A FERROVIA EM DEGRADAÇÃO - OPINIÃO

Carlos Zarattini*
03/08/2000 16:42

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O trágico acidente de trens ocorrido na estação de Perus, na região Oeste da capital paulista, onde faleceram nove usuários, mostra o descuido da política de Covas com o sistema de transportes do Estado de São Paulo. Essa política tem como pano de fundo interesses outros que não o mero dever do Estado de fornecer um transporte confortável, barato e público para toda a população.

A questão fundamental é a má preservação do sistema de transporte que está sob a responsabilidade do Estado. Efetua-se uma política de investir em novas obras, mas relega-se a um segundo plano a manutenção do sistema que a cidade e o Estado já possuem. Enquanto isso, os milhões de passageiros que diariamente se utilizam do sistema metroferroviário continuam sendo transportados em péssimas condições, sejam nos trens da CPTM ou mesmo no Metrô, que também sofre com o processo de degradação.

No caso da CPTM, já não é de hoje, há um pouco caso que Covas dedica a todo o sistema, responsável pelo transporte de 800 mil passageiros/dia em 22 municípios da Grande São Paulo, através de 270 quilômetros de vias férreas.

Há um desmonte da empresa. Vários funcionários foram demitidos. Há trabalhadores que ganham mal, efetuam longa jornada de trabalho e operam equipamentos obsoletos e com muitos anos de uso. Não se realizam treinamentos. Certamente, para desviar das verdadeiras causas do acidente, a direção da CPTM vai responsabilizar, quando na verdade, existem problemas administrativos.

Covas tem dito que nunca se investiu tanto na CPTM como em sua gestão. É uma meia verdade. No orçamento deste ano, R$ 808 milhões estavam previstos para ser investidos na CPTM, mais especificamente no chamado Projeto Sul (Osasco-Jurubatuba), cuja estação mais movimentada (a do Largo do Socorro) não receberá mais do que 2 mil passageiros por dia. Trata-se, portanto, de uma obra de prioridade duvidosa, se comparado ao número de usuários que seriam beneficiados se os investimentos fossem realizados na linha Francisco Morato - Paranapiacaba.

Pela Previsão Orçamentária, o restante dos recursos deveriam ser gastos na construção da linha Campo Limpo - Santo Amaro, na chamada Integração Centro (Barra Funda - Roosevelt) e na aquisição, adaptação e renovação do material rodante da CPTM.

O sistema ferroviário paulista está no fim do poço. Sofre grave processo de degradação. Covas pretende privatizá-lo e, para isso, reduz drasticamente os investimentos em manutenção, mas gasta em obras para entregá-las a baixo preço aos grupos privados de transporte.

Diante deste quadro, a bancada do PT na Assembléia Legislativa requereu uma CPI da CPTM para apurar as verdadeiras condições da empresa que transporta passageiros em péssimas condições e que faz uma obra caríssima e não prioritária.

Somente com uma CPI será possível conhecer a verdadeira situação da CPTM, que dá shows de verdadeira incompetência, colocando em risco a vida de milhares de passageiros que necessitam utilizar a linha para o seu transporte diário. Só a CPI poderá mostrar em que situação se encontram os pátios de manutenção, o material rodante e as condições de trabalho dentro da companhia, que foram degradados nos últimos anos.

Carlos Zarattini é deputado estadual do PT/SP e membro da Comissão de Transportes da Assembléia Legislativa de São Paulo

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