PRIMEIRO OS MEUS... - OPINIÃO

MILTON FLÁVIO*
27/06/2001 15:50

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Em entrevista que acaba de ser publicada em um jornal de circulação nacional, o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, um dos mais lúcidos de sua geração, faz uma análise da proposta de governo recém-apresentada pelo Partido dos Trabalhadores. Após ressaltar que o documento "é uma injeção de racionalidade no debate político e que, por isso, é um exemplo a ser seguido por outros partidos", o professor critica a "omissão e inconsistência" das propostas econômicas elaboradas pelos economistas petistas.

Fonseca diz, com outras palavras, o que, a rigor, já se sabe: que o PT, por conveniência eleitoral, insiste na tese de que é possível fazer tudo ao mesmo tempo: acelerar o crescimento econômico e manter a inflação sob controle, ampliar o mercado interno e aumentar as exportações, assobiar e chupar cana. Não se trata, é óbvio, de negar importância a cada uma dessas medidas isoladamente. Todas são desejáveis. O problema é que nem sempre é possível compatibilizá-las no curto prazo. Administrar implica definir prioridades e arcar, quando preciso, com o ônus da impopularidade. Fosse tão simples assim, nenhum governo, exceto os comandados por tolos ou masoquistas, amargaria em determinados momentos baixos índices de aprovação. Quem não gostaria de oferecer à maioria da sociedade o céu na terra?

Chama a atenção, na entrevista, uma frase dita pelo economista, em tom de profecia: "O PT perderá as ilusões pelo caminho". Eis um ponto em que divirjo de Fonseca. Na verdade, há muito, o Partido dos Trabalhadores perdeu as ilusões. O que vem ocorrendo em São Paulo é exemplar. Agora mesmo, a base de sustentação da prefeita Marta Suplicy na Câmara Municipal acaba de aprovar projetos de sua autoria que criam novas secretarias e pouco menos de oitocentos cargos de confiança - aqueles que não exigem concurso público, apenas amizade com quem está no governo. Os que apóiam a prefeita argumentam que os novos cargos são necessários porque, entre outras coisas, a administração municipal pretende estreitar suas relações com o mundo, atrair turistas, gerar empregos etc. É o PT cosmopolita, para usar uma expressão tão ao gosto da prefeita.

Se mais não fosse, alegam os partidários de Marta Suplicy, a atual administração demitiu no início do ano uma série de "fantasmas", todos lotados irregularmente nas empresas municipais. Isso é verdade. A diferença é que os amigos de ontem eram contratados na calada da noite e os de hoje, à luz do dia. Seja como for, a conta será paga pelos mesmos contribuintes, inclusive pela esmagadora maioria dos funcionários municipais que tiveram um aumento de salário dez vezes menor que os indicados pela coalizão governista. O que prova a tese de que o PT, em algumas questões, não alimenta nenhuma ilusão, movido que é pela máxima "primeiros os meus..."

O dinheiro a ser gasto pela Prefeitura com a contratação dos oitocentos novos funcionários de confiança da prefeita e de seus apoiadores seria melhor empregado se parte dele fosse destinada à contratação de fiscais, a quem caberia a tarefa comezinha de averiguar se as empresas de lixo varrem de fato as ruas da cidade, com a freqüência acordada com o Poder Público. Mas aí seria exigir omissão de menos e consistência demais.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo

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