Parlamentares e especialistas debatem combate à violência nas escolas

Das 496 escolas que responderam questionário enviado pela Udemo, 52% registraram depredações
26/09/2001 19:31

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DA REDAÇÃO (com fotos)

"A escola, em vez de local de formação, tornou-se um campo de guerra, o que afeta também o ensino e o professor, que se sente inseguro no local de trabalho." Com esse resumo da situação da violência nos estabelecimentos de ensino, a deputada Rosmary Corrêa (PMDB), presidente da Comissão de Segurança Pública, abriu os trabalhos da audiência pública que discutiu o tema nesta quarta-feira, 26/9, na Assembléia Legislativa.

A audiência, proposta pelo deputado Vanderlei Siraque (PT), membro da comissão, contou com a participação de pesquisadores e especialistas ligados à área. "A escola deixou de ser uma referência para a comunidade", lamentou Siraque. "E para a diminuição da violência é preciso haver maior participação da comunidade."

Para traduzir a violência escolar em números, o Sindicato dos Especialistas em Educação do Magistério Oficial (Udemo) realiza desde 1995 uma pesquisa anual sobre o tema. Em 2000, das 496 escolas que responderam o questionário enviado pela Udemo, 52% registraram depredações, 48% apontaram tráfico de drogas nas imediações e 24% apontaram consumo dentro dos prédios escolares.

"Em relação ao ano anterior, 44% das escolas reportaram aumento da violência", afirmou Roberto Augusto Torres Lemos, presidente da Udemo. Para ele, no centro do problema estão o consumismo, as mudanças na família e a desestruturação do núcleo familiar, "tudo isso contribuindo para gerar indisciplina, que é o início da violência".

O papel da família e da comunidade também foram abordados pelo diretor do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), Marco Antônio Ribeiro de Campos. Ele disse que para o sucesso do trabalho da Divisão de Inteligência e Apoio, criada em 1997 - a prisão de cerca de 1,6 mil traficantes nas imediações das escolas - foi fundamental o apoio da sociedade. "Mas é preciso lembrar que, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas, apenas 20% dos casos de violência nas escolas têm vínculos com o tráfico", lembrou. Ribeiro propõe a formação de um núcleo multidisciplinar, que incluiria universidades, Ministério Público e secretarias de Estado, entre outros, para atendimento ao usuário de drogas, inclusive no cumprimento de penas alternativas.

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Eduardo Brito, a violência dentro da escola é resultado da incapacidade de resolução de conflitos. "A solução é fomentar o diálogo dentro da escola, criando conselhos escolares com participação ampla, que incluiria pessoas que são potenciais mediadores de conflitos", disse. Para isso, afirmou, devem ser realizados, nos estabelecimentos de ensino, fóruns patrocinados pelo Estado.

Para Maria Antônia Vedovato, do Sindicato dos Supervisores de Ensino do Estado (Apase), as mudanças devem ser físicas - com escolas menores, abrigando no máximo 30 salas de aula e inseridas num centro de convivência comunal - e éticas, "com a implantação de um currículo onde o valor da vida não pode estar ausente".

"Professores e comunidade estão sozinhos nesse debate", lamentou a diretora da Associação dos Profissionais de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Rita de Cássia Cardoso. A maioria dos participantes da mesa de debates concordou com as críticas da deputada Rosmary Corrêa à ausência de representantes da Secretaria da Educação.

alesp