Edival Ramosa: um equilíbrio harmonioso de ritmos, cores e formas

EMANUEL VON LAUENSTEIN MASSARANI
28/11/2002 18:00

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A personalidade de Edival Ramosa, tanto como pintor quanto escultor, ultrapassa o construtivismo. Menos teórico que muitos de seus conterrâneos é, desde o início de sua carreira em 1963, receptivo a um novo conceito de realidade onde encontrou seu caminho pessoal.

A base de seu poder criativo é de uma profundidade emotivamente sentida, uma assimilação mística e devota do espaço, onde a luz e a cor têm um papel de grande importância.

Suas obras irradiam uma grande energia, misteriosa e sóbria. Suas formas, que muitas vezes tendem ao relevo mais do que à massa tridimensional, dão a impressão de servir à realização de uma experiência essencial do espaço mais introvertida do que extrovertida.

Edival Ramosa permanece dentro de seus ícones: existem neles as suas ânsias de homem das artes e, por conseqüência, perenemente insatisfeito. Nele encontramos, juntamente com a sua "fome" de equilíbrio, toda a profunda inteligência do humano, dos entrelaçamentos de gestos e de eventos que representam o nosso estar no mundo.

O artista se observa e nos observa viver, sintetiza através de seus traços, as suas e as nossas ânsias, as insatisfações, as dúvidas e as quedas. Não se trata de psicologismo, existe nele uma consciência perfeitamente esclarecida da dialética do viver, das contradições existentes no íntimo de cada ser humano. Somente o real, de fato, representado nas obras de figuras geométricas, permanece imutável, fixo na sua dimensão eterna.

São formas e cores numa continua variação de ritmos, recuperando sobre a tela certos efeitos brilhantemente sustentados através das graduações assumidas pelas cores acrílicas pulverizadas sobre uma camada de areia.

Em "Mandala 2001", oferecida ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, suas formas poéticas são solucionadas com um sentido musical que confere à imagem um equilíbrio harmonioso. Trata-se de um pintar, unido a uma precisa correspondência criativa.

O Artista

Edival Ramosa nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro em 1940, estudou no Seminário Diocesano São José de Niterói e no Colégio Estadual de São Gonçalo. Em 1961, fez parte do Corpo Expedicionário de Paz das Nações Unidas em Suez.

Ao visitar, em 1962, as pirâmides no Egito teve início sua inspiração artística. Voltou ao Brasil, em 1963, e no ano seguinte foi para Itália, onde passou a residir em Milão.

Recebeu de Arnaldo Pomodoro o 1º Prêmio de Escultura. Durante dez anos permaneceu na Itália trabalhando no "atelier" dos irmãos Pomodoro, Jo e Arnaldo. Estagiou, ainda, no "atelier" de Lúcio Fontana. Nesse período expôs na Suíça, Grã-Bretanha, Bélgica e Iugoslávia.

A convite da embaixadora Margarida Guedes Nogueira, expôs em Sidney, Melbourne e Camberra (Austrália). Regressou ao Brasil em 1974, fixando residência em Cabo Frio, Rio de Janeiro.

Fez uma expedição que durou um ano e meio nas aldeias indígenas de Roraima. Em seguida, realizou uma exposição individual no Museu de Salvador. Durante dois anos fixou seu "atelier" na Ilha de Itaparica. A partir de 1981, transferiu-se para Ribeirão Preto, onde permaneceu durante seis anos produzindo esculturas e pinturas, tendo decorado ainda várias residências da região.

Desde 1987, até nossos dias vive em Picinguaba, uma aldeia de pescadores em território paulista. Nesses últimos anos realizou exposições individuais em Brasília, Rio de Janeiro, Universidade de Cuiabá e em São Paulo, no Espaço Cultural Chap Chap e na Galeria Skultura.

A convite das autoridades americanas, participou de várias exposições itinerantes pelos Estados Unidos, organizadas pelo Museu Afro-Americano de Los Angeles.

alesp