SEGURANÇA PÚBLICA, UM PROBLEMA RESOLVIDO - OPINIÃO

Hamilton Pereira*
04/12/2000 15:41

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A pior forma de se lidar com problemas é ignorá-los, "fazendo-se de conta" que não existem. Parece ser essa a filosofia do atual secretário de Segurança Pública do Estado, Marco Vinício Petrelluzzi.

A cada requerimento de informações, em que questionamos e apresentamos problemas que exigem encaminhamentos por parte da Secretaria, recebemos a resposta já muito conhecida e padronizada: "Está tudo bem; os problemas citados por Vossa Excelência já foram resolvidos". Sem contar os elogios ao governo, com as velhas estatísticas que destoam anos-luz da realidade constatada todos os dias nas ruas, nas delegacias, nos jornais etc.

No último dia 30, o secretário esteve na Assembléia Legislativa para falar sobre as ações de sua pasta. Otimista como ele só, pintou um quadro que, se não fosse o conhecimento que temos sobre o tema e os problemas que o cercam, aplaudiríamos de pé. Terminaríamos esse encontro achando que não existe lugar mais aprazível e seguro neste planeta do que o Estado de São Paulo.

Durante as eleições deste ano, o governador Mário Covas arremeteu-se ao interior para entregar novas viaturas às polícias. Na região de Sorocaba, um dia antes dessa cerimônia, os órgãos de segurança foram avisados "em off" que teriam que providenciar combustível com seus próprios recursos para garantir a beleza do desfile. E foi o que aconteceu.

Temos percorrido as delegacias de polícia e constatado a falta de estrutura das mesmas, onde delegados e funcionários dedicados recorrem à caridade da iniciativa privada e da sociedade, quando não tiram dinheiro do próprio salário (congelado há anos) para despesas do distrito. Falta combustível, papel, recursos para o básico e para manutenção.

O reduzido quadro de funcionários na Secretaria é outro problema que aflige o setor. De 1995 para cá, percebemos uma piora nesse quadro. O 2.º DP de Sorocaba, por exemplo, tinha 21 funcionários em 1995 e hoje conta apenas com 10. A Cadeia Pública de Sorocaba, que reúne hoje 700 presos, funciona com 13 carcereiros por turno, excluindo-se o porteiro e o administrativo. Essa situação é de tal modo insustentável que, em novembro, mais de cem presos fugiram daquela prisão. A Cadeia Feminina de Votorantim apresenta um quadro ainda mais precário, com apenas uma carcereira por turno, que trabalha de segunda a sábado, sendo que a que inicia seu turno no domingo trabalha 24 horas seguidas, além de não haver uma servidora para cobrir as que estão em férias ou em licença-prêmio.

Em alguns municípios, os delegados de polícia e escrivães estão trabalhando três finais de semana por um de descanso. Uma matéria publicada pelo jornal Diário Popular mostra que entre os 82 mil homens da Polícia Militar, 14 mil apresentam problemas psicológicos.

Achando que o secretário estava apenas desinformado sobre o cotidiano enfrentado pelas polícias Civil e Militar, apresentamos a ele essa situação. Mas qual não foi a nossa surpresa quando, com desdém e um certo ar de superioridade, Petrelluzzi procurou descredenciar nossas fontes, afirmando ser uma "tendência natural dos funcionários fazerem-se de coitados" para obterem a simpatia e o reconhecimento da sociedade quanto ao seu profissionalismo.

Com isso, o Secretário Petrelluzzi reforçou duas coisas: a primeira é que teremos que lutar muito para sensibilizar este governo para as causas da Segurança; a outra refere-se a um velho adágio popular que diz: o pior cego é aquele que não quer ver.

*Hamilton Pereira é deputado estadual pelo PT e membro da Comissão de Agricultura e Pecuária da Assembléia Legislativa.

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