O QUE ESPERAMOS DE 2002 - OPINIÃO

Vitor Sapienza*
23/11/2000 17:14

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Há um dito popular que, por questão de reconhecimento público, vazou pelas frestas do tempo e sem pedir licença comparece de quando em quando nas alinhavadas finais de frases soltas por algum interlocutor, em conversas espalhadas pelas esquinas da vida, que diz o seguinte: "Você pode enganar uma pessoa por muito tempo. Duas, por pouco tempo. Mas você não consegue enganar a todos o tempo todo." Com essa leitura simples e realista podemos acomodar no colo do atual panorama político nacional - que começa a se desenhar de forma nítida e substancial - um recado dado ao "Pé do ouvido" pelo povo brasileiro. Ficou - sem nenhuma margem de dúvida - evidenciado que o brasileiro apertou o botão da mudança. Ficou muito claro que a atual política - recheada de vícios e todo tipo de casuísmos e fisiologismos - rotulada pelos terminólogos de plantão como neolibelarismo, naufragou no mar da imperícia política, administrativa e ética. Sem dúvida, os comandantes do neoliberalismo usaram um navio de pequeno calado, que não comportou a grandeza do povo brasileiro e foi a pique. Este povo que, não se sabe como, convive e amarga a vergonhosa realidade de ter mais de 50 milhões de seus irmãos jogados abaixo da linha da fome. Vivendo em estado generalizado de miséria. Entendo que, mesmo naufragado pela insolvência administrativa, o povo quer mudanças.

Precisamos agora, com muito tato e perspicácia, alocar concepções no sentido de analisar o verdadeiro papel que a esquerda terá de desenvolver, sendo grande vencedora dessas eleições onde - em tese - coloca-se como a fiel depositária do legado que o neoliberalismo abandonou no caminho, trazendo para si toda a responsabilidade de forma democrática, sem se aprofundar em direções marxistas ou inclinações do tipo. A fase do euforismo festivo já passou. Ela - a esquerda - é responsável por mudanças emergenciais, mas é preciso ter a cautela para não incorporar ou raptar o papel principal do filme e fugir do roteiro, transportando a platéia para um abismo ainda mais profundo do que já se vinha convivendo. A responsabilidade é grande, bem como as expectativas de todos os setores da sociedade no sentido de ter contato com as ações de primeiro plano que a nossa esquerda irá demonstrar. Esse primeiro passo, sem dúvida, será o balizador do perfil administrativo - que este novo time irá desenvolver.

Por outro lado, dentro de uma análise mais profunda e coerente do "pós-eleições", não é preciso ser nenhum gênio para aceitar a tendência natural de um quadro muito importante que vem atender não só aos anseios populares mas possui em sua história a carga da experiência. São valores políticos que atravessaram as crises mantendo sua decência, não participando de mecanismos corruptos que sujaram nossa vida pública e sucatearam todos os segmentos administrativos, massacrando nossos servidores nos âmbitos municipal, estadual e federal. Falamos de valores políticos que, sem sombra de dúvida, virão à tona neste momento. Pelos seus posicionamentos presos ao clamor social. Livres das amarras de ideologias radicais tanto de esquerda como de direita, mais sim à coerência com a vida política.

*Vitor Sapienza é deputado estadual e líder do PPS na Assembléia Legislativa.

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