O MARKETING DE UM MINISTRO TRAPALHÃO - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
02/02/2001 16:39

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O ministro da Justiça, José Gregori, na tentativa de atenuar sua imagem de ministro trapalhão, resolveu invadir áreas que não têm nada a ver com seu campo de atuação. A ambição de fazer marketing levou Gregori a convocar uma reunião de dirigentes esportivos e de parlamentares das CPIs do Futebol no Senado e na Câmara, em seu gabinete, em Brasília, logo no início de janeiro.

Uma vez que o Congresso estaria em recesso até o dia 29, a presença da mídia naquele encontro estaria garantida. O pretexto de Gregori era "discutir fórmulas para garantir segurança nos estádios", depois do grave acidente ocorrido em 30 de dezembro, no segundo jogo das finais da Copa João Havelange, entre Vasco e São Caetano, no Estádio de São Januário, no Rio. As tais "soluções" eram óbvias e têm sido discutidas no Brasil há décadas: a numeração de todos os assentos em todos os estádios e o fim da chamada "geral", em que torcedores ficam de pé, muito perto do alambrado. Europa e Estados Unidos agem assim há um século.

Não precisava o ministro trapalhão entrar nessa questão, com ares de sábio. Devia deixar o tema para dirigentes e para o ministro de Esportes e Turismo, Carlos Melles. Caberia ao ministro da Justiça cuidar de vários outros assuntos.

O marketing faz-se necessário para um ministro que comete tantos erros e não consegue apresentar soluções, a ponto de o poderoso presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães, ter pedido a cabeça dele ao presidente Fernando Henrique Cardoso já no ano passado. As trapalhadas prosseguiram e culminaram com um acordo do governo com o juiz Nicolau dos Santos Neto pela rendição, em dezembro.

Por mais que o próprio Gregori negue a existência desse acordo, fica difícil explicar por que o homem mais procurado pela polícia brasileira nos últimos anos chegou à sede da Polícia Federal de São Paulo sem algemas e sem ser mostrado aos jornalistas. Além disso, Nicolau passou a gozar de benefícios num outro prédio da Polícia Federal, no bairro de Higienópolis, local escolhido pelas autoridades para servir de cadeia provisória. Uma cadeia de luxo, sem dúvida: com direito a comida de primeira classe e outras mordomias. Isso para um homem acusado de ter desviado quase R$ 200 milhões dos cofres públicos na construção do Fórum Trabalhista de São Paulo.

Convém recordar que, antes mesmo de tornar-se o quinto ministro da Justiça dos seis anos de gestão do presidente Fernando Henrique, José Gregori já havia fracassado no famoso episódio de tentativa de enquadramento das emissoras de TV a um código de ética que viesse a acabar com o abuso das cenas de sexo e de violência em horários de fácil acesso para crianças.

Na época, Gregori era secretário nacional de Direitos Humanos. Garantiu os apenas direitos dos donos de emissoras. Os abusos continuaram. Mais tarde, já como ministro, ele anunciou a classificação dos programas por horários e faixas etárias, mas sem qualquer eficácia.

Entre as "pérolas" do ministro Gregori também apareceu a proposta de reduzir a pena máxima de crimes hediondos, de 30 anos para 20 anos. A mídia criticou, ele recuou. Vamos ver por quanto tempo mais esse ministro consegue ficar no cargo, uma vez que o presidente Fernando Henrique admite fazer uma reforma ministerial.

alesp