Ao surgir um escândalo ou qualquer informação sobre deslizes cometidos por policiais, a opinião pública é bombardeada por extensas reportagens com denúncias - muitas vezes verdadeiras e outras, nem tanto. Sabe-se que os meios de comunicação existem para fiscalizar toda a sociedade. Portanto, quando um integrante das instituições de segurança pública comete um crime, ele pode e deve ser denunciado publicamente pelos jornais.

Porém, há uma outra face da moeda. No Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, os homens e mulheres que cuidam da segurança pública estão oprimidos por baixos salários. Lamentavelmente, São Paulo, o estado mais rico da nação, paga o penúltimo salário das polícias de todo o país, em uma escala do ruim para o pior. Afinal, há nove anos que os policiais não sabem o que é reajuste salarial. Além disso, os vales-refeição dos agentes da lei não cobrem os gastos de um sanduíche diário.

Qualquer cidadão empregado que não consiga equilibrar o orçamento doméstico apresenta dificuldades no cumprimento de suas tarefas diárias. O mesmo ocorre com um agente da lei. Mesmo assim, são inúmeros os policiais que deram a vida ou ficaram gravemente feridos ao combater a criminalidade, esquecendo dos problemas financeiros no momento da ação. Defendemos um reconhecimento maior a quem pode dar a vida para a nossa proteção.

Entendemos, mas não perdoamos, os policiais mal pagos que não conseguem resistir às tentações do dinheiro fácil oferecido pelos criminosos, bandeando-se para o lado dos bandidos. Neste caso, não há dúvida: as corregedorias das polícias civil e militar, o Ministério Público e nós, deputados, estaremos sempre atentos para expulsar os maus elementos das corporações e enquadrá-los com o rigor da lei.

A sociedade deve pensar no risco que corre ao manter um baixo pagamento para os agentes da lei. Neste caso, pessoas mal pagas acabam empurradas para o abismo, pela cegueira de todos nós, que ficamos indiferentes ao drama dos agentes repressores do crime que acabam seduzidos pelos criminosos. Já passa a hora de todos, que clamam por melhores condições de segurança pública, exercerem a pressão necessária junto ao Governo do Estado para exigir uma melhor remuneração aos nossos policiais.

*Romeu Tuma é delegado de classe especial da Polícia Civil, deputado estadual pelo PPS, presidente da Comissão de Segurança Pública e vice-presidente da Comissão de Economia e Planejamento da Assembléia Legislativa de São Paulo.