Os jovens e o tráfico

OPINIÃO - José Caldini Crespo*
09/02/2004 18:29

Compartilhar:


O envolvimento crescente de jovens e adolescentes com o tráfico de drogas no Brasil tem sido responsável por uma escalada no número de mortes violentas nessa faixa da população.

Recrutados pelos traficantes esses menores, se apanhados pela polícia não terão grandes dificuldades para retornar à liberdade das ruas. Seduzidos por uma falsa sensação de poder, tem cada vez menos idade os jovens que estão se envolvendo com a criminalidade.

Em Sorocaba, município em que nasci e resido, as ocorrências policiais revelam que desde o início de ano a situação não tem sido diferente da vivenciada em outros grandes centros urbanos. Segundo investigações policias, uma dezena dos homicídios registrados na cidade nas primeiras semanas de 2004 estão de alguma forma relacionados ao tráfico de drogas.

Tão importante quanto o trabalho das autoridades policiais, incumbidas da investigação e da repressão à prática desses delitos, é a participação da família dos nossos jovens na detecção do problema, buscando principalmente prevenir a ocorrência. Parece redundante alertar para a necessidade da conversa entre pais e filhos sobre os riscos e os perigos das drogas. Mesmo redundante, a informação sempre se mostrou uma arma eficaz no combate a esse e a tantos outros problemas que rondam as famílias. Precisamos ter claro que se nós não estivermos preparados e não falarmos de forma aberta e sem preconceitos com os nossos filhos sobre os riscos das drogas e sua presença cada vez mais constante na vizinhança e nos ambientes que fazem parte do dia a dia, como escolas, clubes, festas, certamente um traficante o fará. Só que a informação que ele vai transmitir ao nosso filho certamente será bem diferente daquela que iríamos passar.

Imaginar que nossa família está imune a esse tipo de problema também é uma postura equivocada. O risco está aí e como tal precisa ser encarado. Ninguém consegue vigiar os passos dos filhos 24 horas por dia. É impossível estar presente em cada momento da vida deles. Assim, resta aos pais oferecer-lhes o maior número de informações sobre o assunto de modo que os jovens tenham elementos suficientes para formar um juízo de valor próprio sobre a questão e façam a opção sobre qual caminho trilhar.

A opção pelo silêncio ou pela transferência dessa responsabilidade para outros pode trazer as piores conseqüências e quando a família acordar já pode ser tarde. Quantos jovens estariam fora das estatísticas policiais de casos relacionados com o tráfico ou mesmo o consumo de drogas se tivessem a oportunidade de um diálogo franco e aberto em suas casas? Muito mais do que lamentar, é preciso refletir sobre essa questão.

*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e membro da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp