima dona e contracenando com o cômico Canarinho, cantou um trecho da ópera Rigoletto, do compositor italiano Giuseppe Verdi.

Manoel da Nóbrega em viagem a passeio a Buenos Aires estava alimentando os pombos de uma praça, quando observou os tipos diferentes que se sentavam no banco e percebeu que num cenário único, poderia reunir vários personagens engraçados e muito diferentes entre si. Assim nasceu a Praça da Alegria.



De regresso ao Brasil, naquele ano de 1957, passou a fazer o programa para o Canal 5, a TV Paulista (hoje TV Globo). Pelo banco da A Praça da Alegria passaram mais de duzentas personagens e os maiores humoristas brasileiros, interpretando textos e personagens, a maioria delas criada pelo próprio Manoel, que se inspirava em tipos tipicamente brasileiros.

Descobridor de talentos, Nóbrega levou à fama dezenas de artistas como: Ronald Golias (no papel de Pacífico, um levado menino que deu origem ao personagem Bronco), Canarinho, Chocolate, Simplício (o caipira da cidade de Itu, onde tudo seria exagerado) Moacir Franco (o mendigo), Maria Tereza (a fofoqueira), Consuelo Leandro (Cremilda, a mulher do Oscar), Costinha, Walter D"Ávila (que sempre tentava ler um livro, apesar de sua pouca cultura), Murilo Amorim Correa (o Vitório, marido de Marieta, também vivida por Maria Tereza), Zilda Cardoso (Catifunda, com seu charuto), Rony Rios (a velha surda), e Lilico (com seu inseparável tambor) . O programa humorístico permaneceu no ar ininterruptamente por quatorze anos, sendo exibida, além da TV Paulista, na TV Record e na Tupi.

Nas comemorações do sexto aniversário da Rádio Nacional de São Paulo, realizada em 1º de maio de 1958, Manoel de Nóbrega teve uma participação especial apresentado o seu programa em homenagem à data. Naquele mesmo ano lançou um novo programa, de nome Manoel de Nóbrega e seus Bonecos, no qual os cômicos Ronald Golias e Canarinho faziam papéis de bonecos ventríloquos. Recebeu, em novembro de 1958, das mãos de Victor Costa, proprietário das emissoras de rádio e de televisão em que trabalhava o grau de comendador da Ordem de São Paulo Apóstolo.

Nóbrega, em fevereiro de 1959, estreou para a televisão, O Programa Não Durma no Ponto, de perguntas e respostas, que também seria exibido pela TV Rio. A emissora carioca coincidentemente funcionava no mesmo prédio onde, nos anos 30, funcionava a Rádio Ipanema. Em maio de 1959, participou de O Grande Espetáculo, levado ao ar às 20h, pelo Canal 5, com a participação de novos comediantes como Ronald Golias, Moacir Franco e seu filho Carlos Alberto de Nóbrega, além de cantores como Wilma Bentivegna, Roberto Luna,e o músico Mário Genari Filho.

No Rio de Janeiro, o programa a Praça da Alegria era exibido pela TV Rio, canal 13, o pessoal ia especialmente de São Paulo para o Rio para participar do programa. Ele contratou humoristas cariocas para também participar do programa, obtendo um grande sucesso. Com ajuda de Nóbrega e Aloisio Silva Araújo, um novo comediante começou a atuar no papel de um mendigo: Moacir Franco. Que no carnaval teria o grande sucesso, a música Me dá um dinheiro ai .

No ano de 1958, foi eleito o melhor produtor humorístico de televisão em São Paulo, por indicação da Revista do Rádio, e também recebeu o Premio Roquete Pinto, como o melhor programador cômico de Rádio. Melhor produtor humorístico da TV paulista em 1959.

No mês de junho de 1960, durante a exibição do seu programa ao vivo pela Televisão Paulista, ele de surpresa para todos, assinou em branco a renovação de seu contrato com a Organização Victor Costa.



Prêmio Roquete Pinto



Em agosto de 1960, trabalhava nos canais 9, TV Continental e 13, TV Rio, ambas do Rio de Janeiro, mas a TV Tupi carioca também pleiteava o seu serviço. Com a TV Rio, estava sendo acertada a exibição dos seus programas Não Durma no Ponto e a Praça da Alegria, mas acabou sendo contratado pela Tupi Rio, canal 6, estreando na emissora em 6 de janeiro de 1961, em companhia de seu filho Carlos Alberto e do humorista Ronald Golias, sob o patrocínio do Ponto Frio. Outro programa exibido pela televisão Associada carioca seria também o programa Torre de Babel. Mais um prêmio foi-lhe conferido o de melhor produtor humorístico na TV Paulista de 1960.

Nesse mesmo ano em comemoração aos seus 25 anos de casamento, realizou o seu sonho de percorrer o mundo. Durante quatro meses em companhia de sua esposa Dalila, visitou 26 países, inicialmente foi de avião para a Europa e depois percorreu os países nórdicos, esteve também no Oriente, e a na Ásia. Seu retorno para o Brasil foi através do Japão por via marítima, na despedida no porto foi surpreendido por uma homenagem por parte dos japoneses levando-o as lágrimas.

Logo após sua chegada ao Brasil, recebeu da Câmara Municipal de São Paulo o titulo de Cidadão Paulistano, entregue em uma sessão solene no plenário do legislativo da capital.

No inicio de 1961 passou a trabalhar na TV Tupi do Rio de Janeiro, mas mantendo o seu trabalho em São Paulo, na Organização Victor Costa. Ele acalentava que esse novo contrato com as Associadas pudesse lhe dar uma vida profissional menos atribulada, e com menos viagens. Em entrevista afirmou com a novidade do vídeo-tape, poderia gravar seus programas e exibi-los pelas emissoras brasileiras sem ter a necessidade de locomover Brasil a fora. Um programa de auditório no qual eram distribuídos inúmeros prêmios, de nome Quanto vale o ponto?, era exibido também na Tupi Rio. Foi escolhido o melhor produtor humorístico na televisão paulista, em 1961.

Em 1962 ganhou mais uma vez o premio Roquete Pinto, na categoria programador de rádio. Ainda nesse ano fundou em São Paulo a sua Empresa de Produções Independentes de Rádio, Televisão, e Cinema, na qual pretendia criar e fazer programas para distribuir as emissoras radiofônicas e televisivas para todo o Brasil.

No Canal 5, criou mais dois programas no ano de 1962, o Coronel vai ao Chile, alusivo a disputa da Copa do Mundo que se realizaria naquele ano no Chile, no qual o Brasil se sagraria bicampeão de futebol. O outro foi Escolinha do Grupo, com diabrados alunos aprontando em uma sala de aula.

Em setembro de 1962, Manoel de Nóbrega e sua equipe deixou a TV Tupi carioca, passando a trabalhar novamente na TV Rio, canal 13, com Ronald Golias, Nair Bello, Renato Corte Real e Joao Evangelista.

Em abril de 1963 estava ainda na TV Paulista Canal 5, com os programas a Praça da Alegria e Zilomag Show. No mês de julho uma nova atração foi levada ao ar, o Festival Antarctica, apresentado por Nóbrega e produzido por Walter Avancini. Assumiu Manoel de Nóbrega em setembro de 1963 a direção da Emissora de Piratininga, assessorado por Walter Ribeiro dos Santos, Joao Lôredo, Tácito Monteiro, Mara Lux, Reinaldo dos Santos e Amauri Vieira. Uma das atrações da Rádio era o programa Uma Rua Chamada Augusta, irradiado diariamente às 14 horas.

Em 1964, após mais de 12 anos trabalhando na Organização Victor Costa, Manoel de Nóbrega passou a atuar na TV Record - Canal 7, em um programa que levava seu nome. A emissora de Paulo Machado de Carvalho era a de maior audiência em São Paulo. No período em que esteve na Record ele novamente fez a Praça da Alegria, de grande sucesso. Participou também de outros programas da Record, como o Show do dia 7, em uma de suas atuações ele fez o papel de um dos três porquinhos, em companhia de Jô Soares e do cômico Pagano Sobrinho. O lobo mau era nada menos que Roberto Carlos, que apareceu no vídeo de cartola e óculos escuros, tudo na base da brincadeira.

No ano de 1965, Manoel de Nóbrega e sua esposa Dalila fizeram uma viagem ao Oriente Médio. No retorno, Nóbrega relançou o seu famoso programa a Praça da Alegria na televisão Record, obtendo mais uma vez o sucesso de sempre. Após seis anos no Canal 7, transferiu-se em 1970 para a TV Tupi - canal 4.

Na década de 70, resolveu suspender as apresentações da Praça alegando que ela estava em obras, e afirmou: "Ela não acabou, apenas vai ficar interditada para reformas. Se todas as praças são remodeladas, por que não a minha?", Perguntava-se. O velho humorista sentia-se cansado, havia criado duas centenas de personagens diferentes e percebeu que podiam estar cansando o público.

Em 22 de dezembro de 1975, Silvio Santos e Manoel de Nóbrega (já muito magro e enfraquecido pela doença) foram a Brasília para assinar o documento com o ministro das Comunicações Euclides Quandt de Oliveira, que daria ao animador e empresário a concessão da estação de televisão, o canal 11, do Rio de Janeiro. Muito emocionado, Silvio discursou sobre a nova emissora que surgiria a partir de então. Lembrou de sua ida a São Paulo em 1955. Citou Nóbrega várias vezes. Em seguida, o próprio Nóbrega foi quem tomou a palavra. Dirigiu-a aos artistas que entrariam na emissora. Fez lágrimas caírem dos olhos de Silvio Santos. Exatos 84 dias depois dessa audiência, ele morreu.

Após o falecimento de Nóbrega, a TV Globo, sob o comando de Luiz Carlos Miele, retornou com o programa em homenagem ao criador.

Manoel de Nóbrega faleceu em 17 de março de 1976, vitimado por um câncer no pâncreas no Hospital Albert Einstein em São Paulo, onde estava internado. Seu corpo foi velado no Hall Monumental da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, tendo comparecido a sede do legislativo paulista uma verdadeira multidão. No dia seguinte, seu esquife foi transladado para o Cemitério de Vila Alpina, onde seria cremado. Outra multidão, calculada em 30 mil pessoas, foi lhe dar o último adeus.

Foi casado em Dalila Afonso de Nóbrega, com quem teve um filho - Carlos Alberto de Nóbrega -, hoje responsável pelo programa humorístico A Praça é Nossa, exibido pelo SBT desde 1987, e inspirado na criação de seu pai.

O médico Fernando de Nóbrega, de 82 anos, seu irmão caçula, nas comemorações do centenário de Manoel de Nóbrega, emocionado assim se pronunciou:

" Fico muito feliz em ver meu irmão sendo lembrado. Ele era um intelectual. Tinha dois diplomas, de Economia e de Engenharia, falava quatro idiomas, além do português. Ele era 17 anos mais velho do que eu, então, foi meu pai, depois, meu irmão, e, já no fim da vida, meu filho. Ele está muito feliz onde está.



Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. Diretor do Departamento de Documentação e Informação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

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