A união da experiência pessoal à vida política

Entrevista: Célia Leão
05/03/2004 19:01

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DA REDAÇÃO

Após sofrer um acidente de carro que a deixou paraplégica, a deputada Célia Leão (PSDB), iniciou sua luta para modificar e superar as dificuldades de um destino que todos supunham conhecer. Aos 19 anos, Célia Leão estava determinada a traçar o seu futuro e a "manter as rédeas da sua vida nas próprias mãos".

Quando o número de mulheres na política era ainda mais reduzido, a parlamentar chegou à Câmara Municipal de Campinas, pra depois ocupar uma das 94 cadeiras do Legislativo estadual. "Fui uma das mulheres mais votadas para a Assembléia Legislativa de São Paul, em uma das eleições mais concorridas no país. Em 1996, fui a primeira mulher a disputar, com enormes chances de vitória, a Prefeitura de Campinas. Perdi, mas com a maior votação já obtida por uma mulher na cidade", rememora. "Reeleita para o terceiro mandato na Assembléia, fui a primeira mulher a chegar à presidência da Comissão de Constituição e Justiça". Após presidir a CCJ, Célia Leão ocupou as presidências da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia e também e de Assuntos Internacionais.

Para a deputada, é difícil separar sua vida pessoal da política, mas ela acredita que a força da mulher aumenta a cada dia ou a cada eleição; "mesmo porque provamos, por meio das conquistas dos últimos anos, que desempenhamos com capacidade e eficiência os diversos papéis que nos são atribuídos. Temos tudo para conquistar os nossos objetivos com determinação, persistência e dedicação. O trabalho de base feito pelas fortes pioneiras nas diversas áreas tem se solidificado."

Diário da Assembléia.: Qual sua perspectiva em relação à formação de um grupo de mulheres deputadas?

Deputada Célia Leão.: Um grupo de 10 deputadas estaduais foi recebido no dia 1º pelo governador Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes. Nós parlamentares, oficializamos o convite ao governador para as comemorações do Dia Internacional da Mulher, evento que será realizado no próximo 8/3, às 10 horas, na Assembléia Legislativa. As 10 deputadas assumirão a presidência e cada uma homenageará uma mulher escolhida por elas. Em seguida haverá um show no hall monumental.

D.A.: Em sua opinião, o que pode ser feito para aumentar a representação feminina nas casas legislativas?

C.L.: Precisamos dar fim a tabus e comportamentos inadequados que revelam, em grande medida, atitudes conformistas com a condição imposta à mulher, como a constatação de que mulheres não votam em mulher ou mulheres não estão aptas a exercer determinadas profissões. Nunca se conseguiu uma ação entre deputadas, antes porque havia só duas, depois três... o número era muito pequeno, mas hoje somos 10. Acredito que o trabalho conjunto deve obter bons resultados, independentemente da atuação individual de cada uma das parlamentares.

Apesar de o número de deputadas eleitas para a 15ª legislatura ser 25% superior ao da legislatura anterior, a representatividade feminina no Parlamento paulista ainda é pequena; mesmo após a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que cada partido deve destinar 30% de suas vagas às mulheres. Hoje, apenas 10% das 94 cadeiras da Assembléia Legislativa são ocupadas por mulheres quando, de acordo com o TSE, esse número deveria chegar a 28 vagas. Devemos continuar nossa trajetória com seriedade e competência.

D.A.:- Qual o grau de avanço que o país vem obtendo nos direitos femininos em relação a outros países? Ainda falta muito a ser feito?

C.L.: Tive o prazer de participar do I Encontro de Mulheres Parlamentares dos países de Língua Portuguesa, que aconteceu em junho passado em Brasília. O evento reuniu senadoras, deputadas federais e estaduais do Brasil, de Angola, do Cabo Verde, de Guiné-Bissau, de Moçambique, de Portugal, de São Tomé e Príncipe e do Timor Leste. Discutimos estratégias de integração entre esses países e o intercâmbio de experiências entre as parlamentares. Acredito que a união de países de língua portuguesa é importante para defender interesses comuns e conquistar mais espaço num mundo globalizado e cada vez mais competitivo. Precisamos garantir cada vez mais a presença feminina nos processos de tomada de decisões.No encerramento, foi divulgada a Carta de Brasília, que defende o aumento da participação das mulheres na vida política e a criação de programas de promoção, formação e desenvolvimento das condições femininas.Isso tudo demonstra que, apesar de ainda termos muito a fazer, estamos avançando na direção certa.

D.A.: A condição feminina está ligada à condição sócio-econômica? Em que medida?

C.L.: Infelizmente a condição feminina está diretamente ligada à condição sócio-econômica, que gera as oportunidades e o acesso à educação, à saúde e não apenas em países em desenvolvimento como o nosso. Só a partir do momento que pudermos oferecer melhores condições às nossas mulheres poderemos fortalecê-las e capacitá-las para lutar por seus objetivos, cidadania e dignidade.

alesp