TEIMOSO PELA VIDA - OPINIÃO

Campos Machado*
28/11/2000 15:52

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Muitos atribuem ao governador Mário Covas a característica de teimoso. Nada mais verdadeiro. Mas Covas não é o teimoso que não redime os equívocos. É o teimoso que luta contra as adversidades para conduzir suas atitudes em benefício da sociedade. Insiste até o fim em pôr em prática seus ideais em prol dos menos favorecidos, nem que para isso tenha que vencer limitações físicas. Por conta de sua teimosia, já venceu o câncer uma vez e vai superar mais uma vez a doença que está deixando o país comovido.

As inúmeras manifestações de solidariedade que recebeu são prova do carinho e do respeito que até os adversários políticos demonstram por ele. A generosidade da população é o reconhecimento do quanto ele faz pelo povo paulista e já fez pelo Brasil no Senado e na Câmara dos Deputados. É o conforto que qualquer homem deseja num momento de tamanha gravidade.

Humilde, Covas fez um balanço de seu governo antes de ser internado para a retirada de um tumor. Disse ter orgulho dos programas sociais de sua administração. Mas o governador sabe no fundo que terá muito tempo para sentir a satisfação de ver em andamento obras dirigidas para quem precisa mais, como o Banco do Povo, a ampliação dos leitos hospitalares, a construção de penitenciárias e a abertura de 7 mil vagas nas escolas públicas.

O Estado precisa de Mário Covas porque sua presença estimula todas as esferas da máquina administrativa. Apesar de ter deixado a Casa em ordem antes de se internar e de ter um vice da lealdade de Geraldo Alckmin, o Estado sentirá sua ausência nos dez dias que ficará longe do cargo para se recuperar.

Contrariado, terá que descansar antes de reassumir suas funções. Esta teimosia que o faz caminhar para a frente. Nunca para trás. Homem de fibra, adiou a operação para cumprir seu papel de líder estadual na eleição do segundo turno e votar em Marta, atitude simbólica contra o malufismo pernóstico.

O país precisa de Mário Covas porque é figura ilibada de âmbito nacional. Uma referência de seriedade e patriotismo que não se via desde Tancredo Neves e Ulisses Guimarães. Seu nome, sempre lembrado para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, continua sendo articulado, apesar dos pessimistas. Covas encarna a imagem do democrata, do estadista que trabalha pelo desenvolvimento econômico-social do país. Indiscutivelmente, o mais preparado hoje para tomar as rédeas da nação no início do próximo milênio. Sem ele, o Brasil corre o risco de cair nas mãos de aventureiros, de políticos radicais e inexperientes.

Se Covas, empertigado, luta contra o câncer, é pensando em contribuir até o último minuto de suas forças para o bem-estar social. Não por vaidade, que não o afeta, fraqueza comum entre os políticos. O olhar do governador não é para o próprio umbigo. Ele dirige seu olhar para o horizonte. Suas preocupações são maiores, coletivas, não particulares, apesar de insistir em ser um cidadão como qualquer outro, livre para andar entre a multidão sem ser intimidado.

Não é à toa que enfrentou com coragem a agressividade de sindicalistas na última greve dos professores estaduais, que tentaram impedi-lo de entrar na secretaria da Educação. Coerente, Covas foi firme com os radicais, porque é intolerante com a intolerância. Como governador do Estado, deu o exemplo à população de que não se pode recuar diante de ameaças. Sua maior qualidade é o amor pela liberdade e pela democracia.

Os verdadeiros companheiros do governador aguardam sua plena recuperação para reconduzir o Estado de São Paulo rumo à prosperidade. E embora pese a gravidade da doença, Covas vai ludibriá-la como tantas outras vezes e surpreender os homens de pouca fé.

*Campos Machado é deputado estadual, líder do PTB na Assembléia Legislativa.

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