Opinião: Governo dos efeitos especiais

*Vaz de Lima
23/03/2004 15:14

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Lênin, depois de sofrer um derrame, era mantido em uma casa de campo nas proximidades de Moscou. Apesar da doença desejava manter-se informado do que ocorria pelo país naqueles críticos primeiros anos da Revolução Bolchevique e pedia os jornais. Para evitar que isto ocorresse, Stalin mandava imprimir uma edição especial de um jornal no qual só havia boas notícias. Também Salazar, o longevo ditador português, no final de sua vida, era mantido a distância e (mal) informado por um jornal editado especialmente para ele.

Mais audacioso, o PT manifesta sua intenção de produzir, através da publicidade, uma "agenda positiva" que só existe no mundo irreal do marketing. Mais audacioso porque sua intenção não é iludir uma ou outra pessoa, mas todo o país. Assim alguns de seus mais noticiados e comentados programas sociais são pouco mais do que isto, névoa de efeitos especiais velando os olhos do público.

O governo e os petistas não se cansam de repetir que o Fome Zero, que ninguém viu, está presente em mais de mil municípios. Examine-se a fundo este dado e se descobrirá que na maior parte destes municípios ele atende menos de 10 famílias, e, em cerca de 30% ele atende a apenas uma família. Ou seja, esta feliz família só está lá para que se infle o número de municípios beneficiados, pura ilusão de ótica digna dos estúdios de Hollywod.

Mas um outro caso, que agora se descobre mera fachada, chama a atenção pela gravidade e desperdício de recursos públicos: o Primeiro Emprego. Depois de se gastar alguns milhões em propaganda, outros tantos no pagamento dos salários para os cargos de confiança que gerem o programa, um terceiro tanto para pagamento de viagens de comitivas "técnicas" para participar de debates e promover o programa, chega-se a um balanço dos resultados: um único brasileiro contratado pelo programa.

O Primeiro Emprego foi apontado pelos petistas de todo o país como um projeto revolucionário cujo alcance iria muito além da ação social. Iria produzir crescimento econômico, fortalecer a educação e até mesmo cortar para menos da metade as estatísticas da violência, enfrentando na raiz as razões da falta de segurança. Feitas as contas qualquer outra coisa na qual houvesse sido gasto o recurso do programa seria melhor e produziria mais retorno para a sociedade.

Certamente este foi o emprego mais caro da história. Fosse multiplicado o custo deste solitário beneficiário de um dos programas mais badalados pelo governo pela quantidade de empregos que Lula prometeu gerar com o programa e todo o orçamento da União não seria suficiente.

Gastou-se mais para empregar esta única pessoa, em especial com propaganda, do que o governo do estado de São Paulo investiu para gerar algumas dezenas de milhares de vagas. A despeito disto o governo federal se demonstra incapaz de fazer uma autocrítica assumindo que está no caminho errado e a assumir o fiasco.

Uma das lições que Lula deveria ter aprendido com este malogro colossal é que não se gera empregos com papo-furado, nem com discursos, nem com investimentos maciços em propaganda. O governo não transpareceu confiança aos agentes econômicos na divulgação do programa, todo ele cheio de brechas legais e estruturais que o marketing não pode ocultar de um olhar mais atento.

Um discurso presidencial pode eliminar de um momento para outro alguns milhares de postos de trabalho, quando não se reflete sobre o que se está falando. Mas um discurso não é capaz de gerar um único posto de trabalho, porque ninguém decide investir com base em palavras às quais nem mesmo quem as pronuncia parece dar muita importância.

Mas todos sabem qual será a solução do governo federal para este vexame de um de seus principais programas. Mais propaganda, mais viagens, mais seminários para discutir o que deu errado, mais cargos de confiança destinados aos quadros petistas, mais discursos presidenciais. Talvez se consiga que neste ano se empregue umas 4 ou 5 pessoas e então a máquina de propaganda petista anunciará em alto e bom som que houve um aumento de 400% no número de contratados.

*Vaz de Lima é líder da bancada do PSDB na Assembléia Legislativa e presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Reforma Tributária do legislativo paulista.

alesp