DIABETES, PROBLEMA SÉRIO - OPINIÃO

Newton Brandão *
09/11/2000 19:28

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O governo e a sociedade estão cada vez mais empenhados em campanhas de combate às drogas e a outros males, mas se esquecem de atuar com a mesma desenvoltura contra uma doença que é a quarta principal causa básica de morte no Brasil e que atinge a todos, adultos e crianças, ricos e pobres: o diabetes. Essa doença vem assumindo proporções preocupantes - tanto em função do aumento de número de pacientes, como pela freqüência das complicações graves que pode ocasionar - sem que haja vontade dos governantes para resolvero problema de forma eficaz.

Para agravar a situação, falta informação sobre a doença e suas conseqüências. Faltam também conscientização do diabetes em saúde pública, qualificação adequada aos profissionais da área, recursos e medicamentos. Mesmo nas regiões mais desenvolvidas, o atendimento nas unidades básicas de saúde e nos ambulatórios dos hospitais, inclusive em centros universitários, tende a ser precário e o grau de controle da doença é inadequado.

Estima-se que existam cerca de 5 milhões de diabéticos no Brasil e que, para cada diabético conhecido, existe um que ignora a sua doença. E se não receber assistência médica adequada, o diagnóstico de diabetes provavelmente só será feito quando a pessoa apresentar sinais evidentes de algum estágio avançado.

Dados do Centro Internacional de Diabetes de Minneapolis (EUA) revelam que, do ponto de vista da economia de saúde, cada dólar investido em atividades preventivas de educação e controle metabólico do paciente diabético resultará numa economia de seis dólares nos gastos gerais com atendimento curativo na rede pública de saúde.

Esse é mais um motivo, portanto, para que os governantes olhem com mais atenção e carinho para aquela parte da população desprovida de condições finanças que sofre com essa doença traiçoeira. Traiçoeira porque pode evoluir sem sintomas e, de maneira silenciosa, é capaz de causar graves complicações.

Do ponto de vista médico-social, fica plenamente justificada a prioridade que a boa assistência ao paciente deve ter na definição das políticas públicas. Por essas razões é que, por meio de indicação ao governador Mário Covas, estou propondo que o Estado adote medidas para o fornecimento gratuito de medicamentos, seringas e demais materiais necessários para o controle do diabetes à Associação Nacional de Assistência ao Diabético, uma entidade beneficente, sem fins lucrativos. Esse material seria distribuído aos pacientes acometidos de tal enfermidade, sem recursos financeiros para seguir o tratamento. Isso porque, é forçoso admitir, o tratamento para diabetes é longo e oneroso, deixando muitos pacientes sem acesso aos medicamentos e materiais descartáveis prescritos.

Acredito que, se o governo do Estado acatar essa indicação, muitas vidas poderão ser salvas e centenas de milhares de pessoas estarão livres das tristes conseqüências das complicações crônicas e agudas dessa doença, como a cegueira e a amputação nos membros inferiores.

Além disso, deve-se considerar que o acesso à saúde pública é um direito constitucional. Mais do que mera formalidade do cumprimento de um dever do Estado, as ações destinadas a esse setor revelam o bom caráter e as melhores intenções do administrativo público.

Um povo doente, sem direito a tratamento de saúde, não seria senão um povo fadado à própria desgraça. Desgraça essa que consistiria na ausência de um comprometimento social de grande amplitude com a saúde da coletividade.

*Newton Brandão é médico, ex-prefeito de Santo André e deputado estadual pelo PTB.

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