ÉTICA DÁ VOTOS - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
05/09/2001 09:58

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Recentemente fui convidado pela subseção da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, da cidade paulista de Descalvado, para participar de um seminário em que o tema central foi a ética. A simples realização do evento já é indicadora de um novo estágio da sociedade brasileira em que padrões de comportamento começam a ser tão importantes quanto os objetivos a serem alcançados.

Ética é palavra originária do grego ethos, que significa caráter. Na história da civilização tem ocorrido um esforço filosófico e prático para definir os princípios morais e o código de ética dos variados grupos sociais. O fato é que esse conceito tem evoluído ao longo da história, redefinindo normas comportamentais e critérios do que é certo e errado nos mais diversos campos da vida social: na família, no comércio, nas empresas, na administração pública, na política, etc.

A evolução da sociedade brasileira está fazendo emergir a discussão sobre a ética, colocando-a em primeiro plano. Na política, por exemplo, já não existe mais espaço para o "rouba mas faz" e não se tem aceito mais a tese de que "os fins justificam os meios".

Isso é resultado de um processo histórico num país que, em sua história recente, afastou um presidente da república e figuras proeminentes do senado federal, estando ainda a prometer novas depurações na política e mesmo em organizações privadas com grande interface pública, como é o caso da Confederação Brasileira de Futebol.

É gratificante constatar que estamos vivendo um verdadeiro passar a limpo nos métodos de comportamento nas áreas pública e privada. Particularmente, orgulho-me de estar sintonizado com o tema há muito tempo, antes mesmo de sua configuração como tendência clara da sociedade brasileira. Isso pode ser constatado em várias ações: na proposta que fiz antes das últimas eleições, na condição de presidente do PPS, pela qual os nossos candidatos a prefeito e vereador tiveram que abrir mão antecipadamente de seus sigilos fiscal e bancário, favorecendo a investigação em caso de qualquer suspeita quanto a eventuais desvios de comportamento; na luta vitoriosa que travei junto com diversos parlamentares, pela extinção da aposentadoria parlamentar, privilégio que sempre contestei; na emenda apresentada logo no início do meu mandato propondo a revisão do instituto da imunidade parlamentar.

Aliás, essa tendência dos brasileiros de valorizar a ética está evidenciada em pesquisa do Instituto Vox Populi, cujos resultados apresentei no Seminário de Descalvado, causando grande repercussão. A pesquisa constatou que para o povo é ético quem:

· não utiliza recurso público para uso próprio;

· cumpre a palavra empenhada e realiza os compromissos assumidos na campanha;

· não dissimula, não mente e não ilude para conseguir a adesão de seu eleitor.

Mais do que isso, a pesquisa detectou que cada vez mais essas questões são decisivas para a definição do voto. Trata-se de uma notícia digna de ser comemorada. Afinal, apesar de todas as deturpações do nosso processo eleitoral e de toda a pressão econômica que infelizmente ainda persiste, constatamos que a população está sensibilizada e que ser ético, além do conforto pessoal, dá votos!

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil, deputado estadual e presidente estadual do PPS. Foi Secretário da Habitação (1993) e relator geral do Fórum SP Séc. XXI.

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