OPINIÃO: O PT é outra história

Vaz de Lima*
16/03/2004 14:55

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A cada momento se torna mais rica de sentidos a expressão que o PT utilizou em inúmeras campanhas eleitorais: "O PT é outra história". Tudo o que está ocorrendo no país já poderia ter sido deduzido deste slogan, talvez porque, ao menos inconscientemente, os seus autores já haviam identificado as possíveis interpretações.

O primeiro sentido que o slogan ganhou foi o de que, no poder, o PT era muito diferente do que na oposição. Todas as promessas de soluções fáceis para os problemas do país, repetidas em todos os palanques pelo PT, jamais apareceram depois que o PT chegou ao poder. Pelo contrário, o PT impôs ao país uma das mais graves recessões da sua história.

Um segundo sentido da expressão também tem a ver com a mudança na forma de ver as coisas que o PT ganhou depois de chegar ao Palácio do Planalto. Mesmo mantendo o discurso que corteja os excluídos, o governo gastou mais com luxo - intermináveis viagens de resultados invisíveis, mordomias inexplicáveis nos palácios, inflação de cargos para distribuir à militância e "adquirir a lealdade dos aliados", polpudas verbas publicitárias - do que com investimentos sociais e infra-estrutura.

O PT criticava os impostos altos, mas engordou de forma significativa a carga tributária sobre o lombo dos contribuintes. O PT condenava as viagens de Fernando Henrique, mas viajou com comitivas cujo tamanho era inversamente proporcional aos resultados. O PT apontava o baixo valor dos investimentos sociais, mas os cortou sem dó nem piedade, mesmo ao custo de ter destruído programas importantes quanto o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Todos estes demonstram que o PT, quando está no poder, é outra história.

Os diversos casos suspeitos, a começar pelo Escândalo Waldomiro Diniz e chegando até o tráfico de influência de José Dirceu, mostraram ao país um outro sentido dado ao slogan. O sentido de que o PT defende que os adversários sejam submetidos a tribunais inquisitoriais por conta do mais leve boato, já para os integrantes do PT é outra história, ou seja, todos são inocentes até mesmo quando há provas evidentes de sua culpa.

O conceito de ética, moralidade, honestidade, do PT mostrou-se flexível para com seus próprios quadros e, em menor escala, com seus aliados. José Dirceu, quando deputado estadual, notabilizou-se por fazer denúncias contra Orestes Quércia, autor segundo ele, de inúmeras "maracutaias". Bastou aliar-se ao PT para que de vilão fosse beatificado pelo PT, sob a alegação de que nada havia ficado provado contra ele. Ora, ou José Dirceu foi leviano acusando Quércia de "maracutaias" que não existiram, ou o PT mudou seu critério do que é uma "maracutaia"? Provavelmente a contratação de Waldomiro Diniz para função de destaque no gabinete de Dirceu contribui muito para responder esta questão.

Na oposição o PT exige e defende com ardor CPIs para qualquer rumor. No poder é outra história, manobra descaradamente para engavetar as denúncias evidentes e inquestionáveis, demonstrando abertamente que teme o final que estas investigações poderiam ter caso fossem levadas adiante às investigações. Em alguns casos, como o de tráfico de influência envolvendo José Dirceu e seu filho, o PT chega a se escorar em um argumento frágil, que jamais aceitaria de um adversário, o de que nada de ilegal foi feito, demonstrando que a moral e a ética não são mais parâmetros que o partido leva em conta antes de fazer algo.

O PT não é só outra história, depois que chega ao poder, é também outra conduta, outros valores éticos e morais. A dúvida é se conseguirão explicar estas mudanças ao eleitores neste ano ou, como já transparece ser a estratégia petista, fingirão que a realidade não existe e continuarão com um discurso oposicionista.

*Vaz de Lima é líder da bancada do PSDB na Assembléia Legislativa e presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Reforma Tributária do Legislativo paulista.

alesp