A experiência do decano da Assembléia

Salim Curiati, o mais antigo deputado da Casa, fala dos tempos em que a organização e o companheirismo compensavam a falta de serviços de apoio
20/03/2003 20:04

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DA REDAÇÃO

O início de uma nova legislatura traz sempre algumas novidades e curiosidades. A composição do corpo legislativo resultante de cada eleição combina personalidades e perfis políticos muito variados. Além dos matizes ideológicos e partidários, existem aquelas especificidades de natureza pessoal ou biográfica de cada parlamentar. Singularidades que, reunidas, formam um conjunto plural de vivências e experiências refletidas na atividade legislativa.

Uma das particularidades existente em cada legislatura é a existência de um decano. Daquele que guarda elementos da memória mais longeva e da história da instituição. No caso da Assembléia Paulista, os novos deputados têm a referência do mais antigo parlamentar da Casa, o deputado Antonio Salim Curiati. Com todo o vigor dos seus 75 anos, Salim Curiati exerce o seu sétimo mandato. Eleito pela primeira vez em 1966, o deputado iniciou suas atividades parlamentares em 1967, na antiga sede da Assembléia paulista, o Palácio das Indústrias, e acompanhou a mudança para o novo prédio, no qual a instituição funciona até hoje, o Palácio 9 de Julho. Procurado pelo Diário Oficial do Poder Legislativo, Salim Curiati relatou alguns aspectos que marcam sua trajetória pela Assembléia.

Dos tempos antigos, lembra que cada deputado tinha direito a apenas uma sala, sem telefone, sem máquinas elétricas e poucos serviços de apoio. "Porém, trabalhávamos muito. Organização e companheirismo eram uma realidade. Havia respeito à fidelidade partidária." Recorda um momento significativo do início de sua carreira, a ocasião em que se deu a substituição do então presidente da Assembléia Nelson Agostinho de Cápua Pereira. O governador Abreu Sodré propora o nome de Curiati para ocupar a posição. Entretanto, por ser novato no Parlamento, sentindo-se não o bastante preparado para exercer a função, declinou o convite em favor de seu colega de legenda , o deputado da ARENA Orlando Gabriel Zancaner.

Os tempos da cordialidade deram lugar às novas gerações, com as quais o deputado conviveu ao longo das últimas décadas. "A grande maioria dos parlamentares é bem-intencionada e qualificada. A imagem que a população faz não condiz com a realidade. Há em todos os lugares bons e maus profissionais. Aqui, os bons são maioria."

As críticas do deputado recaem sobretudo no modelo de democracia representativa em vigor. "O nosso regime é arcaico. A democracia precisa ser atualizada. Deveria haver uma redução do número de deputados federais dos atuais 513 para 200." Curiati defendeu essa tese quando foi deputado constituinte e mantém o entendimento de que o numero de parlamentares e de partidos é excessivo, bem como a proporcionalidade das representações das unidades federativas é desequilibrada. "Há uma grande injustiça com estados como São Paulo, cuja representação é desproporcional à sua população." Estas e outras distorções reclamam, segundo Curiati, uma urgente reforma política que exija a fidelidade partidária e reduza o número de partidos políticos.

O número de cadeiras no parlamento não reflete qualidade do processo legislativo. Salim Curiati avalia que a elevada quantidade de partidos representados nas casas legislativas pulveriza ações, dificulta as coordenações políticas e impõe confrontos entre interesses gerias e outros muito específicos. Sobre a atividade do legislador, diz o que vale é o seu dinamismo e capacidade de trabalho. Salim Curiati destaca com orgulho sua atuação como deputado constituinte, ao lado de figuras proeminentes da República, como o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador de São Paulo, Mário Covas, o atual, Geraldo Alckmin, e o memorável Ulysses Guimarães. Curiati guarda a satisfação de ter figurado em sexto lugar na relação dos deputados que mais apresentaram proposições nas sessões legislativas daquela legislatura. Na Assembléia Nacional Constituinte, o deputado apresentou 222 emendas e teve 40 delas aprovadas.

Outro aspecto da longa permanência na vida parlamentar valorizado pelo deputado é a convivência com os funcionários da Casa. Os gestos generosos e de solidariedade com as angústias cotidianas dos funcionários são ingredientes de uma respeitosa relação, de lealdades e amizades duradouras. "A Assembléia só tem me dado alegrias", sintetiza Curiati.



Perfil do parlamentar

Antonio Salim Curiati exerce seu sétimo mandato na Assembléia, pela legenda do PPB. Nasceu na cidade paulista de Avaré, filho de Antonio Salim Curiati e Assma Curiati, ambos imigrantes libaneses. Em Avaré, concluiu seus primeiros anos de ensino básico no "Grupo Escolar Matilde Vieira" antes de iniciar como aluno interno do Colégio Arquidiocesano de São Paulo, onde concluiu o ginásio. Em Botucatu , fez o curso Científico no Colégio Anglo-Latino.

Formou-se médico sanitarista na Escola Paulista de Medicina em 1953 e exerceu a profissão durante algum tempo em sua cidade natal e região vizinha.

Disputou as eleições de 1967 para deputado estadual. Eleito, fixou-se em SãoPaulo, cidade em que se manteve durante os sucessivos mandatos que exerceu: 1970, 1974, 1978, 1990, 1998 e 2002.

Ocupou o cargo de secretário estadual da Promoção Social, nomeado em 1979 pelo então governador Paulo Maluf. Este também indicaria, em 1982, Salim Curiati para prefeito de São Paulo, cargo que exerceu durante dez meses. Curiati voltou a ser secretário de Maluf em 1993, quando ficou à frente da Secretaria Municipal da Família e do Bem-estar Social.

Em 1986 foi eleito para a Câmara Federal como deputado constituinte.

Vários projetos de Curiati na Asssembléia transformaram-se em leis. Destacam-se a lei que institui o Planejamento Familiar e Paternidade; a que torna obrigatório o uso de copo de papel, plástico ou papelão para bebidas não alcoólicas servidas em balcões; a que institui o Circuito Turístico da Represa do Jurimirim; e a que transforma o município de Avaré em estância turística.

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