OS REIS MAGOS DA SOLIDARIEDADE - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
20/12/2000 17:57

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O período natalino nos deixa mais sensíveis e reflexivos. Natal é nascimento de uma nova vida, carregada de esperança. É tempo de voltarmos os nossos olhos para nós mesmos e para os nossos semelhantes, com o objetivo de verificar o que de bom temos feito e o que poderemos fazer para melhorar a nossa vida em comunidade.

Trata-se de uma época do ano, em que as injustiças sociais ficam bem mais evidentes e aí o peito aperta, o coração fica pequeno e não raras vezes tomamos a iniciativa de colaborar de um jeito ou de outro para aplacar nossa consciência.

Nada contra essa vontade de ajudar. É salutar que sejamos ungidos pelo sentimento de solidariedade e que a gente encontre tempo para pensar naqueles que vivem no mundo da exclusão, sem teto, emprego, renda ou perspectiva. No entanto, que tal congelarmos esse momento solidário, inseminando-o nos outros dias para reproduzir solidariedade o ano inteiro?

São tantas as instituições sérias que já fazem isso de forma constante e consistente. Vale a pena nos juntarmos a elas, mesmo sabendo que estão substituindo, em parte, funções que deveriam ser do Estado. Sabemos que infelizmente elas não são executadas graças à falência econômica do Estado brasileiro, mas, principalmente, em razão da predominância da visão de que a questão social só será resolvida quando o país retomar seu crescimento e o Estado readquirir sua capacidade de investimento. É uma visão que considera que a questão social será naturalmente resolvida quando o quadro econômico do país melhorar.

Evidentemente não compactuamos com isso. Em nossa opinião não existe crescimento econômico sem a diminuição das desigualdades e por isso não abrimos mão da função social do Estado. Isso, porém, não nos impede de saudar e estimular as iniciativas solidárias de pessoas e instituições que montam creches, distribuem alimentos e brinquedos, financiam escolas, lutam contra o analfabetismo, ensinam novas profissões etc. São os reis magos do dia a dia, verdadeiros cruzados da ética, cidadania e da solidariedade, que merecem uma menção e um carinho especial de todos nós. Mais que isso, merecem ser seguidos, imitados, acompanhados, pois essas iniciativas, mesmo que sejam gotas no oceano, são gotas a menos como dizia Madre Tereza de Calcutá.

Isso não nos impede, entretanto, de continuarmos a batalha por um novo modelo de desenvolvimento, cujo parâmetro básico seja a condição de vida do ser humano, incluindo saúde, moradia, educação, emprego e renda digna. O grande sonho se alimenta de pequenos sonhos que se realizam e quem renuncia aos pequenos sonhos realizáveis mata de inanição, o seu ideal.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual pelo PPS e relator-geral do Fórum São Paulo Século XXI.

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