Opinião - Obras complementares: até quando esperar?


19/03/2010 17:21

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O título deste artigo repete questionamento que fiz, por meio deste espaço, no início de 2007. Lamentavelmente, passados mais três anos desde então, nada, ou quase nada, avançou. Essenciais para acabar com os gargalos rodoviários na Região Metropolitana da Baixada Santista, as obras complementares "insistem" em não sair do papel.

Mantêm-se inertes nas pranchetas dos projetistas, adormecidas nas gavetas dos burocratas. Subtraídas do edital de concessão do Sistema Anchieta " Imigrantes (SAI), para torná-lo financeiramente atrativo à iniciativa privada, estas obras foram "assumidas" pelo governo estadual e inúmeras vezes anunciadas, com ampla repercussão na mídia. E, na prática, nada.

Na verdade, deveriam ter sido executadas paralelamente à construção da nova pista, entregue em dezembro de 2002. Porém, reafirmo, até hoje não saíram do papel, acarretando grave comprometimento do trânsito regional. E, nessa história toda, o que surpreende é a desfaçatez do governo do Estado que, sem qualquer constrangimento, esquece os compromissos assumidos.

Em 2007, o vice-governador Alberto Goldman chegou a afirmar que até o final da atual gestão, ou seja, dezembro de 2010, as obras estariam prontas. Mais uma vez a realidade desmascara as promessas vãs. Somente um desses equipamentos está pronto, o viaduto na altura do km 262 da rodovia Cônego Domênico Rangoni. E, mesmo assim, sem suas alças de acesso.

Na última semana, o governador José Serra veio à região para prometer a realização de outra dessas obras: a construção de um viaduto no trevo da Vila Áurea, em Guarujá. Esquece-se o chefe do Executivo que, no início da década, o compromisso do governo paulista e da concessionária era de que esta intervenção estaria pronta exatamente agora, quando o que se tem é uma "nova-velha" promessa.

Promessas estas que não convencem a mais ninguém. Em dezembro do ano passado, levantamento de autoridades e empresários do setor portuário apontou que, de dez obras sob responsabilidade do governo de São Paulo para enfrentar o gargalo logístico, apenas uma se concretizou. Exatamente o já citado viaduto do km 262 da Piaçaguera-Guarujá.

Para o segmento, desiludido com a quase nula atenção dada pelo Palácio dos Bandeirantes ao porto de Santos, se não houver investimentos, a infraestrutura de acesso ao complexo chegará a um colapso em pouco tempo. No caso da Piaçaguera, as "apostas" num total estrangulamento vão de um ano a dez anos. Situação que vai se agravar ainda mais com a liberação para tráfego do trecho sul do Rodoanel.

A obra vai permitir que os quase 10 mil caminhões que vêm ao porto diariamente cheguem ao SAI sem entrar na capital. Com isso, chegarão mais rápido às vias de acesso à Baixada. Mas, com os gargalos no pé da serra do Mar, a expectativa é de um travamento do sistema rodoviário na região. E o pior, com o Rodoanel na iminência de ser entregue, não há estudos oficiais do Estado e da Ecovias para avaliar os impactos da obra no trânsito da região.

Mais do que nunca, é fundamental a mobilização regional para exigir do Estado um compromisso público com a viabilização das obras, definindo recursos e prazos. São gargalos que prejudicam moradores, turistas e a economia. O mesmo grupo político está à frente do Estado há mais de uma década e continuamente age como se fosse um novo governo. Reapresenta promessas não cumpridas, como se novidades fossem. Precisamos dar um basta!



*Maria Lúcia Prandi é deputada estadual pelo PT, educadora e cientista política.

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