A relação de Ida Zami com o mundo é de substância profundamente romântica

Emanuel von Lauenstein Massarani
21/10/2002 19:30

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A obra de Ida Zami não é fácil de ser definida. Parece abstração e ao mesmo tempo não. Um conjunto de forças mantém em tensão a forma e lhe dá um sentido de imediatismo, de espontaneidade, quase uma repercussão do inconsciente e uma forte emergência existencial.

Contrastando com tudo isso, a imagem é formada através de uma longa meditação, um lento depositar da matéria que é aplicada paulatinamente. Em resumo, a artista obtém a essência vital da imagem através de uma construção meditada. Com todos esses contrates ela completa sua obra, onde encontramos a substância de seu trabalho ou melhor dizer, de sua personalidade de pintora.

Suas obras nos lembram muros. Nos seus "muros", o espaço é criado no interior da imagem, onde encontramos uma tentativa de transcrição do tempo, da vida que deixaram sobre o antigo tijolo, a garoa, os ventos, a poluição e o encostar cotidiano do homem.

Na obra "Abstração" - doada por Ida Zami, ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho - encontramos uma emoção, um sentimento de absoluto, uma certa maneira de valorizar moral e poeticamente as camadas de matéria, onde a liberdade ou a anarquia do informal provocam a eliminação do controle da imagem.

Suas emoções provêem, na sua maioria, da paisagem, mas não existe nada menos paisagístico, de menos tradicional do seu modo de olhar e captar a emoção. O muro antigo e esfumaçado de uma casa abandonada, a madeira corroída de uma porta, um fantasma do entardecer são as coisas que a artista parece captar. Nesse diálogo entre a sua presença e o mistério da natureza, a sua relação com o mundo é de substância profundamente romântica.

A Artista

Ida Guttenberg Zamijovsky, ou simplesmente Ida Zami, nasceu em São Paulo, em março de 1940. Formou-se em artes plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e em odontologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Realizou diversos cursos de extensão na área de design têxtil no Senac, em desenho, pintura e criatividade no Atelier Sarah Goldman (1978-1980) e Hedva Megged (1980); ourivesaria, com Guita Lenner (1978); e em liberação da criatividade, com a arteterapeuta Carminha Levy (1981, 1984 e 1987).

Ministra cursos de desenho, pintura e composição, design e joalheria artística, artesanato em metal e ourivesaria, desde 1980, em seu próprio atelier. Ministrou cursos de arte na Fundação Mokiti Okada (1998), no Museu de Arte Contemporânea da USP (1997), no Museu Brasileiro da Escultura (1997) e no Paço das Artes (1988-1992) entre outros.

Participou de diversas exposições coletivas, desde 1980, destacando-se: Salão de Artes de Presidente Prudente - Medalha de Ouro (1981); Salão Nacional de Artes Plásticas Pablo Picasso - Menção Honrosa (1981); X Salão Araraense de Artes Plásticas - Medalha de Prata (1982); Pinacoteca do Estado (1982); Museu de Arte de São Paulo (1984); I Expo Brasil-Israel, Parque Anhembi (1985); I Mostra de Arte Contemporânea Brasileira - Medalha de Ouro - Lisboa, Portugal (1985), Taipei Fine Arts Museum, Taipei, Taiwan (1986); I Expo Portuguesa: Portugueses d´alem-mar e seus parceiros, Lisboa, Portugal (1986); Oficinas Culturais Três Rios (1987); "Escultura ao Alcance de Todos" - Galeria das Artes - São Paulo (1997); Art Now Gallery, Gottenburg, Suécia (1998); Galeria de Arte A Hebraica, São Paulo (1998); Espaço Studio Palazzi, Veneza, Itália (1999); Memorial da América Latina (1999); Fundação Bienal de São Paulo (2001); e "Dez Poéticas" - A Hebraíca (2002).

Participou também de exposições individuais na Galeria de Arte do IBREA, Campinas (1982); na Hebraica, São Paulo (1993); na Galeria Bai, New York, Estados Unidos (1994), entre outras.

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