Bagdá é aqui?

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
12/11/2003 17:06

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No Estado de São Paulo, enfrentamos uma situação que faz lembrar a guerra do Iraque. Trata-se de uma guerra em que os bandidos assumiram o comando das ações. Bagdá é aqui? Os distúrbios provocados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) entraram na segunda semana e mostram estilo que não ocorre nem em Bagdá: os ataques contra casas de soldados, veículos, postos e prédios das polícias Civil e Militar fazem novas vítimas e multiplicam a intranqüilidade da população. Enquanto isso, algumas autoridades preferem entrar com a tática da desinformação, anunciando vitórias que estão longe de acontecer. O inimigo continua vivo e forte. Perigoso e covarde.

Não é a primeira vez que o Governo do Estado erra a respeito do PCC. Desde o surgimento dessa facção criminosa, em 1997, as autoridades estão subestimando a capacidade de ataque dos bandidos do PCC. No início de novembro, após os primeiros atentados, o secretário da Segurança Pública apressou-se em dizer que aquelas ações foram "o último suspiro do PCC". Ele também anunciou que mais de dez suspeitos haviam sido detidos. No entanto, não só os ataques prosseguiram como também se ampliaram, atingindo vários municípios da região metropolitana de São Paulo, do Litoral e do Interior. E mais: o mesmo secretário havia afirmado que as autoridades sabiam de um "zum-zum-zum" do PCC nas cadeias. Se sabiam... Por que não agiram? Como não conseguiram evitar os ataques? Se tivessem se antecipado, teriam salvado vidas...

Já o secretário da Administração Penitenciária, por sua vez, disse que só mesmo um mágico poderia enfrentar, de igual para igual, essa poderosa quadrilha que se apossou dos presídios paulistas e passou a ameaçar as polícias. Uma blitz da Polícia Militar apreendeu 130 telefones celulares entre os presos. Onde estava a vigilância para evitar que esses celulares chegassem às mãos dos detentos? Não foi suficiente a mega-rebelião de 18 de fevereiro de 2001, determinada por líderes do PCC em 29 cadeias do Estado por meio de contatos via celular? Será que continuamos na estaca zero?

A fuga em massa ocorrida na Penitenciária do Carandiru, no domingo, 9 de novembro, uma semana após o início dos atentados do PCC, não aconteceu por acaso. O Governo negou ligação entre esse fato e os ataques criminosos anteriores, mas é claro que existe uma relação. Por meio de um túnel, 87 presos escaparam da Penitenciária. Logo depois, mais de 40 deles foram recapturados. Oito dos que tentaram fugir acabaram morrendo soterrados. O fato é que ficou exporta a fragilidade das autoridades. Nesse verdadeiro jogo, o Governo saiu perdendo, tentou reagir com a construção de presídios de segurança máxima e com o isolamento de alguns líderes do PCC, mas agora permite que o inimigo dê as cartas. As polícias ficaram desmoralizadas. Cabe agora ao governador Geraldo Alckmin mandar agir com todo o rigor contra os criminosos do PCC e puxar as orelhas dos secretários e os chefes das polícias Civil e Militar que não dão conta do recado.

Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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