Élon Brasil defende os indígenas através da arte, com particular intensidade de expressão

Emanuel von Lauenstein Massarani
12/11/2002 14:07

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No contexto das ambientações pictóricas de Élon Brasil, encontramos a expressão de um verdadeiro temperamento de antropólogo, caloroso defensor que é dos povos que habitam nossas terras desde antes do descobrimento, na realidade, os verdadeiros donos da terra de Santa Cruz.

Ao contrário dos viajantes do século XVIII, como Pix, von Martius, Humboldt, Maximilien van der Weid, Rugendas e Debret, que viam em nossos indígenas um ser inferior e tão-somente um elemento de curiosidade, distinguimos nas obras de Élon Brasil um protesto em termos elevados, expresso de modo diferenciado. Uma denúncia social dolente em defesa dos direitos de nossos indígenas, de sua privacidade, de sua escolha em permanecer com o "modus vivendi" original ou evoluindo através de nossos costumes utilizando as tecnologias de nosso tempo.

O pintor não se priva, entretanto, de mesclar o sonho à realidade, a ilusão à verdade, de confundir o material e o imaterial, de pesquisar sob as aparências corporais as faculdades morais, intelectuais e sentimentais que compõem o espírito humano, de descobrir as misteriosas relações que se estabelecem entre os seres e as coisas.

A cor ensolarada de seus personagens, sobretudo a qualidade dos seus rostos, o pintor os faz viver com uma particular intensidade de expressão. São cores fortes, embora sóbrias, algumas colagens aqui e acolá, uma grande densidade de tons e, na sensualidade, algo de pudico. São cores inspiradas pelas pinturas corporais que usam sabiamente os vegetais e as raízes de nossa floresta amazônica.

Expressionista de traço poderoso, de colorido temperado ao vigor de seu desenho, Élon Brasil é possuidor de uma técnica segura, que impõe à natureza a íntegra de um caráter que, ao subjetivar, destaca o mais característico dos seres e das paisagens.

Profundamente humano, suas obras emanam um sentimento repleto de emoção. Assumindo as lições do passado, ele expressa a fermentação de nosso tempo de maneira pacata, mas firme e resolvida. Consegue alcançar a verdadeira grande arte, aquela que toca o coração ao mesmo tempo que nossos olhos.

Serenidade, alegria e angústia são sentimentos que encontramos narrados com maestria em sua obra e de modo especial em Maternidade Kamayurá, doada pelo artista ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho.



Estamos frente a algo insólito e poderoso, quase um testemunho, um documento etnográfico. O seu mundo pictórico reflete com fidelidade seus sentimentos e pensamentos. Contemplando amorosamente a realidade, Élon Brasil a condensa em termos, lineamentos e volumes essenciais, revelando sua alma poética ou, se preferirmos, o significado cósmico de sua pintura.

O Artista

Élon Brasil nasceu em 1957 na cidade de Niterói, Rio de Janeiro. Acostumado a lidar com os pincéis desde a infância, o artista plástico foi buscar sua inspiração na cultura indígena. Seu primeiro contato foi nos anos 80, quando visitou uma tribo Xavante, no Mato Grosso do Sul. A partir daí seu trabalho passou a ser marcado por uma busca frenética de suas raízes.

Decidido a retratar em sua obra não só o índio, mas também a alma e costumes desse povo, Élon conviveu durante dois meses com os Tucanos, no Amazonas. Lá comeu carne de macaco para sobreviver, dormiu em rede, pescou, plantou e colheu. Os registros dessa experiência foram temas dos quadros pintados na última década. No ano passado, durante duas semanas Élon ficou alojado na aldeia de Kalapalo, no alto Xingu. Dessa visita surgiu o documentário sobre a viagem e a sua mais recente série de quadros. Apaixonado pela cultura indígena, durante uma exposição realizada no Canadá aproveitou para conhecer os índios americanos e seus hábitos.

Utilizando a técnica do óleo sobre tela sobre resina, o artista mistura diferentes gramaturas de tecidos que lhe garantem uma textura muito peculiar. Para isso, se utiliza de panos rústicos como os sacos de café, açúcar e até mesmo de condimentos como pimenta-do-reino.

Participou de diversas exposições, no: Banco Central, São Paulo; Museu da Cultura-PUC, São Paulo; Galeria Arcades, Toronto, Canadá; Galeria Goetz, Basiléia, Suíça; Galeria ACBEU, Bahia (1993); Hotel Tropical, Bahia; Galeria Goetz, Basiléia, Suíça; Golf Hotel, Berna, Suíça (1995); Banco SLK, Bruxelas, Bélgica (1996); Museu de Etnologia, Basiléia, Suíça (1997); Centro Holístico de Educação e Vivência, São Paulo; Shopping Neumarkt de Blumenau, Santa Catarina; Espaço Cultural Banespa, São Paulo; Brasil 500 Anos - MASP, São Paulo (1998); e Galeria Caribé, São Paulo (1999).

Possui obras em acervos particulares e oficiais, destacando-se no: Museums der Kulturen Basel, Basiléia (Suíça); Museu da Imagem e do Som - MIS (São Paulo); Museu de Arte de Londrina (Paraná) e Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

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